Viajei: SOCORRO — Brasília-DF 2024: Voo de ida e volta

Chegou a hora de fazer aqui no site o relato do meu voo de ida e volta Salvador–Brasília. Quem me segue no Instagram do rivotravel (e até mesmo no Tiktok) acompanhou já alguns momentos dessa empreitada cheia de altos e baixos. A seguir conto tudo.

 
 

dias antes

Para minha infelicidade, menos de uma semana antes de meu voo para Brasília por conta da formatura de uma sobrinha, um avião da Voepass, empresa parceira da Latam, caiu em São Paulo. Nada pior para um panicado, não é mesmo? Uma outra vez voei dias depois do acidente da Chapecoense, e era um voo enorme, com conexões, entre Roma e Salvador. Pois bem, dessa vez passei os dias que antecederam minha viagem para capital federal ignorando completamente sites de notícias, para não saber nada sobre o caso da Voepass. Inclusive tive de driblar amigos que me mandavam insistentemente links de matérias sobre o tema (não os culpo, muitos seguidores do rivotravel enviam link assim, talvez em uma tentativa vã de dividir o medo). Muitos panicados têm amor por programas de acidentes aéreos, até já escrevi matéria sobre isso aqui no site. Mas assistir àquele triste vídeo da aeronave despencando do céu era demais pro meu juízo.

Nos dias antes de meu voo de ida, tomei de precaução os remedinhos para a ansiedade. Tive pesadelos. Acordava com dores de cabeça. Mas quando fui tomar banho para ir ao aeroporto, consegui ficar dez minutos sem pensar em acidente! Temos aí um recorde?

No carro, indo ao fatídico encontro com o check-in, Rafa fala umas bobagens engraçadas e e eu caio na risada. Rir é bom, né? Ainda mais nessa situação. Inclusive já escrevi aqui no site uma matéria contando como o humor pode ajudar quem sofre com medo de voar, para ler é só clicar aqui. Minha mãe também se divertiu no trajeto para o aeroporto — inclusive é ela quem aparece na foto de capa desse relato de voo, andando logo atrás de mim. Viajar com pessoas idosas é sempre um pequeno (ou grande) desafio. Já escrevi um texto aqui sobre isso, e manter um clima leve é fundamental. Inclusive quero fazer uma continuação da matéria, já tenho algumas ideias anotadas sobre o que aprendi ao viajar com minha mãe.

Mas vamos retomar o assunto anterior.

Indo para brasília

Entro no terminal de passageiros de Salvador e com quem dou de cara? Com ele mesmo: o estande da Voepass. Vazio, talvez por motivos óbvios. Mau presságio? Prefiro não pensar. Estou viajando com minha mãe, que tem mobilidade reduzida. Então tenho de empurrar a cadeira de rodas dela, duas mochilas, as malas de mão, a bolsa e os casacos. Peripécias. Tudo isso com remedinhos na cabeça.

Penso na dica que uma psicóloga me ensinou recentemente, sobre falar coisas que nos afligem com uma voz engraçada, como a do Pato Donald (para entender melhor como funciona, clica aqui para ler a matéria).

Antes de entrar na aeronave, fico olhando as pessoas que também vão viajar comigo. Fico pensando: será que teremos todos e todas o mesmo trágico fim? Meu Deus, por que penso nisso?

Já no avião, completamente jogado na poltrona, espero com ânsia a decolagem. É o momento mais tenso para mim. Quando o comandante acelera o avião e dá aquela força total nas turbinas nos fazendo ficar presos ao assento, começo a falar com a tal voz cômica. “Meu Deus, tô com medo”. E deu certo! Aliviou a tensão. Vou usar sempre.

No meio do voo, já mais relaxado, vou lá pro fundão conversar com as aeromoças, em um momento de calmaria, sem serviço de bordo. Adoro! Fico bem mais tranquilo, até esqueço por uns instantes que sofro de aerofobia.

O avião chegou bem. Claro que chegou, caso contrário não estaria escrevendo isso aqui. A curta temporada em Brasília com minha família foi ótima. Cinco dias somente, porém muito bem vividos. Só que como tudo que vai, volta (na maioria das vezes), logo se aproximou o momento de encarar meu próximo voo.

Antes da volta, escrevo uma mensagem para um amigo. Nela, cito a frase “últimas horas em Brasília”. Últimas horas? Como assim? Últimas horas, nada! Parece até que… Olha, melhor deixar pra lá.

Para distrair a mente, resolvo ver alguns stories no Instagram. Acompanho o perfil do Flyzila, um comissário brasileiro que acho divertido. Pois não é que ele estava falando de um tufão no Japão? Melhor pular para os stories seguintes. Como diz aquela frase: “O bater de asas de uma borboleta no Japão pode provocar um furacão no México”. Vai que o efeito é mais ao sul.

VOLTANDO PARA SALVADOR

A saída do apartamento que alugamos pelo Airbnb foi puro suco de caos. Eu tinha combinado com o proprietário que ficaríamos até 18h, pois nosso voo seria somente às 21h. E ele concordou. Aí no último dia ele manda uma mensagem pedindo desculpas, que se esqueceu desse nosso acerto, e que teríamos que desocupar logo o local. Como é o único apartamento de aluguel de curta temporada na quadra de minha sobrinha — e provavelmente teremos de voltar mais algumas vezes —, não quis procurar confusão. Mas é claro que meu nível de ansiedade subiu para milhões.

Horas mais tarde, chegando no aeroporto da capital, qual a primeira coisa que vejo? Uma placa indicando para o embarque na Voepass, assim como na viagem de ida. É perseguição?

A coisa só melhorou quando minha mãe conseguiu acesso a uma das quatro salas vips de Brasília, por conta do cartão de crédito que usa. Uma poltrona macia é sempre uma poltrona macia para relaxar, não é mesmo? Errado. Pessoas falando alto, conversando aos berros, gritando ao celular, vendo vídeos sem fone de ouvido, esparramadas noa assentos com as pernas esticadas e atrapalhando a circulação dos demais, entre outras coisas que fariam professoras de etiqueta arrancar os cabelos (inclusive já leram minha matéria sobre bons modos em viagens?). Fico ansioso, caos me deixa estressado. Fico só pensando na terrível frase elitista: “aeroporto virou rodoviária”, provavelmente dita por essas mesmas pessoas que estavam transformando aquele espaço dito “de rico” em uma barulheira insuportável. Não reclamo com elas pois isso me deixaria mais nervoso ainda. Tento desviar a atenção. Olho minha mochila estufada e penso: por que viajamos com tantas coisas? Muitas delas nem cheguei a usar na viagem. Até bateu uma vontade de completar aquele cenário caótico, abrir o zíper e sair jogando para os ares tudo que foi desnecessário. Uma performance em pleno aeroporto.

 

Esperando o embarque imerso no caos

 

E o caos seguiu. O embarque foi tenso, como sempre. Furaram fila, não respeitaram o fato de minha mãe estar numa cadeira de rodas e se jogaram todos na frente. Como um desbravador, tive de ir abrindo caminho. Ah, como queria ter um facão naquela hora (calma, gente, só para cutucar as costas de quem estava na frente, nada de massacre pois fazer jorrar sangue estressa). E teve a cereja do bolo: liberaram o acesso de parte dos passageiros ao finger (aquele corredor sanfonado) sem antes a tripulação embarcar! Amadorismo, não? Por fim, dão permissão para embarque.

Já sentado em minha boa poltrona na primeira fila, percebo todo o caos no embarque. Pessoas com volumes grandes demais para o bagageiro e se esbarrando toda hora em mim (também, com aqueles corredores minúsculos…). Passageiros com os nervos à flor da pele achando que estão na primeira classe e tendo ataques de Prima Donna. Filas. Clientes grosseiros com aeromoças (nunca façam isso, elas estão trabalhando para sua segurança. Aliás, nunca façam isso com ninguém). Viajantes sentados nos lugares errados (é tão difícil ver qual sua poltrona marcada no bilhete aéreo?). Essa atmosfera caótica me deixou sobressaltado em níveis estratosféricos.

Apesar disso, o voo de volta me pareceu bem mais tranquilo que o da ida (ou os remédios estavam fazendo mais efeito). Talvez por ter sido de noite, com as luzes quase apagadas.

Mas claro que nem tudo foram flores. Um homem ao meu lado, um “dotô das leis” (fiquei sabendo de tudo a partir das conversas em voz alta dele com o vizinho). Ele não parava de falar, e fazia isso aos berros e num tom grosseiro. Aparentemente comprou a McDonald`s inteira, e deixou aquele cheiro “delicioso” confinado em um tubo metálico do qual você não pode se afastar um metro sequer. Ele passou uma hora e meia comendo o que mais parecia o menu inteiro da lanchonete. Sou a favor que as pessoas comprem lanches (de preferência não no aeroporto), pois os preços e a qualidade do que é servido no terminal e no avião são de doer. Mas prefiro apostar em coisas que não deixam todo o avião com ar de fritadeira. Frutas, sanduíches leves, chocolates, barras de cereais, até mesmo um snack mais recatado. E no topo disso tudo, o tal “dotô” era puro álcool, parecia ter bebido um alambique. O que, claro, fazia com que ele falasse tão alto. E minha ansiedade, claro, ia para Plutão.

Antes de dar o pushback (a saída do terminal), a porta da cabine de comando é aberta. Como estou na primeira fileira, ela fica visível para mim, cheia de seus botões indecifráveis, a poucos metros de mim. Não gosto. Prefiro não olhar para aquele espaço. Assim como não gosto de olhar para o peru antes do Natal. Tem coisas que deveriam permanecer no anonimato.

Nova decolagem, nova voz do Pato Donald (ou algo assim). Meu vizinho cachaceiro deve ter ficado com medo daquela cena bizarra. Aliás, assim espero. Não mexe comigo que eu não ando só, ando com a Turma do Mickey inteira.

E aconteceu algo que odeio: o avião tirou os pneus da pista e ficou voando baixo. É a segunda fez que isso rola em Brasília, não sei se tem a ver com o aeroporto, a altitude, sei lá. Gosto quando “pega altitude” logo. Sobe direto pra altura de cruzeiro. Mas uma hora o piloro embicou o avião pra cima e lá fomos nós.

O wi-fi não estava funcionando direito em meu celular. Comecei a ver um episódio da série Friends (amo, mas sei que envelheceu super mal, com várias “piadas” que hoje não caberiam ser feitas). Até que estava me distraindo. Mas aí a internet a bordo parou de funcionar. E eu já pensando: por que parou? Deu problema? Que pane é essa? Afeta os comandos do voo?

Para completar o clima de caos (na cabine e em mim), na descida para Salvador, quando passamos pelas nuvens, clarões começaram a surgir do lado de fora. Tomei um susto que achei que ia parir Huguinho, Zezinho e Luizinho. Mas meu sobrinho, que estava na janela, disse que eram apenas as luzes do avião ao lado do motor refletidas nas nuvens. Que susto! Claro que quem sofre de medo de voar já pensa no pior, não é mesmo?

E de fato as luzes não afetaram em nada no pouso. Caso contrário, eu não estaria aqui em casa, escrevendo isso para vocês. Panicado tem é arte, hein?

* * *

Fim de voo, fim de texto. Mas não fim das viagens. Em menos de uma semana estarei embarcando para São Paulo. Com certeza contarei para vocês, aqui no site e nas redes sociais do rivotravel. Aproveita para nos seguir por lá!

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