Viajei: SOCORRO — São Paulo 2023: Episódio V (Volta)

Chegou a hora do temido voo de volta…

 
 

Acordo cedo, mas me embolo com o horário. Quando vejo, estou já atrasado. Faço as coisas correndo. Uber cancela. Chamo outro. Está na esquina, mas passou a entrada da rua por poucos metros e vai ter de dar uma super volta e levará uns dez minutos para chegar. Ah, está chovendo em São Paulo. E claro que está tudo engarrafado. Como é tranquila a saga de um panicado indo para o abate, quer dizer, para o aeroporto, não é mesmo?

Mas chego. Na rodoviária. Para pegar o ônibus para Campinas, que é de onde saiu meu voo para Salvador. Ainda bem que sempre faço notas no celular, para depois me guiar aqui nesta matéria. Caso contrário, é tanta agitação e medo que não conseguiria lembrar de nada depois.

Minha irmã que mora em Campinas vai me ver no aeroporto de Viracopos. Leva minha sobrinha e uma amiga. O papo é ótimo, mas não consigo tirar da mente que em breve estarei entrando em um avião. Claro que já tomei meu remedinho.

Elas se vão. E eu também. Ando por corredores cheios de propagandas, granito e produtos cosméticos e de perfumaria. Meu Deus, o portão de embarque não chega nunca. Já faço meu exercício cárdio ali mesmo. Suadeira. Como não couberam na mala, visto um casaco de couro pesado e o outro vai “elegantemente” amarrado na cintura.

A fila é colorida. Orgulho LGBTQIA+? Não, só uma ideia muito boa. Vale a pena ver nesses dois vídeos. Tento explicar, mas acho que estava grogue demais.

Embarco. Pânico. Primeira fila, baita espaço para pernas. Dá vontade de fazer xixi. Será que posso me levantar? “Senhor, posso ir no banheiro?”. Claro, ele me responde. Ufa!

Volto para a minha cadeira. Começa a bater uma taquicardia. De repente, me percebo mais “alerta” do que o comum. Aquele estado de torpor, tão almejado por mim antes da decolagem, não está presente. Ferrou. Nunca tinha acontecido antes isso. Geralmente, quando entro no avião, já estou “mais pra lá do que pra cá”. “Tomo mais um comprimido?", me pergunto. Melhor não.

Sinto vontade de chorar. Abro a foto de meu marido no celular e beijo a tela. Piegas, sim. Mas nessas horas temos de lançar mão de todos os artifícios para manter a calma, ou pelo menos o que resta dela.

“Vídeo de Rafa vendo no loooign”. Revendo agora minhas anotações, encontro essa frase enigmática. Não faço a mínima ideia do que seja.

Oba, wi-fi grátis a bordo. Não sei vocês, mas amo ficar com a cara no celular enquanto viajo de avião. Assim esqueço um pouco a realidade, o fato de estar dentro de uma lata metálica (toda lata é de metal?).

Asfalto horroroso em Viracopos. O avião se treme todo. Claro que o medo aumenta.

Uma criança atrás de mim grita “e sempre cai”. Juro! Não ouvi coisas. Ela ainda repetiu a frase em alto e bom som minutos depois. Minha fileira está vazia, o que é ótimo, mas assim não posso pegar na mão de ninguém, nem mesmo de um desconhecido. Quase desfaleço.

Chega a pior hora pra mim: a decolagem. Já estava mal, agora é que o bicho vai pegar. O avião decola. Eu me encolho.

Quando chega ao nível de cruzeiro, uma paz toma conta de mim (ok, “paz” talvez seja exagero). Um certo alívio. Choro. Mistura de sensação de pânico, vitória, superação e adrenalina.

Olhando as cidades pequeninas e os vastos campos lá embaixo pela janela (coisa que raramente faço quando viajo), sinto que de certa forma me reconecto com a criança que eu fui, que amava voar e que já naquela época pesquisava tudo que podia sobre aviação. E quando a gente se reconecta com nossa infância, muitas vezes o sabor é bom. Fico feliz.

O voo de menos de duas horas de duração até que passa rápido — vou acompanhando tudo pelo aplicativo Flightradar24 (já falei dele aqui no site). Em certo momento, o avião passa bem por cima de Pouso Alegre (MG). Que nome feliz de cidade, não é mesmo? Achei simbólico abrir o aplicativo bem naquela hora.

Acho que estou grogue, o remédio bateu. Levanto para falar com a dupla de comissários que está logo na minha frente. Agradeço pelo carinho com que tratam os passageiros. Sim, estou emocionado. Tocado. Eles agradecem e dizem que é raro ouvir aquilo, que eles lidam mais com a raiva dos passageiros e que o ofício é pouco reconhecido. Durante todo o voo ambos foram fofos comigo. Será que é porque eu sou um homem branco? O meu voo de volta aconteceu dias antes do terrível caso de racismo envolvendo uma professora negra no embarque justamente em Salvador.

Chega a hora do lanche. A Azul é famosa pelos snacks. Falo pro comissário: “Sou gordinho e tenho medo de voar, então aceito tudo o que você puder me dar”. Ele sorri e me dá um de cada. Queria mais, até porque a maioria das coisas eu guardei pra presentear Rafa, que, assim como eu, ama comer.

A tripulação abaixa a intensidade da luz a bordo. Clima gostosinho, geladinho, escurinho. Quase um útero. Quase um dark room (os leitores baladeiros entenderão).

Logo o avião começa a sobrevoar Salvador. Reconheço lá de cima o prédio onde moro. Amo quando isso acontece. O pouso pra mim é sempre alegre, pois representa o fim do martírio. E, no caso deste voo, o reencontro com quem amo. No caminho de volta pra casa, no carro, olho para meu marido e vejo como sou feliz. Em terra firme.

 
 

Este foi o Episódio V de uma série de postagens sobre minha viagem para São Paulo neste ano de 2023. Recomendo me acompanhar no Instagram, pois relatei por lá também em algumas postagens! Tem videos com compilados gravados nos voos, muita coisa bacana.

Para conferir o Episódio I, no qual eu conto dos vários pensamentos e sensações que me ocorreram no momento em que comprei as passagens desta viagem, é só clicar neste link aqui.

Para acessar o Episódio II, em que conto sobre a véspera da viagem, clica neste link aqui.

No Episódio III eu conto como foi o voo de ida! Para ler, clica neste link aqui.

Já no Episódio IV eu falo dos momentos que antecedem meu voo de volta de São Paulo para Salvador. Para ler, clica aqui neste link.

E foi isto! Esta é toda a saga da viagem que fiz para São Paulo… Mas outras viagens virão! Continuem de olho no rivotravel.com e em nossas redes.