Drink sabor perigo: os riscos do álcool para um passageiro aéreo

Em um sábado de fim de junho, cheguei em casa depois uma divertida noite com Rafa e amigos, vendo shows de drags e tomando Aperol Spritz (amo esse drink). Notificação no Instagram: uma amiga mandando uma matéria do jornal New York Times. Minha mente tava mais pra lá do que pra cá. O texto em inglês (ler em outra língua com álcool no cérebro é sempre uma ciência) falava sobre beber e voar. Não dei muita bola, confesso. Mas em seguida minha amiga mandando outra mensagem: “daria uma bela pauta pro rivotravel, não acha?”.

No dia seguinte, já recuperado do excesso etílico e curioso coma tal sugestão de pauta, fui dar uma olhada no texto do prestigioso jornal estadunidense. E não é que minha amiga estava certa? Nesses sete anos de site, nunca abordei um dos meus esportes favoritos, ou seja, beber (mas não sou alcoólatra nem dirijo depois de uma noitada, viu?). Conheço pessoas que bebem para ter coragem de entrar em um avião, como esse aqui ouvido para o Entrevista com o Panicado. E eu mesmo já tive uma curtíssima temporada de uísque + remédio + voo (nunca mais faço isso... rendeu até um texto engraçado que publiquei aqui no site). Não sei se você sabe, mas beber e voar não são excelentes companheiros de viagem — ainda mais se associados a remédios para ansiedade, usados por pessoas como eu e muitos que sofrem de aerofobia (mas isso já é assunto para outro texto).

 

Eu no metrô de Paris em 2013, indo pro aeroporto e tomando um uisquinho pra ter coragem de voar: nunca mais faço isso

 

o que diz o New York times

O New York Times trouxe uma pesquisa nova, com mais detalhes sobre os efeitos da bebida em altas altitudes. O assunto interessa muitas pessoas, pois há aquela velha máxima que “umas tacinhas de vinho vão ajudar a ter um sono revigorante antes do pouso”, não é mesmo?

Quando um avião sobe, o nível de oxigênio cai, e isso faz com que o nível de oxigênio no sangue também desça, explicou ao NYT Colin Church, pneumologista e professor sênior da Universidade de Glasgow, na Escócia. Ingerir álcool pode ser um fator que aumenta a frequência cardíaca. Além disso, o estudo revelou que a ingestão de bebidas alcóolicas reduz os níveis de oxigênio no sangue durante o sono.

O estudo foi coordenado por Eva-Maria Elmenhorst, pesquisadora do Instituto de Medicina Aeroespacial de Colônia, na Alemanha.

Para o experimento, foram escolhidos 48 adultos saudáveis ​​com idades entre 18 e 40 anos. Metade deles concluiu o estudo em um laboratório do sono com pressão atmosférica normal. A outra metade dormia em beliches colocados em uma câmara de altitude com pressão de ar que imitava a de um avião, descreve o NYT.

Os participantes de ambos os grupos dormiram por um período de quatro horas (de meia-noite às 4h), isso durante duas noites, sendo uma sóbria e outra depois de beber 120 ml de vodca, uma quantidade de álcool semelhante à encontrada em duas cervejas ou taças de vinho. Os voluntários usavam dispositivos para medir os níveis de oxigênio no sangue, frequência cardíaca e estágios do sono.

Os participantes que dormiam com pressão atmosférica normal tinham um nível médio de oxigênio no sangue de 96% na noite sóbria e 95% na noite de bebedeira. Mas para aqueles que dormiam na câmara de altitude, os níveis de oxigênio eram de 88% e 85%, respectivamente.

Os níveis normais de oxigênio no sangue estão geralmente acima de 95% em pessoas saudáveis, explica Ashish Sarraju, cardiologista da Cleveland Clinic.

Quanto à frequência cardíaca, a média durante o sono com pressão atmosférica normal aumentou de 64 batimentos por minuto quando sóbrio para 77 após beber; em altitude, esses números foram  de 73 e 88 batimentos. Um crescimento considerável.

Níveis mais baixos de oxigênio no sangue e aumento da frequência cardíaca são evidências de tensão no sistema cardiovascular – o coração tem que trabalhar mais para compensar a queda no oxigênio, afirma o pesquisador da Cleveland Clinic.

E é aí que mora o perigo. Se você é jovem e saudável, avaliam os médicos, esse tipo de tensão no coração pode deixá-lo um pouco cansado. Mas se você tiver um problema cardíaco ou respiratório, como insuficiência cardíaca, doença pulmonar obstrutiva crônica ou apneia do sono, isso pode causar tonturas e falta de ar, e beber pode aumentar suas chances de ter uma emergência médica durante o voo. Além disso, o álcool também desidrata, o que pode aumentar ligeiramente o risco de desenvolver um coágulo sanguíneo nas pernas ou nos pulmões, conforme observa Church.

E aquela história de que “umas doses ajudam o sono gostosinho”? Também não é por aí, não.

O álcool é um sedativo, por isso, se você beber perto da hora de dormir, geralmente adormecerá mais rápido, disse ao NYT Alanna Hare, especialista em sono e presidente da Sociedade Britânica do Sono. No estudo, quem dormia na câmara de altitude durante o estudo demorava, em média, 19 minutos para adormecer quando sóbrio e 12,5 minutos depois de beber.

Mas à medida que o seu corpo decompõe o álcool durante a noite, a “qualidade do sono realmente se deteriora” e você acordará com mais frequência, disse Bhanu Kolla, médico do sono da Clínica Mayo. Como resultado, o passageiro provavelmente se sentirá menos descansado no dia seguinte, disse ele.

Sarraju recomenda evitar álcool antes ou durante um voo, especialmente se a pessoa já tiver problemas cardíacos ou pulmonares ou apneia do sono.

“Se você não tem uma dessas condições, uma bebida provavelmente não tem problema”, disse Kolla. “Mas observe como você se sente depois. Se você está dormindo mal no voo e acorda com dor de cabeça, talvez seja melhor se abster da próxima vez”, declarou Sarraju ao jornal estadunidense.

Em vez do álcool, Hare sugeriu algumas maneiras alternativas de relaxar. “Não se pressione para dormir”, disse ela. “Mas fique confortável. Traga um travesseiro de viagem e uma máscara para os olhos e use protetores de ouvido ou ouça música calmante, ruído branco ou um podcast com fones de ouvido”, concluiu.

***

Pois é, gente. Como diz a música, “deu no New York Times”, um dos jornais de maior prestígio no mundo. E o singelo rivotravel assina embaixo. Muito cuidado com a mistura de álcool mais voo.

Rivo, AviaçãorivotravelComment