A importância de viajar tranquilo: a pressa é inimiga do panicado

Tenho uma teoria: correr contra o relógio só faz piorar o medo de avião. Já não basta ter de lidar com o pânico do voo? Precisa ainda ter um pico de adrenalina, mãos suando e coração acelerado achando que vai chegar tarde demais no aeroporto e não vai conseguir embarcar? Se isso acontece, é só sentar, chorar e desembolsar uma grana (às vezes muita grana) para remarcar tudo. Se tiver um segundo (ou até um terceiro…) voo na jornada que estava pra iniciar, então melhor nem pensar no rombo no cartão de crédito.

 
 

Para as panicadas e panicados, “voo” e “tranquilo” nunca andam plenamente de mãos dadas, como bem sabemos. Mas dá pra minimizar esse conflito. Sou filho de uma suíça. E a aviação pode ser tão impiedosa quanto o país dos relógios cucos quando o assunto é pontualidade. “Mas cheguei só um minuto depois do fim do embarque, moço. O avião tá ali ainda, tô vendo daqui”. Nessas horas, a ansiedade chega nas alturas (só o atrasado é que ficou em solo).

Como medida de redução de danos, então, eu adoto a seguinte tática: me planejo para estar tudo ok e sair cedo de casa (ou do hotel, airbnb, casa de amigos, enfim, vocês entenderam). Se o voo é de manhã ou início da tarde, acordo o mais cedo possível, o que particularmente é um martírio pra mim (nunca fui um cara matutino). Além disso, o remedinho eu já tomo na véspera para dar uma acalmada nos nervos, o que me deixa grogue ao acordar. Se tenho de estar de pé às 6h, coloco dois alarmes, um para as 5h50 e outro para dez minutos depois. Melhor prevenir que remediar, até porque nessas horas o medicamento já está flutuando graciosamente em minha corrente sanguínea me deixando ainda mais lento que o normal (piadas com o fato de eu ser baiano não serão toleradas).

Acordando bem antes do horário que tenho de partir é ótimo pois assim faço as coisas no modo zen. Banho sem pressa, café da manhã tranquilo. Odeio fazer a primeira refeição do dia correndo, já fico todo nervoso achando que comecei com pé esquerdo. Aliás, eu levo isso para a vida: fazer as coisas com calma e chegar cedo. O que é melhor? Comprar ingresso online e chegar de boas no cinema ou correr o risco de nem ter mais lugar na sala quando você chegar lá já nos trailers? Pois é, acontece nos filmes, acontece na vida.

E eu calculo tudo. Quanto tempo vou levar para chegar até o aeroporto?

Aplicativos como o Google Maps permitem que você inclusive escolha o horário e dia que o motorista vai te pegar. O que é ótimo, pois o cálculo de tempo da avenida Paulista para o aeroporto de Guarulhos varia bastante, por exemplo. Em um domingo às 13h é uma estimativa. Em uma quarta-feira às 8h, outra. Ah, e sempre pego o tempo médio gasto no trajeto que o aplicativo mostra e ainda coloco uma margem de no mínimo 50% a mais. Também converso com amigos para ver se aquele tempo é mesmo o suficiente. Amigos precavidos, claro. Os doidivanas eu deixo pra mesas de bar.

E até uber dá pra programar! Não precisa nem se preocupar com isso no dia. Por falar em uber, na minha última viagem levei uns bons quinze minutos entre fazer o pedido e de fato entrar no carro. Taí mais um tempo que deve entrar no cronograma mental. Até o tempo de sair da porta com as malas (ou seja, mais lento que o normal) e chegar na portaria eu levo em consideração. Um amigo meu morava em um prédio com uns 30 andares em um condomínio enorme. Em horários de pico, com elevador parando toda hora, era uns 10 minutos só pra chegar na rua. Com bagagem, então…

Ainda na questão de transportes, eu antigamente priorizava meios públicos, para economizar grana e também já ir “sentindo a cidade” logo de cara. Mas a idade chega e de certas comodidades não mais abro mão. Até porque já caí no sono dentro de um trem na madrugada indo pro distante aeroporto de Luton, em Londres, indo parar em outra cidade e tendo de pegar um caríssimo taxi. E o perigo de ter as malas roubadas? Que nada, uber é vida (me patrocina!). Vou lá atrás, tranquilão. No último até gravei uns stories pro instagram do rivotravel, falando justamente sobre…a pressa que é inimiga do panicado!

Bagagens? Um capítulo à parte. Atualmente tenho me policiado para deixar tudo pronto no dia anterior ao voo (quando era mais jovem apenas jogava tudo na mala minutos antes de sair de casa — e esquecia um monte de coisa ou levava roupas em excesso). Mas sério, deixar a mala prontinha com bastante antecedência é um bálsamo. Aí no dia do voo é só colocar na bagagem de mão as coisas que serão usadas até a última hora, como escova de dentes etc (isso se você não tiver uma só para a viagem).

 

Esse coelho está mais de boa que o da capa desta matéria. Deve ter seguido as dicas do rivotravel (ambas as ilustrações foram gerada pela plataforma DALL-E e manipuladas pelo editor)

 

Tem gente que já faz o check-in online no aplicativo da empresa aérea (eu faço) e já deixa o QR Code salvo no rolo de câmera do celular (também, faço, vai que a internet falha na hora do embarque, o aplicativo trava ou o aparelho leitor quebra). E vou além: chegar cedo no aeroporto é ótimo para imprimir o cartão de embarque físico em um dos totens automatizados da companhia. Vai que a bateria do celular acaba, né?

E como vocês sabem, sou um panicado, mas amo aviação e tudo que gira em torno dela. Inclusive aeroportos. Era meu passeio favorito na infância. Adoro flanar com calma, ver os passageiros, as vitrines, a arquitetura (hoje em dia tem cada aeroporto um mais bonito que o outro). Andando meio zumbi? Com certeza. Mas lá vou eu, empurrando com calma (e falta de força) o carrinho das malas pelos corredores. Confesso que a imagem deve ser um pouco assustadora e talvez eu encare demais uma pessoa ou outra. Por isso que não abro mão dos óculos escuros. No melhor estilo Nazaré Tedesco “tô doidona”.

Sempre levo algo pra comer no aeroporto. Na última viagem, bateu uma vontade louca de chá gelado de pêssego. “Uma garrafinha? Quinze reais, senhor”. Por isso que faço o lanchinho antes e deixo para comprar só a bebida gelada ou quente por lá. Pelo menos a simpática funcionária se ofereceu (juro, nem pedi) para esquentar o que eu tinha trazido comigo para comer: empanadas de “carne de jaca”, que são deliciosas — e olha que eu odeio jaca.

Gente, sério. O que é chegar cedo no portão de embarque, sentar no cantinho, ouvir uma música relaxante ou zapear pela internet? Tem quem prefere chegar no aeroporto em cima da hora, correr, suar, se estressar na fila da segurança no raio-x, depois mais corrida até o portão certo — e com a tendência cada vez maior da ampliação dos aeroportos, essa maratona pode realmente quase virar uma prova olímpica. Alguns aeroportos até avisam passageiros em painéis eletrônicos quantos minutos de caminhada a pessoa vai gastar para ir daquele ponto até o portão de embarque de seu voo. Isso quando o atrasado não chega e percebe que o número do portão mudou para outro, muitas vezes nem tão perto assim.

Deixo aqui então a dica: em sua próxima viagem aérea, tente fazer as coisas com calma, sem pressa. Resolver tudo que está pendente e deixar o dia do voo sem decisões para tomar, sem mala pra fazer, com a comida já pronta e a roupa da viagem separada. Nem todos podem se dar esse luxo, claro. Mas, caso você possa, que tal experimentar?

E vá cedo para o aeroporto. Deus ajuda quem cedo chega no portão de embarque.

Rivo, TravelrivotravelComment