Viagem com idosos #2: dicas para uma boa experiência para todos
No ano passado, saí de férias com minha mãe, uma senhora que ama “cair na estrada”— ela tem quase 85 anos — e fiz para o rivotravel uma matéria sobre cuidados a serem tomados ao viajar com um idoso (que você pode ler aqui). O texto foi publicado no dia de nossa ida a Portugal e Itália. Foi a minha primeira grande viagem com minha mãe demandando mais cuidados. E muita coisa aprendi na prática, lá fora. Então resolvi publicar um novo texto aqui no site com mais dicas. Além disso, conversei com a arquiteta Anne de Pieri, que no fim deste mês viaja para a Europa com a mãe e a avó (que tem mobilidade reduzida) e contou um pouco sobre como planejou essa linda viagem de três gerações.
Aprendendo na prática
Na Itália, minha mãe conheceu um companheiro fiel que agora faz parte do dia a dia dela, inclusive nas viagens que já fez em 2024: um andador com rodinhas. Serve como apoio para ela, que sofre com fortes dores de coluna e sente alivio ao caminhar com o novo amigo — e quando parado vira um banco. As principais companhias aéreas brasileiras (GOL, Azul e LATAM) não cobram nada para levar no porão da aeronave o artefato. O mesmo vale para cadeiras de rodas. Detalhe: os acessórios não entram como parte da franquia de bagagem que a tarifa da passagem permite levar, então é possível despachar tranquilamente. E é bom, na hora da reserva da passagem aérea, selecionar o campo equivalente às necessidades especiais. Assim a empresa sabe que precisará disponibilizar cadeira de rodas até a porta do avião (e um funcionário para acompanhar o passageiro caso esteja voando sozinho). E também providenciar o ambulift, uma espécie de carro equipado com elevador para uso em embarque remoto, no qual o avião fica mais afastado do terminal e não há finger.
Em viagens com idosos, é bom também antecipar possíveis contratempos, como chamar um taxi. Antes de ir pra Brasília no meio do ano, liguei para algumas cooperativas de taxis de lá para sondar quais ofereciam carros com bagageiro grande (para caber o andador, que mesmo dobrável ocupa um espaço considerável). Outra opção de mobilidade urbana é escolher a categoria “Bag” do uber e garantir assim um veículo com porta-malas maior.
Se você já souber quais passeios irá fazer, pense em como a pessoa idosa vai chegar e se deslocar no local. De nada adianta ir àquele mirante com uma vista linda da cidade se o acesso se dá por 200 degraus e não há elevador. Mesmo que o viajante não use um auxílio para a locomoção, a subida será um transtorno. Em Brasília, por exemplo, queríamos conhecer uma casa de chá projetada por Oscar Niemeyer, reaberta recentemente e que se encontra semienterrada na Praça dos Três Poderes. Na hora que surgiu a ideia já mandei uma mensagem pelo Instagram para a casa de chá perguntando sobre acessibilidade. Para nossa alegria, contava com rampas. Caso a pessoa idosa caminhe com dificuldade, uma boa opção é perguntar se os locais turísticos visitados oferecem cadeiras de rodas gratuitas. Isso proporciona um momento de descanso ao viajante, que pode aproveitar o passeio sem esforço. Eu geralmente sondo tudo antecipadamente via Instagram, para já montar um roteiro de viagens.
Muitos centros históricos possuem chão de pedras e nem sempre há calçadas largas e niveladas. Bom levar isso em consideração também. Em Matera, uma bela cidade italiana, milenar e toda de pedra, acabamos alugando um City Tour exclusivo em um carrinho sem capota. E pedi ao motorista-guia: “senhor, por favor, vai devagar”. Um sacolejo pequeno pode representar uma grande dor para um corpo já com uma certa quilometragem de vida.
Quando for reservar um hotel ou airbnb, sugiro pedir uma quantidade extra de cobertores e travesseiros. Os idosos, pelo menos os de minha família, sentem muito frio e gostam de colocar apoios nas costas quando sentados ou deitados. Uma coisa que nunca fiz (mas passarei a fazer) é levar um tapete antiderrapante pro chuveiro, para diminuir risco de quedas. Na hora do check-out é só enxugar o tapetinho emborrachado, enrolar e botar na mala. Mesmo hotéis adaptados, com barras antiquedas no box, dificilmente oferecem tal item no chão. E por falar nisso, é sempre gentil deixar a cama mais próxima do banheiro para quem for da terceira idade, para um rápido acesso durante a noite.
Uma coisa que me chamou a atenção nesse período com minha mãe é que o tempo do “viajante sênior” é outro. Nada de marcar um passeio seguido do outro e de mais outro. Ter paciência é fundamental. E sua noção de distância não é a mesma dos idosos. O que é perto para você poder ser super longe para eles, em termos de dificuldade de locomoção.
E sempre, sempre converse com seu companheiro ou companheira de viagem para saber o que ele ou ela precisam, o que querem fazer, que horas gostariam de passear ou comer etc. Em Lisboa, cidade que minha mãe ama, intercalávamos passeios com paradas em praças arborizadas para descansos ou mesmo retornos ao hotel para cochilos (por isso é maravilhosos reservar a hospedagem em uma zona central e acessível a taxis ou ubers). E atenção aos pickpockets! Pense que você vai ter de pensar por sua segurança e pela de outra pessoa. E por falar nisso, a viagem toda tem de ser um olho admirando a paisagem, o quadro ou o que for, e o outro olho no idoso para, por exemplo, prevenir possíveis quedas. Um acidente, além do dano causado à saúde, pode encurtar a viagem.
Planejando a viagem
Quem está muito atenta ao planejamento da viagem é a arquiteta Anne de Pieri, que vai viajar com a mãe, que tem 71 anos, mas bastante agilidade; e com a avó, que tem mobilidade reduzida. “Tudo começou com o sonho da minha avó de conhecer a Itália. Ela e a minha mãe estavam planejando ir em 2020 com um grupo da terceira idade, mas aí veio a pandemia e parou o mundo. Quando tudo voltou (ao normal), a minha avó já estava mais velha e hoje com 91 anos não tem condições de acompanhar um grupo, por mais que seja focado em terceira idade. Apesar dela estar muito bem de saúde, tem diversas limitações de mobilidade e disposição física”, conta a arquiteta. Na Black Friday do ano passado, olhando o site da empresa de cruzeiros Royal Caribbean, ela encontrou um itinerário com partida e chegada em Roma. “Cruzeiros são uma ótima opção para a minha vó, pois tudo acontece dentro do navio, com curtos deslocamentos, e há diversas opções de passeios acessíveis. Então, além do cruzeiro que sai de Roma e passa por Nápoles, também teremos a oportunidade de conhecer as ilhas gregas, além de aproveitar um super navio”, prossegue Anne.
Apesar da avó ter uma saúde excelente, ela tem baixa mobilidade, faz o uso de bengala e caminha curtas distâncias, então a neta optou por levar uma cadeira de rodas — as três embarcam no próximo dia 21. Anne diz que o cruzeiro conta com diversas opções de passeios para pessoas com baixa mobilidade. E em Roma, ela organizou um roteiro para explorar a cidade por setores e com um trajeto otimizado de aproximadamente três quilômetros por dia, visitando as principais atrações como Vaticano e Coliseu. Ela contou também com a ajuda do GetYourRide. O site, explica a viajante, possui diversas opções acessíveis e com filtros que facilitam a vida do usuário. Ela lembra ainda que a compra dos ingressos com antecedência também é bem importante.
Segundo a arquiteta, esse momento de planejamento foi bem tranquilo. A companhia aérea (a italiana ITA Airways) oferece suporte às pessoas com baixa mobilidade logo ao chegar no aeroporto e a Royal Caribbean também foi bem solícita nesse sentido. Ela encontrou os passeios acessíveis com uma certa facilidade também. “Obviamente tudo tem seu preço, todas as opções disponíveis são um pouco mais caras que as padrões”. Anne termina a entrevista com uma bela frase, uma declaração de amor aos mais idosos. “O mais importante ao fazer viagem com idosos é ter a disposição e paciência de se adaptar, e eu estou super disposta a isso. Estamos super animadas para fazer essa viagem e realizar o sonho da minha vozinha”.
Que seja uma linda viagem, Anne. E que você, sua mãe e sua avó aproveitem muito. Sobre minha mãe, que completa 85 anos no dia 19, ela segue cheia de planos de viagens para 2025.
* * *
Esta foi a segunda matéria do rivotravel com o tema viagem com idosos. Para conferir a primeira, é só clicar no botão abaixo.