Rotas curtas — dá tempo de ter medo em voos tão rápidos?
Algumas pessoas ficam ansiosas na véspera do voo. Outras quase desmaiam de pavor no embarque. E tem aquelas e aqueles que temem todo o processo, no início, meio e fim, só relaxando quando já estão com os dois pés bem fincados no destino — isso se já não começar a pirar com a viagem de volta, aquele velho conhecido “sofrimento por antecipação". Mas lendo um pouco sobre aviação, cai em uma matéria sobre o voo comercial mais curto do mundo. E me perguntei: será que dá tempo de ter medo em um voo que, a depender dos ventos, chega a durar menos de um minuto? Não, ele não cai depois que sai do chão, esse é realmente o tempo entre a partida e a chegada. Vamos conhecer essa e mais algumas outras rotas nas quais mal dá tempo de reclinar a poltrona?
A empresa aérea regional escocesa Loganair opera o voo doméstico mais curto do mundo (citado acima) entre Westray e Papa Westray. As duas localidades ficam nas Ilhas Orkney, no norte do país. A rota minimalista é operada desde 1967. O turboélice Britten Norman Islander, de apenas oito lugares, percorre os 2,7 km entre as duas pistas em 90 segundos (detalhe: muitas pistas de pouso e decolagem têm comprimento maior que tal rota). Se as condições de vento estiverem favoráveis ao voo, a viagem leva apenas 47 segundos. O preço? A passagem custa 36 libras (R$ 268), valor que salta para 51 libras (R$ 380) caso a passageira ou passageiro opte por ir e voltar. A empresa até dá uma recordação a quem viaja entre Westray e Papa Westray: um certificado, atestando que aquela pessoa voou na rota mais curta do mundo, que existe para driblar os constantes cancelamentos dos barcos que ligam as duas ilhas, por conta das condições do mar. No vídeo abaixo (de 2min32seg) é possível ver todo o processo, o avião se alinhando à pista, a decolagem, o rápido voo e o pouso. Chega a ser engraçado.
Os outros exemplos dessa lista de voos curtos parecem até longos demais para figurar junto ao caso escocês. Mas vamos elencar alguns exemplos. Para se ter uma ideia, a distância entre os aeroportos de Santos Dumont (Rio de Janeiro) e Congonhas (São Paulo) é de 365 quilômetros. Os aviões que ligam as duas cidades gastam, em média, uma hora.
A rota internacional mais curta do mundo liga duas capitais africanas separadas apenas pelo Rio Congo. Os dois aeroportos estão distantes apenas 43 quilômetros. Em 2019 foram realizadas 945 viagens entre as capitais da República Democrática do Congo (Kinshasa) e da República do Congo (Brazzaville). A rota é oferecida pelas companhias Asky e Ethiopian Airlines.
No fim de 2019, a British Airways lançou um voo com 48 quilômetros de distância, usando um Boeing 777. A rota é entre o pequeno país do Bahrein e a cidade de Damman, na Arábia Saudita. A média de tempo gasta é de 16 minutos, com uma altitude máxima de menos de 2 mil metros (mal dá tempo de subir mais). Um voo “normal” costuma voar acima dos 10 mil metros.
Essa mesma distancia (48 quilômetros) é percorrida pelo voo mais curto nos EUA. O país tem uma forte aviação regional, operando sobretudo em cidades pequenas e médias e brilha nas listas de voos curtos. No caso dos EUA, o voo mais “pequenino” é no Alasca, entre Petersburg e Wrangell. As duas localidades fazem parte do “Milk Run”, referência aos voos que ligavam cidades sem conexão por terra no início do século 20, levando mantimentos.
Outra rota bem curta fica no Caribe e liga as ilhas de Bonaire e Curaçao em um voo de 74 quilômetros. O curioso é que Bonaire oficialmente é uma cidade dos Países Baixos (aos quais a Holanda está ligada). Já Curaçao é um país independente, mas ligado ao Reino dos Países Baixos (que não é a mesma coisa que o país dos Países Baixos). Complicado, não? Deixo esse fascinante (e um tanto confuso) vídeo explicando todo o caos que é entender o assunto (em inglês, com legenda em português).
Na Europa, uma rota bem curtinha atravessa o golfo da Finlândia para ligar os 100 quilômetros que separam as capitais de dois países: Finlândia (Helsinque) e Estônia (Tallinn). Existe a opção de pegar um ferry-boat (eu e meu marido já viajamos de ferry saindo de Tallinn, mas com destino a Estocolmo, na Suécia), mas muita gente prefere ir pelo ar mesmo.
No Brasil, a rota mais curta opera entre as cidades de Parauapebas e Marabá, ambas no Pará. São 126 quilômetros de distância. Entre capitais brasileiras, a menor rota aérea é entre Goiânia e Brasília (126 quilômetros). O legal é que, chegando ou partindo “por cima” (e não por via terrestre), dá para tentar ver o formato do famoso Plano Piloto na capital federal, em formato que lembra o de um avião. Eu já vi algumas vezes, tanto de dia quanto de noite, e é muito legal. Portanto, fica a dica: indo ou saído de Brasília, escolha um assento na janela.
Olha, não sei vocês, mas como meu medo maior é na hora da decolagem, tanto faz ser um curtíssimo voo na Escócia, de menos de um minuto, ou o recordista em tempo de voo (Newark (EUA)—Singapura, com quase 19 horas). Tendo uma decolagem no meio, já estou me tremendo todo.