Rir é o melhor remédio? — como o humor pode ajudar na aerofobia
O título aí em cima é bem clichê, eu sei, mas não pude evitar de fazer esse trocadilho, levando em consideração o nomes deste site e meu uso de medicações para controlar a ansiedade e permitir que eu possa voar.
Afinal, rir é mesmo o melhor remédio? A julgar pelos relatos de duas especialistas em terapia do riso que entrevistei para esta matéria, a resposta é “sim”. Elas inclusive deram dicas práticas bem legais para dar uma baixa na ansiedade em aeroportos ou mesmo durante voos. Depois se alguém testar quero saber qual foi o resultado.
Eu sempre me considerei uma pessoa bem-humorada. E quem lê o rivotravel há algum tempo já deve ter percebido isso. Procuro transmitir graça e leveza em meus textos. E as panicadas e panicados parecem gostar. São inúmeros os relatos que recebo de internautas contando que se divertiram com as matérias ou contos que escrevo e que isso até reduziu um pouquinho o medo de voar. Uau! Fico todo orgulhoso em poder ajudar. “Muito bom!! Uma realidade de muitos contada de forma muito hilária! Amei e me fez rir muito kkkkkkkk”, comentou uma leitora em um conto no qual botei o pé no acelerador do humor. Outra leitora: “Entrei nesse site com os olhos cheios de lágrimas e não me aguentei ao ler sua matéria. Me vi em você. Agora estou aqui rindo e chorando 😂 eu super te entendo! Você não está sozinho, uma vez eu encasquetei que a porta (do avião) não tinha fechado (direito) . Fui de Belém a São Paulo falando pra aeromoça: se essa merda cair eu juro que vou te socando até chegar no chão, então confere essa po*** 😂😂😂😂😂”.
Só de ler esses comentários eu já me sinto mais tranquilo. Ler coisas engraçadas realmente relaxa.
Eu, quando estou me arrumando para uma viagem, seja ela longa ou curta, já deixo separado um livro leve, fácil de ler. Desses mais bobinhos mesmo, com tramas previsíveis. Uma vez inventei de levar um livro cabeção, bem clássico, bem russo, bem denso, e lia e relia as mesmas frases e não entendia nada, e aquilo só fez aumentar minha angústia. Aprendi a lição. Além disso, também carrego no tablet filmes de comédia. Acho que de certa forma eu já desconfiava do poder do riso, antes mesmo de ter tido a ideia para esse texto e feito as entrevistas (sobre como se entreter a bordo, já escrevi uma matéria bem legal — vejam aqui). E eu sou desses que gargalho alto, mesmo em público. Não acho mico nenhum em rir no meio de desconhecidos.
Só por curiosidade, peguei uma revista de bordo da LATAM (a Vamos) e fui conferir a seleção de filmes, animações e séries oferecidas pela empresa aos passageiros. Metade deles eu classificaria como comédia ou “leves”, desses que costumam dizer que são “para a família”. Ainda bem! Ninguém merece ver um filme cheio de tensão (assim creio eu) quando está tão distante do solo. Se bem que acessei agora o site da companhia para ver as opções audiovisuais atualizadas e, ó, vou te contar: “A maldição da Chorona” (um suspense que parece ser bem puxado) e “Annabelle 2”. Misericórdia, LATAM! Assim você mata um do coração. Prevejo aeromoças em pânico perguntando pelo sistema de som se há algum médico (ou padre exorcista) a bordo para salvar passageiras e passageiros mais sensíveis.
As especialistas em terapia do riso certamente não recomendam esses títulos para quem sofre de aerofobia. “Sim, rir cura! Parece clichê dizer que o riso cura, que rir é o melhor remédio, mas de fato essa afirmação é verdadeira. O ato de rir proporciona inúmeros benefícios, desde a diminuição dos hormônios que causam estresse ao alívio da ansiedade e tensão”, afirma Francyelle Lopes, uma das coordenadoras da Liga do Riso, projeto de extensão voltado à humanização do cuidado no ambiente hospitalar do Hospital Universitário de Brasília (UnB). Francyelle segue elencando benefícios do riso, como o fortalecimento do sistema imunológico e diminuição de dores e o desencadeamento da liberação de endorfinas que relaxam o corpo. Com humor, prossegue a coordenadora, uma situação ruim como o medo pode ser enfrentado. “Transforme aquilo que te trava em algo que te faça rir, lembre de momentos que te faça bem e que te traga alegria, tente enxergar a situação por uma perspectiva positiva e relaxada”, ressalta. Ela destaca alguns estudos acadêmicos na área. Em um deles, os pesquisadores concluíram que as pessoas com mais senso de humor são mais capazes de lidar com o estresse e, portanto, são menos afetadas negativamente por ele.
“Mesmo que o riso seja ‘fingido’ ou ‘induzido’, o nosso cérebro não o distingue do riso verdadeiro e provoca a libertação de substâncias químicas positivas, entre as quais destacamos a serotonina (antidepressivo natural), a dopamina (energia) e endorfinas (paliativa para as dores e produzem bem estar)”, pontua a espanhola Sabrina Tacconi, que trabalha com a relação entre yoga e o riso, além de ser autora do livro “O riso na minha vida” (Edições Mahatma, 152 páginas). Segundo Sabrina, rir nos ajuda a “reprogramar” a nossa mente e os nossos pensamentos de “negativos” para “positivos”, criando maior equilibro e dando a volta nas situações que se apresentam no dia a dia. Ela é categórica: devemos rir muito de nós mesmos, evitando levar a vida tão a sério. E a espanhola dá dicas importantes às panicadas e panicados. Antes de entrar no avião, procure rir durante dez minutos, para liberar a tensão acumulada. Parece muito, né? Mas pode ser de grande ajuda. Se já estiver em voo e o medo bater forte, Sabrina recomenda ir no banheiro do avião e usar a técnica do riso silencioso, ou seja sem emitir o som da gargalhada. E é bom que seja assim mesmo, senão é capaz de alguém achar que você endoidou lá dentro no cubículo.
Ou então você pode fazer que nem eu: ver um filme bem engraçado, desses escrachados, e rir na poltrona mesmo. E a coordenadora da Liga do Riso atesta. Assistir a uma boa comédia realmente ajuda. “E até (ver) conteúdos relacionados a voos mesmo, que possam trazer segurança e não pavor”. Essa é uma outra verdade: conhecer os detalhes técnicos que fazem voar esses “gigantes de lata” é uma forma de minimizar a aerofobia.
Vou tentar aplicar essas dicas no meu próximo voo, sabe-se lá quando. A do banheiro eu achei genial, pois é naquele lugar bem apertado que eu encontro paz quando estou muito nervoso (já falei disso em uma série de humor aqui do site chamada Doses Curtas — de repente consigo fazer vocês rirem já agora). Rir pode ser mesmo um bom remédio. Só não sei se, no meu caso, é a melhor das soluções. Por via das dúvidas continuarei a levar meus comprimidos mágicos na bagagem.
Quer entrar em contato com as pesquisadoras? Tenta o instagram @ligadoriso_ (no caso do projeto da UnB) e o site www.risoterapia.pt (para mensagens para Sabrina Tacconi). Em abril de 2020, Sabrina estará em São Paulo para uma formação certificada de professores de yoga do riso.