O mundo de olho no Boeing 737 MAX 8: avião envolvido em dois acidentes em cinco meses
Relutei muito antes de decidir escrever esta matéria. Sou jornalista, minha obrigação é informar, mas também existem limites éticos da profissão — limites esses que, eu sei, não são respeitados por todos, infelizmente. O fato é que eu não quero criar alarde. Recebo muitos comentários e e-mails de leitoras e leitores que, assim como eu, sofrem demais com o pânico de voar. É um assunto sério. E mesmo quando imprimo um tom cômico e leve em meus textos, tenho sempre em mente que quero ajudar ao máximo quem sofre deste mal.
Introdução devidamente feita, vamos lá.
Não sei se todas e todos viram, mas no domingo passado, dia 10 de março de 2019, um avião da Ethiopian Airlines caiu minutos após a decolagem do aeroporto da capital daquele país, Addis Abeba, matando todas as 157 pessoas a bordo. O que logo chamou a atenção foi o modelo da aeronave acidentada, um Boeing 737 MAX 8, uma das grandes apostas da fabricante norte-americana — a primeira unidade foi entregue em 2017. O avião que caiu era novo, com poucos meses de uso. O piloto era super experiente. As condições climáticas eram boas. Um ataque terrorista chegou a ser cogitado, mas a hipótese foi logo descartada.
O que foi logo destacado pela imprensa internacional não foi apenas isso.
Foi um fato ocorrido cinco meses atrás, bem longe das terras africanas. No final de outubro de 2018, um Boeing 737 MAX 8 da companhia aérea Lion Air caiu, também minutos após a decolagem do aeroporto de Jacarta, na Indonésia. Todas as 189 pessoas a bordo morreram. O mesmo modelo do acidente na Etiópia. O que os investigadores puderam concluir, analisando os dados, é que houve uma sucessão de erros na leitura de alguns sensores, que acabaram puxando o nariz do avião para baixo. Os pilotos da companhia indonésia ainda conseguiram, por 13 minutos, manter o avião no ar, mas depois disso o aparelho acabou caindo.
Depois do acidente na Etiópia — cujos motivos, é sempre bom ressaltar, ainda são desconhecidos, uma vez que é preciso bastante tempo para apurar tudo — uma série de ações foi tomada. Pressionada — as ações da Boeing fecharam em queda de 5,33% na Bolsa de Nova York — a empresa prometeu lançar até abril uma atualização do software para corrigir eventuais erros.
Em novembro de 2018, autoridade de aviação dos Estados Unidos (FAA), país da empresa Boeing, emitiu um documento alertando que um erro em um sensor pode levar a tripulação a ter dificuldade para controlar o avião e levar o nariz do avião para baixo. No Brasil, a Agência Nacional de Aviação (Anac) exigiu treinamento específico para os pilotos em casos do tipo.
Atualmente, 350 aeronaves desse modelo são operadas por cerca de 50 operadoras no mundo. No dia seguinte ao acidente, várias empresas aéreas internacionais e ministros dos transportes de países como Coreia do Sul, Austrália e Singapura anunciaram que passariam a manter aviões do tipo 737 MAX 8 em solo, fora de operação, até que tudo possa ser esclarecido. A Agência de Segurança da Aviação da União Europeia também suspendeu os voos operados pelo modelo. Companhias aéreas americanas e chinesas tomaram a mesma decisão.
No Brasil, a GOL é a única a operar com o 737 MAX 8, utilizado sobretudo para rotas internacionais na América do Sul, Caribe e Estados Unidos. Logo após o acidente, a GOL anunciou que não faria alteração nos voos programados com o modelo acidentado. Na segunda-feira, 11, o rivotravel mandou um e-mail para a GOL questionando o que passageiros que se sentem pouco confortáveis (ou mesmo em pânico) em voar no boeing 737 MAX 8 nesse momento de incerteza podem fazer. Reembolso do valor? Mudança para outro voo? A resposta foi dada em comunicado para a imprensa horas depois, no início da noite de segunda-feira: a empresa brasileira decidiu seguir a tendência mundial e suspender as operações com o MAX 8.
Além da GOL, outra empresa que opera em território nacional é a Aerolíneas Argentinas, que também decidiu manter os aviões suspeitos em solo.
Se você tem algum voo programado em países que ainda não baniram temporariamente o uso do aparelho e está com receio de voar em um 737 MAX 8, a sugestão do rivotravel é entrar em contato com a companhia aérea para sondar qual o aparelho usado na rota. Mas o que fazer caso o modelo seja o MAX 8 e a companhia se negue a fazer a mudança de voo de forma gratuita? Segundo o escritório Amaral e Cunha Advogados, especializado em atendimento de passageiros aéreos, é possível utilizar laudo médico para comprovar a fobia de voar do passageiro.
Bem, queridas panicadas e panicados. Espero não ter alarmado ninguém com esse texto. Acredito que informação é tudo nessa vida, e é com informação que podemos combater o medo de voar. Não é nada agradável saber que estamos voando em um modelo suspeito de conter uma falha no software (afinal, não dá para reiniciar o avião em pleno voo e nem chamar o suporte técnico a onze mil metros de altitude. E é aquilo que sempre digo: o avião é o meio de transporte mais seguro que existe, são milhões de voos anualmente, com poucos acidentes (e pesquisas comprovam que o número de quedas diminuiu nos últimos anos). A indústria aeronáutica é muito desenvolvida e trabalha constantemente para solucionar erros. Quem me vê dizendo isso nem desconfia que eu sou panicado ou pensa que recebo dinheiro para defender o setor. Mas é porque eu sou apaixonado por voar. E paixões são assim: a gente ama e odeia ao mesmo tempo.