Mudar de voo é mudar de destino?

Menines do céu (juro que esses trocadilhos com céu surgem do nada quando escrevo no rivotravel…).

Mas continuando: menines do céu, hoje tive um sonho (ou seria pesadelo?) meio bizarro. Sonhei que estava em Denver (oi?), nos EUA, e ia pegar um voo Denver–Salvador (hahuauauhaha, jamais existirá essa rota), mas aí, por algum motivo que não foi explicado no sonho, a atendente do check-in me colocava em um outro avião, para Nova York, e de lá da Big Apple eu ia pegar o voo pra a capital da Bahia. Sei que, no fim das contas, eu acabei viajando no trem de pouso (nas rodas mesmo). E, claro, o avião sofreu um acidente. Mas eu sobrevivi. Ufa.

Acordei agitado, obviamente. Esse sonho me fez lembrar de minha fase pré-panicado (ou seja, até os meus 28 anos), quando eu escolhia de propósito os voos com mais escalas ou conexões, só pelo prazer de passar mais horas dentro de um avião. Ah, belos tempos… Hoje, se eu pudesse, nem voos eu pegaria. Um amigo meu está indo para Cidade do México e vai fazer Salvador–São Paulo, São Paulo–Cidade do Panamá e depois Cidade do Panamá–Cidade do México. Deus que me livre, três voos, três decolagens, três pousos. Prefiro voar menos, nem que seja para mofar em aeroportos. Amo perambular (grogue de remédio) por aeroportos, acho uma delícia. Todos os terminais pelo mundo são iguais uns aos outros, não é possível negar, mas sempre há suas peculiaridades. Aliás, por falar em Copa Airlines, vocês já voaram com essa companhia panamenha? Ela padronizou a frota com aviões 737, ou seja, aviões pequenos, desses de “três assentos de um lado, corredor no meio, mais três assentos do outro lado”. E quanto menor o avião, mais os efeitos da turbulência os passageiros sentem. Então melhor evitar. A Copa até começou a voar em 2018 para Salvador, e com sua grande gama de destinos é uma opção interessante para quem mora no Nordeste do Brasil e deseja conhecer algum lugar na América Central ou do Norte.

Bem, todo esse sonho improvável da rota Denver–Salvador, viajar na roda e mudança de voos também me fez lembrar de uma situação (real) que vivi no aeroporto Guarulhos, em São Paulo. Estava vindo de uma maratona de dois voos (sim, dois voos pra mim já é uma tarefa hercúlea): São Francisco–São Paulo com uma conexão longuíssima, enorme, infindável na Cidade do México (deu até tempo de dar uma volta pela megalópole mexicana, uma das maiores do mundo).

Resultado: estava eu, ardendo em febre, no balcão da Avianca no aeroporto paulista. A funcionária, vendo meu estado decrépito, perguntou, muy gentilmente, se eu aceitava antecipar, sem custos, o meu voo. Na hora, a febre baixou uns 20 graus e eu gelei: odeio ser confrontado com essa pergunta. Para mim, ela é mais decisória para o futuro de uma pessoa do que o Ser ou Não Ser de Hamlet. Mudar de Voo ou Não Mudar? Eis a verdadeira questão.

 
Mudar ou não mudar de voo? Eis a questão (citei Hamlet sim)

Mudar ou não mudar de voo? Eis a questão (citei Hamlet sim)

 

Não é questão de apego nem nada. Passo pelo mesmo dilema sempre que estou nos sites de companhias aéreas, pesquisando passagens. “Compro a das 15h? Ou a das 16h30?”. E o motivo é um só: como decidir, olhando para aquela tela do computador que te olha impávida, como uma verdadeira esfinge enigmática, qual será o melhor voo? Qual o voo que, isola, toc, toc, toc na madeira, não vai cair? Sim, para uma pessoa panicada, essas são as dúvidas que rondam a cabeça desde a hora do planejamento da viagem. “E agora? Os dois voos custam o mesmo preço. Ferrou. Escolho o primeiro? Ou o segundo? Ai, meu Deus, tem uma terceira opção ali embaixo, escondida”.

Pode parecer engraçado contando assim, mas a real é que há muito sofrimento envolvido. Eu, quando estou concluindo a compra de uma passagem, sempre penso: “droga, acho que deveria ter pego a outra. Esse avião que escolhi vai cair, com certeza”. Mas acabo nunca voltando atrás, apesar da vontade de ligar para a empresa aérea e cancelar tudo. E continuo vivo, é claro.

 
Vocês também dão tela azul nessa hora? E agora?!! Mudar de voo é tranquilo para vocês?

Vocês também dão tela azul nessa hora? E agora?!! Mudar de voo é tranquilo para vocês?

 

Após todos esses preâmbulos, a atendente da Avianca em Guarulhos continua esperando minha resposta e não posso mais divagar. “Não, moça, deixa como está mesmo”, digo, para em seguida pensar: “será que era o destino me oferecendo uma modo de escapar da morte? Será que o voo mais cedo salvaria minha vida?”. Entre calafrios, devaneios e remédios para a ansiedade, acabei indo parar na enfermaria do aeroporto de Guarulhos (sim, os maiores aeroportos têm esses espaços, com profissionais da área de saúde prontos a ajudar.) A de Guarulhos é ótima, passei deliciosas horas deitado no escurinho. Só não vale fingir uma queda de pressão ou algo similar para se aproveitar da benesse, hein? Vamos deixar o espaço vago para quem realmente precisa.

Ah, e peguei o voo normal, que estava programado há meses. Obviamente não caiu.

E é isso, minha gente. No final fica tudo bem, mesmo que a gente pense o contrário. Com esse atual imbróglio com a Avianca Brasil — a empresa entrou em dezembro passado com pedido de recuperação judicial e está cancelando rotas —, muitos passageiros e passageiras estão tendo que mudar de voo. Não façam como eu, que tende a achar que tudo é golpe do destino. Vamos embarcar nas mudanças.

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