O 11 de setembro deixou algum trauma em você?

“Acorda, rapaz, o mundo tá acabando”.

Foi com esse angelical bom dia que despertei naquele 11 de setembro de 2001. Quando o celular tocou e atendi a ligação de meu paquera, não imaginava que receberia aquela “galinha voando nos peito”, como dizemos aqui na Bahia. O fim de semana prolongado pelo feriado da Independência do Brasil tinha sido idílico, em Itacaré, uma praia linda perto de Ilhéus. Mas as recordações se apagaram como o fim de um sonho bom. Ele me mandou sair da cama e ligar a TV. Obedeci. Naquela época ainda morava com meus pais. Entrei sonolento na cozinha e vi a TV ligada e minha mãe chorando. Que estranho. A diarista, tão confusa quanto, me perguntou: “vocês têm parentes nos Estados Unidos?”. “Parentes, Estados Unidos? Oi?”.

 
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Aos poucos fui me inteirando dos acontecimentos daquela manhã, entre um carinho em minha mãe em prantos, um esclarecimento à diarista e um gole de café. Os ataques estavam sendo transmitidos ao vivo, para todo o mundo. Não lembro agora de um outro evento com o mesmo peso de divulgação de massa em tempo real — e olha que os smartphones e suas mil funcionalidades e aplicativos ainda não eram realidade. Será que preciso dizer como foi esse ataque? Será que alguém no planeta não ficou sabendo do 11 de setembro, que hoje completa 18 anos? Resposta: claro que preciso contar, pelo menos um resumo.

Os ataques que deixaram o mundo com os olhos fixos nas televisões foram coordenados pela rede terrorista islâmica al-Qaeda. Por favor, não confundir a fé muçulmana com tais atos, é bom ressaltar. Como foi divulgado com o decorrer das investigações, o grupo armado treinou jovens em escolas de pilotagem para que pudessem invadir a cabine de voos comerciais, sequestrar os aviões e jogá-los contra alvos americanos em solo, como acabou ocorrendo com as duas torres dos prédios World Trade Center, em Nova York; e o Pentágono, em Washington. Um quarto avião caiu no Estado da Pensilvânia. Segundo investigações, as passageiras e passageiros conseguiram invadir a cabine e a confusão acabou levando à queda (existem teorias segundo as quais caças norte-americanos derrubaram o aparelho, mas isso nunca foi comprovado). Sobre esse acidente há um ótimo filme, o Voo United 93, dirigido por Paul Greengrass (de A Supremacia Bourne e O Ultimato Bourne). Para quem não tem medo de tramas envolvendo desastre aéreo é um prato cheio. Voo United 93 foi indicado em 2007 a dois prêmios Oscar: melhor diretor e edição.

 
Filme Voo United 93, sobre o avião acidentado na Pensilvânia, teve duas indicações ao Oscar

Filme Voo United 93, sobre o avião acidentado na Pensilvânia, teve duas indicações ao Oscar

 

No total, quase três mil pessoas morreram durante os ataques, incluindo os 227 civis e os 19 sequestradores a bordo dos aviões. No exato local onde estavam as Torres Gêmeas hoje está um impactante memorial. São duas fontes “invertidas”. No centro dos espelhos-d’água, quadrados como os prédios, há um buraco, um grande escoadouro que leva tudo para um lugar que não vemos bem. O nome das vítimas fatais estão gravados em placas ao redor das duas fontes. É bem lindo e emocionante. Há ainda um museu sobre os ataques no local, mas esse eu não tive muito interesse de conhecer quando visitei a cidade, em 2014.

 
Memorial às vítimas do 11 de setembro fica no exato local onde estavam as torres e foi concebido pelo arquiteto Michael Arad

Memorial às vítimas do 11 de setembro fica no exato local onde estavam as torres e foi concebido pelo arquiteto Michael Arad

 

Os voos sequestrados foram:

  • Voo 11 da American Airlines: o Boeing 767 deixou o Aeroporto de Boston às 7h59 com rota para Los Angeles e uma tripulação de 11 membros e 81 passageiros, (sendo cinco sequestradores). Os terroristas colidiram o avião contra a Torre Norte do World Trade Center às 8h46;

  • Voo 175 da United Airlines: o Boeing 767 deixou o Aeroporto de Boston às 8h14 em rota para Los Angeles com uma tripulação de nove membros e 56 passageiros (sendo cinco sequestradores). Os terroristas colidiram o avião contra a Torre Sul do World Trade Center às 9h03;

  • Voo 77 da American Airlines: o Boeing 757 deixou o Aeroporto Internacional Washington Dulles, na Virgínia, às 8h20 em rota para Los Angeles com uma tripulação de seis membros e 58 passageiros (sendo cinco sequestradores). Os terroristas colidiram o avião contra o Pentágono às 9h37;

  • Voo 93 da United Airlines: o Boeing 757 deixou o Aeroporto Internacional de Newark às 8h42 em rota para São Francisco, com uma tripulação de sete membros e 37 passageiros (sendo quatro sequestradores). Depois que os passageiros se rebelaram, os terroristas derrubaram o avião no chão, perto de Shanksville, na Pensilvânia, às 10h03.

 
Imagem mostra os desvios feitos pelos sequestradoras em quatro voos que decolaram de Washington, Nova York e Boston na manhã de 11 de setembro de 2001

Imagem mostra os desvios feitos pelos sequestradoras em quatro voos que decolaram de Washington, Nova York e Boston na manhã de 11 de setembro de 2001

 

Talvez você tenha notado a ausência de fotos do choque dos aviões com as torres. Bem, acho que, por serem imagens muito impactantes, ficar reproduzindo e vendo essas imagens têm um efeito negativo em pessoas mais susceptíveis ou que já possuem um histórico de fobia de voar, não é mesmo?

Os ataques deixaram marcas em muitas pessoas, entre elas a gerente administrativo Mariana Cardoso, que virou panicada após o 11 de setembro. “Depois dessa tragédia, toda vez que voava eu tinha medo que acontecesse algo parecido”, conta. Um fato marcante foi que, dias após a queda das Torres, o pai de Mariana tinha agendada uma viagem a trabalho para os EUA, mas acabou não viajando. “Como ele tem traços árabes, aí é que jamais iria mesmo”, conta. A perseguição a pessoas que fossem ligadas de alguma forma ao mundo árabe, seja por aparência, língua, religião ou vestimentas, foi um marco (muito triste) nos EUA no pós-11 de setembro. “Nunca voei nessa data. Não conheço Nova York, mas morro de vontade de conhecer. É muito contraditório o meu medo, porque eu tenho pânico, mas amo viajar. Pretendo visitar a cidade e ir nesse local (onde estavam as Torres Gêmeas), dizem que é muito intenso”, afirma Mariana.

Eu particularmente não sinto meu lado panicado ficar mais aguçado ao ler sobre sequestros. Tomar aviões de assalto de fato era uma modalidade muito comum na segunda metade do século 20, sendo a maioria das vezes com cunho político por trás da ação (exigir libertação de presos ou chamar a atenção para alguma causa). Mas isso acabou ficando no passado, em parte pelo aumento na segurança dos aeroportos. Entre as modificações implementadas nas últimas décadas está um controle mais rigoroso de acesso à cabine de pilotos, inclusive com mecanismos de segurança nas portas dos cockpits; e um maior controle na inspeção de bagagem de mão e passageiros, incluindo revistas por parte dos funcionários. Também houve um aumento no compartilhamento de dados para checagem do histórico das pessoas que voam. Essas listas são controversas, e há inúmeros casos de denúncias, sobretudo nos EUA, de passageiros que alegam ter sido incluídos no rol de proibição para voar por conta de questões muito subjetivas e injustas, como, por exemplo, ter um nome de origem árabe.

Polêmicas à parte, creio que tudo isso só deixa a experiencia de voar cada vez mais segura. É isso que nós, panicadas e pancadas, temos de ter bem claro toda vez que a aerofobia ameaçar tomar controle de nossas mentes e corações.

E você? O 11 de setembro marcou sua vida? Mexeu ou ainda mexe com seu medo de voar?

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