Novo coronavírus e as mudanças nos planos de viajantes: cancelamento de viagens, dificuldades no reembolso e mais
O novo coronavírus, causador da doença conhecida como Covid-19, está afetando de forma contundente o turismo mundial. A União Europeia anunciou hoje o fechamento de suas fronteiras por um período inicial de 30 dias em uma tentativa de controlar o avanço do vírus. Todos os estrangeiros estão, portanto, proibidos de entrar nos 27 países que fazem parte do bloco e mais quatro nações que pertencem à zona Schengen: Islândia, Noruega, Suíça e Liechtenstein. Vale destacar que, entre os dez países mais visitados do mundo, cinco são da Europa: França (1º), Espanha (2º), Itália (5º), Alemanha (8º) e Reino Unido (10º).
Em alguns deles, como a Itália (onde começou o surto no continente) e a Espanha, as pessoas têm de ficar em casa e só podem sair para comprar comida e medicamentos, ir ao hospital ou por causa de outras situações de máxima urgência. Circulam pela internet imagens e vídeos impressionantes de locais vazios e que tradicionalmente deveriam estar cheios de visitantes, como os becos de Veneza e a praça de São Pedro, no Vaticano (Ok, oficialmente o Vaticano é um outro país, mas acabou fechando as portas também). Vale lembrar que o novo coronavírus chegou também por aqui no Brasil. O primeiro caso confirmado foi em 25 de fevereiro, em São Paulo, em um paciente que veio justamente da Itália. Os governos do Rio de Janeiro e de São Paulo cancelaram eventos esportivos e culturais, em locais abertos ou fechados. Também há suspensão de aulas em diversos Estados, como Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
As companhias aéreas já sentem as mudanças causadas com o medo das pessoas em viajar. Na quinta-feira passada, Latam e Azul anunciaram uma redução de até 30% nos voos internacionais. Em nota, a Latam afirmou que a medida será aplicada para voos da América do Sul à Europa e aos EUA, entre 1º de abril e 30 de maio de 2020. Vale lembrar que na quarta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou medida de restrição de viagens entre o país e a Europa para tentar conter o avanço da doença em território americano. “Algumas companhias aéreas não devem aguentar”, disse ao jornal O Estado de São Paulo o consultor André Castellini, sócio da Bain & Company. Na semana passada, foi a vez da gigante Korean Air declarar oficialmente que, se o cenário não mudar logo, pode não sobreviver à queda nas vendas de passagens. Segundo a Associação Internacional do Transporte Aéreo (IATA), em comunicado do dia 5, o setor pode perder até US$ 113 bilhões, ou cerca de R$ 560 bilhões. O anúncio foi feito antes das medidas restritivas de Trump. Estima-se que o mercado entre Europa e EUA some US$ 20 bilhões (R$ 100 bilhões, aproximadamente) a cada ano.
A Latam, Gol e Azul (que juntas representam 97% dos bilhetes domésticos comercializados) anunciaram anteontem a flexibilização de suas políticas de alteração ou cancelamento de passagens aéreas nacionais, devido à pandemia do coronavírus — o nível máximo foi declarado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) na quarta-feira. O termo é utilizado quando uma epidemia — ou seja, um grande surto que afeta uma região — se espalha por vários continentes. Atualmente, há mais de 115 países com casos declarados de pessoas infectadas com o vírus.
O ótimo site Melhores Destinos está com um especial sobre o novo coronavírus, com matérias orientando viajantes a, por exemplo, como proceder em caso de pedidos de adiamento ou reembolso, inclusive de companhias aéreas internacionais. O link está aqui.
(Acabei de receber uma mensagem de um amigo do Rio de Janeiro que vinha me visitar no fim do mês, avisando que mudará a data da passagem por conta do vírus….).
Fui, então, atrás de casos de pessoas que estão cancelando viagens ao exterior ou esperando até o último minuto para ver como a doença se comporta nos próximos meses. Choveu gente pra contar suas histórias! Tanto é que eu tive de parar de fazer entrevistas (todas pelas redes sociais, já que estou evitando o contato com o mundo lá fora) pois não estava dando conta dos inúmeros relatos.
A servidora pública aposentada Emilia Aldonce viajaria no dia 7 de maio para algumas cidades do norte da Itália (região mais afetada daquele país), como Milão, e nações vizinhas nos Bálcãs, como a Croácia. Seria uma longa viagem de lazer (35 dias) esperada há muito tempo. Ela ia com o marido, o irmão e a cunhada. Tudo reservado: voos internacionais e internos, hotéis, acomodações via plataforma Airbnb, aluguel de carro, passagens de ônibus e ferry-boat e entradas em parques. “Tudo preparado com muita antecedência e após muita leitura e conversa entre nós”, afirma Emilia. Algumas reservas eles aparentemente conseguirão cancelar sem custo, como aquelas feitas pelo site booking.com, de hospedagem. O valor gasto com empresas de aluguel de automóveis também está quase certo que retornará aos bolsos dos quatro. Nada ainda foi confirmado, mas as tratativas apontam resultados positivos e cerca de R$ 9.500 devem voltar para as contas de Emilia e familiares.
De algumas reservas, feitas na modalidade mais rigorosa (na qual o preço sai mais em conta, mas as condições de devolução são mais severas), ela não espera reaver o investimento. É o caso do Airbnb de Dubrovnik (Croácia). “A plataforma propõe devolver apenas as taxas. Escrevi uma mensagem justificando o cancelamento por conta da pandemia, mas ainda não obtive resposta”, diz a aposentada. O valor: R$ 3.430. De lá, o grupo iria para Roma. Eles devem “perder” também o que pagaram de passagens pela Vueling, que, sendo uma companhia low-cos, costuma ser bem rígida com reembolsos: mais R$ 1.400 perdidos. Outras despesas que não serão devolvidas dão cerca de R$ 1.350. O maior gasto, com as passagens aéreas para o velho continente, também está em suspensão. Eles iam voar pela Air Europa e gastaram, no total, R$ 9.000, aproximadamente. “Depois da declaração de pandemia e das crescentes restrições de deslocamento, não consegui mais contato (com a empresa aérea)”, diz.
A advogada Glenda Moreira também tinha a Itália como destino (de lua de mel). A viagem, com voos de ida e volta pela Air Europa, está marcada para o dia 29 de maio (“mas com chances quase zero (de acontecer)”, conta Glenda). Doze dias entre Roma, Florença, Veneza e Milão, cidade onde assistiriam (ou assistirão) ao show da banda Green Day. O espetáculo ainda não foi cancelado e consta no site oficial do grupo. Glenda está atenta às notícias que chegam da Itália, mas ressalta o alto número de mortes por lá. Mesmo que façam a viagem, ela tem medo de encontrar os pontos turísticos fechados. “Imagina ir a Roma e não visitar o Vaticano?”, prevê. O marido se preparou bastante: comprou seis livros sobre a Itália, entre história geral, história da arte e guia. Também assistiu a aulas sobre o país na internet, oferecidas pela Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp). Quando conseguiu contato com a Air Europa, Glenda foi informada que poderia adiar para até 31 de dezembro deste ano, mas para ela é inviável viajar em outra data ainda em 2020. A justiça será acionada se for o caso, garante a advogada.
Quem também viu a viagem romântica dar “ciao” foi o empresário Jorge Martins, que ia para Roma, Florença e Paris com a namorada, Jéssica. E foi um parto conseguir se planejar! Primeiro a grana estava curta. Ok, trabalhos na agência de Jorge pintaram e entrou uma verba que possibilitaria a viagem. Depois, a namorada engravidou. Mas os dois mantiveram os planos. Seria a primeira viagem internacional dela, um sonho há muito cultivado (“e com o bebê vamos ficar uns dois anos sem viajar, né?”, diz ele). Passagens compradas, hotéis reservados e….novo coronavírus. Solução? Manter Paris, tirar a parte italiana e incluir Barcelona na jogada. A substituição logo se mostrou impossível. No sábado, o presidente francês Emmanuel Macron decretou o fechamento de uma série de estabelecimentos, como bares, restaurantes, lojas e qualquer outro negócio não-essencial para a manutenção da sociedade francesa funcionado. A Espanha, como já dito nesta matéria, também decretou quarentena antes mesmo da UE se pronunciar nesta segunda-feira. Game over (por enquanto) para os sonhos de viagem do casal. “Além do investimento financeiro, que não é baixo, tem um investimento emocional. Mas decidimos cancelar. Estamos tristes. Algumas coisas não vamos conseguir reaver o dinheiro. Mas é do jogo”, diz.
Fanático pelos filmes de James Bond, o produtor e roteirista Bruno Porciuncula estava super animado com a viagem que faria à Europa, para ver a pré-estreia do novo lançamento da franquia, No Time to Die (Sem Tempo para Morrer). Ele é tão fã que ia para duas sessões…em países diferentes! Uma em Londres, na Inglaterra; outra em Oslo, na Noruega. Ele pagou R$ 4.800 pelas passagens na TAP Air Portugal. Reaver o gasto com hospedagem foi fácil. Mas a parte aérea tem dado dor de cabeça. A companhia está cobrando uma taxa de R$ 1.850 pela remarcação, quase 40% do valor da tarifa paga por Bruno.
Segundo especialistas, para conseguir o menor preço em uma viagem internacional é preciso comprar com uma antecedência de 30 a 60 dias na baixa temporada e de 60 a 120 dias na alta temporada. Os meses de março, abril e maio são tidos como meses mais baratos para viagens com destino ao hemisfério norte, então convém esperar um pouco antes de comprar, mesmo que muita gente ache que quanto mais cedo, melhor. Quem resolveu esperar, e de certa forma se deu bem, foi Selma Santos, diretora-geral do Festival Internacional de Artistas de Rua da Bahia, que aconteceria de 19 a 27 de março e passou para novembro, em Salvador, Senhor do Bonfim e Morro do Chapéu. “Optamos por adiar a realização do evento evitando, desta forma, grandes concentrações populares e a disseminação do Covid-19. A decisão se deve à segurança e ao cuidado com a saúde do público, dos artistas e de toda a equipe do Festival”, informou a organização no site. Cerca de 22 convidados de outros Estados e países viriam para o evento agora em março. “Não houve (prejuízo) porque nós não formalizamos a compra (das passagens), pois a gente já vinha acompanhando as notícias da China e só fizemos reservas, sem adiantar nenhum pagamento a ninguém. Fomos bem cautelosos”, diz Selma. Salva pelo gongo!