Nenhum piloto! — Empresa já tem tecnologia para realizar voos 100% autônomos
Já pensou entrar em um avião, esperar a decolagem, depois o pouso, e quando estiver saindo e for cumprimentar o piloto pela viagem reparar que a aeronave voou sozinha? Pois isso está longe de ser ficção (apesar de ainda não ser uma realidade). Depois dos voos com apenas um tripulante na cabine, como contamos aqui nesta matéria do rivotravel, agora chegou a vez de falar dos aviões que fazem tudo sozinhos, graças à alta tecnologia. Para desespero de muitos, inclusive o meu, é claro.
Quem deu o primeiro passo foi a Airbus, uma das gigantes do setor aeroespacial. Ela realizou testes bem sucedidos nos quais o avião fez o taxiamento (as manobras em solo, após sair do terminal), decolou, voou e pousou sem interferência de um piloto a bordo — por segurança, tripulantes acompanharam tudo dentro da cabine. A aeronave utilizada foi a A350-1000XWB, uma das mais modernas do setor. Vale ressaltar que voar em piloto automático (tecnologia que existe há décadas) e mesmo pousos autônomos já existem, sobretudo em aeroportos com equipamentos em solo que auxiliam a aproximação precisa do avião à pista. No teste da Airbus, tudo que o piloto precisou fazer foi alinhar o avião antes da clássica acelerada rumo ao céus. O nome do sistema desenvolvido pela companhia europeia é ATTOL (em inglês, Autonomous Taxi, Take-Off and Landing).
Um executivo da Ryanair, operadora irlandesa low-cost, afirma que aviões não tripulados devem começar a voar comercialmente entre 2050 e 2060. Segundo matéria do portal UOL, citando uma pesquisa da empresa suíça de investimentos UBS, a tecnologia sem pilotos iria gerar uma economia de US$ 35 bilhões por ano ao setor de aviação. Boa parte do corte seria basicamente com salários que deixariam de ser pagos. Vale ressaltar que existe uma grande escassez de pilotos no mercado. As empresas aéreas reclamam que houve uma queda na procura por esta profissão. Além disso, há um aumento substancial no número de voos nos últimos anos. Segundo a proposta da Airbus, todo o controle do comando dos aviões seria realizado de forma remota, por meio de pilotos instalados em centrais de comando. Em solo.
Christian Scherer, diretor comercial da Airbus, disse à Associated Press que a tecnologia para aeronaves autônomas está pronta O problema reside em um fator essencial: confiança. “Quando poderemos introduzir isso [a tecnologia autônoma] em uma aeronave comercial de grande porte? É uma questão que estamos discutindo com reguladores e clientes, mas no que diz respeito à tecnologia, não vemos impedimentos”, garantiu Scherer.
Essa questão de confiança parece ser realmente o maior impeditivo, ainda mais considerando que parte considerável das passageiras e passageiros sofrem com o medo de voar. É curioso que não temos nenhum problema de, por exemplo, entrar em um metrô sem maquinista, controlado pela cabine de comando central — muita gente nem deve saber que isso existe. No Brasil, um exemplo disso está em São Paulo, na linha 4 amarela, na qual os trens nem possuem sala de controle nas extremidades dos vagões. Eu já andei algumas vezes na tal linha e nem sabia que não havia controlador a bordo. Talvez o fato de estar sobre trilhos e não decolar ajude a superar a desconfiança dos usuários.
As panicadas consultadas pelo rivotravel disseram um “não” em uníssono à proposta das empresas de eliminar todos os tripulantes das cabines de comando dos aviões nas próximas décadas. “Ter o avião pilotado a distância me faz crer que em uma situação mais grave ou uma situação de perigo, nosso cérebro primitivo vai pensar em se salvar primeiro antes de salvar qualquer pessoa. Por isso traz um certo conforto saber que o piloto está ali junto no avião, e vai fazer de tudo em casos de emergência”, afirma a administradora Juliana Duarte.
“Em uma viagem que fiz (todas dentro do Brasil, nem consigo imaginar ficar muito tempo em um voo) eu chorei tanto na subida, porque o avião deu “barrigadas” e tremidas, que um cara morreu de rir. Um voo não tripulado seria um pesadelo na Terra. Prefiro as pessoas rindo de mim!”, conta a advogada Rachel Leite. Graziela Silva, colega de profissão de Rachel, assina embaixo. “Eu não conseguiria voar em um voo não tripulado, acho que a máquina ainda não consegue substituir totalmente o homem. Cito como exemplo o acidente no rio Hudson (em Nova York). Se não fosse a participação ativa do comandante do voo que pousou com maestria no rio Hudson, com certeza aquele teria sido um acidente fatal”, afirma Graziela, citando o pouso de emergência sem vítimas de um Airbus da US Airways em 2009 — este caso virou filme e rendeu matéria aqui no site. O rápido poder de decisão do piloto, ao optar por um pouso sobre as águas ao invés de tentar retornar ao aeroporto foi reconhecido como fundamental para a sobrevivência de todos e todas a bordo.
Eu concordo com as panicadas ouvidas pelo rivotravel. Avião já é ruim. Sem piloto, então… Como toda novidade, demorará um pouco para ganharmos confiança —acredito que até quem não tem aerofobia hesitará com a ideia de embarcar nessa. Certamente estes novos modelos se demonstrarão seguros com o tempo, mas de todo modo vou deixar para encarar esse dilema no futuro, pois já deu taquicardia aqui!