Metas para o ano novo: deixar de ter medo de voar é possível?
Uma coisa que eu nunca entendi muito bem é essa onda de resoluções de ano novo. Lembro uma vez, na escola, nem sei que idade tinha, e a professora propôs isso, escrever coisas que gostaríamos de mudar em nós mesmo no ano seguinte. Fiz um esforço danado para cumprir a tarefa. Não que eu me achasse perfeito, bom frisar. Mas não entendia como o fato de colocar no papel aquilo ia transformar meu “eu” futuro.
E eis que agora, no fechar desse fatídico 2021, me vejo escrevendo sobre isso. Será que alguém ainda faz esse exercício de futurologia misturado com mentalização positiva? Quem quer mudar algo em si pode fazer isso qualquer dia, numa quarta-feira chuvosa, por exemplo. Não precisa se vestir de branco e fazer contagem regressiva. Eu mesmo parei de fumar em 21 de abril de 2020. Sem resoluções nem nada.
Claro que não quero, com esse texto, ditar regras. Gosta de fazer uma listinha de resoluções quando dezembro vai chegando ao fim? Que bom! O que não serve para mim pode perfeitamente fazer sentido para outra pessoa.
E o rivotravel com isso tudo? Será que alguém arriscaria dizer “quero um 2022 sem medo de avião”? Será que é tão fácil assim? Eu, particularmente, acho que não. Quem sofre com aerofobia sabe: não é uma decisão, ninguém acordou dizendo “hoje vou ter pânico de voar”. Não dá pra desligar a chave que faz essa louca engrenagem da fobia funcionar.
Não dá, por exemplo, para dizer: “a minha próxima viagem vai ser diferente”. Não vai. Sinto dizer que vai ter sofrimento, vai ter drama, talvez algum choro. Vai ter aflição na hora de comprar a passagem, vai ter quase desfalecimento no momento de ir ao aeroporto, vai rolar um tremor nas pernas na hora de embarcar e por aí vai. Quem queremos enganar, não é mesmo? E como dizem: “é sobre isso e tá tudo bem”.
Mas dá para dar pequenos passos: começar uma terapia, por exemplo. Muitas leitoras e leitores relatam melhorias no medo de avião após um certo número de sessões (quantas? Aí depende…). Eu acho que passar a frequentar um bom psicólogo ou psicanalista sempre é bom, sem contraindicações. Que mal há, não é mesmo? Tem a questão financeira, é preciso ressaltar. Não é barato. Mas se tiver como rearrumar o orçamento e ver que dá para fazer esse investimento, isso pode ser uma boa resolução.
E muitas vezes é preciso de uma ajuda de medicamentos — e não há vergonha alguma em dizer isso. Nesse caso, a meta de ano novo é procurar um psiquiatra de confiança. Sei que a palavra “psiquiatra” já assusta meio mundo de gente. “Médico de doido”, devem dizer alguns. Puro preconceito. Se você tem um problema no estômago, vai ao gastro, não é? Então, se o problema é de cunho emocional-psicológico-psiquiátrico, é preciso ir no médico que trata dessa nossa área do corpo (a saber, a cachola).
Aproveito para indicar aqui o Arquivo rivotravel #02: Medo de voar — ajuda especializada, medicações, terapias e dicas. Nesse compilado de matérias que fiz pro site é possível ter acesso a algumas terapias que podem funcionar como paliativos para a aerofobia. Entre elas a risoterapia e a musicoterapia, além de dicas para se distrair em um voo.
E daí se não conseguirmos deixar nossos medos em 2021? Por acaso tem alguém com um cronômetro estabelecendo metas para cada um de nós? Acho que não. E mesmo que tal figura exista (marido, esposa, patrão…), mande a pessoa… se informar (de preferência aqui no rivotravel)! Medo de voar não é besteira, não é simples como dizer “avião é seguro”. Não funcionamos assim. E ainda bem que não. Ser robô perfeitinho deve ser bem chato.