Doses curtas #05
Voo Estocolmo (Suécia) — Bergen (Noruega) pela Norwegian. Só sei que fui o último a desembarcar por motivos de: tive de ser semiarrastado (odeio essa reforma ortográfica).
Não me lembro de NA-DA do voo — nem mesmo dessa foto. Foi ótimo.
Sabe voo noturno, quando eles deixam a cabine semi-iluminada para a decolagem? Pois eu odeio isso. PQP, se a bagaça não sair do chão, quero estar bem vendo tudo pra sair correndo. Enfim. Aeroporto de Guarulhos, horário de pico. Fila de aviões para decolagem. Eu quase em posição fetal de tão panicado que estava. Começo a ouvir um monte de barulho de engrenagens. Sei que é normal, que é ajuste dos flaps nas asas — nota: flaps são dispositivos nas asas usados para produzir a melhor combinação de sustentação (máxima) e arrasto (mínimo), permitindo que a aeronave percorra a menor distância no solo antes de atingir a velocidade de decolagem (Wikipédia? Talvez rs). Acho que depois isso rende um post mais técnico. Enfim, eu sabia que aqueles barulhos eram normais. Era um voo da Avianca, gravei bem a cara dela. Eu estava na penúltima fileira, no corredor; meu lugar favorito, pronto para uma possível fuga.
Eu (pro comissário, sentadinho lá atrás): “Oi”.
Silêncio (da parte dele. O avião, por sua vez, parecia a bateria de uma escola de samba, de tanto barulho que fazia).
Eu (mais alto, já hiperventilando): “Oi!”
Silêncio sepulcral.
Eu: “OIIIII!” (as in “responde, caralho!”).
Comissário (estica a cabecinha pra ver quem era o louco gritando): “Pois não, senhor?”.
Eu: “Esses barulhos, eles são normais?”
Comissário: “São, sim, senhor”
Eu: “Você poderia perguntar ao piloto se está tudo bem? Eu tenho pânico de avião (juro que disse isso).”
Comissário: “sim, senhor”
Dá uns seis segundos e o comissário responde: “Está tudo OK, senhor”.
CA-LA-RO que ele nem triscou no fone para falar com o piloto. Mas toda aquela mise-en-scene, o fato de botar aquilo pra fora, tudo aquilo me tranquilizou.
Em tempo: a decolagem foi maravilhosa. Estou vivo para contar.
Uma vez eu estava tão grogue, mas tão grogue num voo que, saindo do banheiro, uma comissária veio toda simpática perguntar se eu precisava de ajuda — provavelmente ela percebeu que eu estava um pouco alterado. Não sei o motivo, não sei se é um complexo de Édipo mal resolvido, se foi a coordenação motora comprometida, só sei que eu tentei afavelmente colocar a mão no ombro dela e dizer “brigado, não precisa, não, tá tudo bem”. Eu disse tentei? Sim. Porque o meu cérebro derretido pelos remédios ordenou que minha mão pousasse no peito da solícita moça. Com a mão em forma de concha, para acoplar bem. Meninas e meninos, não sei como não deu um rebu daqueles no voo. Até dizer que eu era gay eu disse, para tentar contornar a situação.