Como tive uma grande lição em um filme sobre acidente aéreo — e que está na Netflix
Olá, caras panicadas e panicados, como vão? Finalmente estreou na Netflix aqui no Brasil um filme que eu tava doido pra ver e acabei perdendo quando passou nos cinemas, e o recomendo a quem tem pânico de voar, como direi mais adiante no texto. Trata-se de Sully — o Herói do Rio Hudson, produzido e dirigido pelo genial Clint Eastwood e estrelado por Tom Hanks no papel principal, além de Aaron Eckhart, Laura Linney e Anna Gunn (a Skyler White da maravilhosa série Breaking Bad). Não sou de dar spoiler, mas como é baseado em fatos reais que foram super noticiados à época e todo o acidente já é contado no começo do filme, tomo a liberdade de falar um pouco sobre a história narrada no longa-metragem.
O filme é sobre o acidente (que de fato ocorreu, como já disse) do voo US Airways 1549. No dia 15 de janeiro de 2009, o Airbus A320 da empresa norte-americana, pilotado por Chesley Sullenbergen (o “Sully” do título) e auxiliado por Jeffrey B. Skiles (vivido por Eckhart), decolou do aeroporto nova-iorquino de LaGuardia com destino a Charlotte, no Estado da Carolina do Norte. Levava 150 passageiros e três comissárias de voo. Era uma típica tarde fria e cinzenta de inverno no hemisfério norte. O Airbus decolou às 15h25 e, minutos depois, quando ainda estava em subida, chocou-se com um bando de Gansos-do-Canadá. Alguns pássaros do gansaral (amei esse coletivo, não conhecia; obrigado, Google) foram sugados pelos motores, que pararam de funcionar imediatamente.
Já está ofegante imaginando a cena? Peço calma. Acontece que, se todos os motores param, o avião não cai imediatamente, como uma pedra. Em 2001, por exemplo, um voo da Air Transat entre Toronto e Lisboa ficou sem combustível durante o voo devido a uma falha na manutenção de uma peça e consequente rompimento de um cano de combustível do Airbus A330 que fazia a rota. O avião, sem empuxo nos motores, voou ainda por meia hora até conseguir fazer um pouso de emergência nos Açores, no Oceano Atlântico. Isso mesmo, planando. Não houve vítimas fatais.
Se o Airbus da Air Transat conseguiu se manter no ar por tanto tempo, então, ao comandante Sully do voo 1549, que tinha acabado de decolar, bastava voltar ao aeroporto de LaGuardia e fazer um pouso, correto? Mas o Airbus da US Airways estava em baixa altitude (havia decolado minutos antes, ou seja, ainda não tinha atingido altitude de cruzeiro) e sobrevoando uma das áreas mais densamente povoadas do planeta. Em questão de segundos, o personagem interpretado por Tom Hanks (Sully também é especialista em segurança de voo) teve de tomar a decisão: tentar voltar a LaGuardia ou fazer um pouso forçado? Optou por planar com o avião até o rio Hudson e lá pousar. Assim como no caso da Air Transat, ninguém morreu no acidente (fato já adiantado pelo tal “herói” do título do filme em português; em inglês é apenas “Sully”). Os dois pilotos e a tripulação foram, posteriormente, condecorados pelos atos de bravura.
Não vou contar mais para não estragar as surpresas. Sim, ainda tem coisas do enredo que não contei aqui. Sully — o Herói do Rio Hudson teve um indicação ao Oscar na categoria melhor edição de som (confesso que não me chamou a atenção, mas raramente reparo no som de um filme, então…). A obra tem 85% de aprovação no site especializado Rotten Tomatoes. E foi avaliado positivamente pela crítica. Para o New York Times, “Clint Eastwood está muito bem em seu papel como diretor, utilizando todo o seu talento para dar tensão ao filme ao mesmo tempo em que cria uma biografia”. Já o Chicago Sun Times escreveu: “A montagem, os efeitos especiais e as performances são tão perfeitas que praticamente colocam o espectador dentro daquele voo. ‘Sully’ é um triunfo absoluto”. O Washington Post, por sua vez, classificou o longa como “uma ode elegante e muito satisfatória à competência. Parafraseando seu personagem principal, este é apenas um filme que faz o que deve fazer”.
E o que Sully fez comigo? Bem, sabe que no fim eu fiquei até tranquilo? Acho que, da próxima vez que eu tiver uma viagem, vou rever esse filme! Ele realmente me deu perspectiva interessante sobre um acidente aéreo, me fez pensar em coisas que nunca tinha imaginado. “Salvatore perdeu o juízo?”, você pode estar se perguntando. Mas pare para pensar. Sim, deu tudo errado naquela fria tarde de 2009. O avião se chocou com um gansaral (eu realmente amei essa palavra) em um dos momentos mais críticos de um voo, que é a decolagem — justamente a parte que eu mais odeio em uma viagem aérea. Os dois motores pararam de funcionar. O piloto teve apenas segundos para analisar a situação e decidir o que fazer. Resolveu planar até um rio em uma das maiores cidades do mundo e ali pousar. E ninguém morreu nem saiu gravemente ferido! Ou seja, mesmo quando as coisas dão muito errado (e isso é raríssimo na aviação), existe a grande possibilidade de, no fim, dar tudo muito certo e a situação não passar de um enorme (colossal?) susto. É ou não é para ter como mantra?