Como a musicoterapia pode te ajudar a trabalhar suas ansiedades
Em dezembro de 2019, fiz aqui no rivotravel uma matéria sobre a relação da música com o medo de voar e também com os viajantes de modo geral. Naquela ocasião, entrevistei, entre outras fontes e personagens, uma musicoterapeuta e achei o depoimento dela muito interessante, por apresentar uma forma científica de tentar vencer a aerofobia por meio dos sons. Sendo assim, fui pesquisar mais a fundo e resolvi fazer uma matéria específica aqui pro site somente sobre esse assunto.
Mas o que é a musicoterapia? Vamos deixar que “eles” mesmos se apresentem, não? No site da UBAM — União Brasileira das Associações de Musicoterapia, trata-se de “um campo de conhecimento que estuda os efeitos da música e da utilização de experiências musicais, resultantes do encontro entre o musicoterapeuta e as pessoas assistidas. A prática da musicoterapia objetiva favorecer o aumento das possibilidades de existir e agir, seja no trabalho individual, com grupos, nas comunidades, organizações, instituições de saúde e sociedade, nos âmbitos da promoção, prevenção, reabilitação da saúde e de transformação de contextos sociais e comunitários; evitando dessa forma, que haja danos ou diminuição dos processos de desenvolvimento do potencial das pessoas e comunidades”. A união ressalta que o musicoterapeuta é o profissional de nível superior ou com especialização, com formação reconhecida pelo MEC e com registro no órgão de representação de categoria.
Um pouco complicado, não? Para tentar lançar um pouco de luz nisso tudo, entrevistei Juliana Duarte Carvalho, musicoterapeuta e psicóloga clínica do Sírio-Libanês, hospital de referência em São Paulo (no hospital tal setor integra o núcleo de cuidados integrativos); e Cybelle Loureiro, coordenadora da área de Musicoterapia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), uma das sete universidades brasileiras que oferecem o curso de formação na área.
Juliana Carvalho explica que o medo ou fobia específica para voar pode estar ou não associada a outros transtornos de ansiedade, o que requer tratamento e acompanhamento adequados com psicólogos e psiquiatras. É de enorme importância, prossegue a profissional, que não haja negligência com estas questões de saúde mental, pois podem evoluir para outros transtornos, impedindo o fluxo normal e saudável da vida. Prejuízos pessoais, profissionais e sociais advindos do medo de voar, afirma, podem reforçar e mesmo aumentar os sintomas de ansiedade e até de depressão, ajudando a estabelecer modos de pensar, sentir e reagir disfuncionais. Ou seja, cara panicada, caro panicado, vamos nos cuidar, cada um como pode!
“A musicoterapia pode acompanhar e tratar pessoas com transtornos de ansiedade diversos como coadjuvante ou ainda ser a terapia principal (psicomusicoterapia), na qual técnicas e procedimentos específicos da área deverão ser avaliados e planejados para tal”, explica a psicóloga clínica do Sírio-Libanês. A psicologia pode utilizar a música como recurso material para seu trabalho diferentemente da musicoterapia, que se ocupa em organizar, expandir e explorar, dentre outras ações, a musicalidade da pessoa do ponto de vista clínico-criativo. São áreas afins com olhares e abordagens distintas.
Ela ressalta que a música como um recurso para estimulação, aprendizagem, como facilitador de expressão e também como distração, pode auxiliar psicólogos e musicoterapeutas para o medo de voar. Com os celulares, tablets e demais dispositivos, tornou-se mais fácil trabalhar com um repertório de músicas que seja único e exclusivo de cada pessoa, levando em conta que as músicas devem oferecer um suporte, uma espécie de refúgio momentâneo, um movimento de distração para tirar o foco do voo e de tudo o que possa estar relacionado a este medo.
“Reforço aqui que este trabalho deverá ser realizado em conjunto com um profissional que poderá ser o musicoterapeuta ou o psicólogo, uma vez que a música, neste caso, é o elemento que permite uma atenção trabalhada e orientada dirigida para “abstrair” ou distrair-se do foco do vôo As músicas são específicas para cada indivíduo, relacionadas sempre à sua história sonoro-musical pessoal”. Para uma lista completa de profissionais em cada estado, é interessante olhar o site da UBAM.
Já a professora da UFMG explica que a música vem sendo estudada como catarse emocional desde a Medicina Pitagoriana desenvolvida na Antiguidade pelo filósofo e matemático Pitágoras. Como ele viveu muitos séculos antes de Cristo, a maioria das informações sobre o estudioso foi recolhida séculos depois, deixando margem a imprecisões. Entretanto, é atribuída a Pitágoras a ideia segundo a qual a purificação da mente pode ser alcançada a partir de áreas aparentemente díspares, como Música, Geometria e Astronomia.
“O profissional musicoterapeuta especializado nessa área tem uma atuação interdisciplinar na qual em conjunto com as profissões das áreas afins idealiza a melhor forma de ajudar o indivíduo”, diz. Ela lista que dentre os cinco tipos de fobias mais comuns citadas no DSMR – 5 (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) são os medos relacionados a situações específicas, dentre eles o medo de viajar de avião. Mesmo assim, prossegue, é incomum que as pessoas procurem tratamento. Existem técnicas musicoterapeuticas preventivas, nas quais o indivíduo aprende a identificar seus sintomas em estágios clínicos diferentes.
Músicas em geral podem ter um caráter mais sedativo, quando existem poucas variações na melodia, no ritmo ou na harmonia, e músicas com maior variação de seus elementos estruturais são, ao contrário, consideradas estimulativas, exemplifica Cybelle. “É sabido que esses dois tipos de música exercem uma forte influência nas respostas fisiológicas e neuropsicológicas, modificando a pressão arterial, o batimento cardíaco, a sudorese, entre outras, e com isso provocam alterações no estado homeostático, que é o equilíbrio entre os sistemas fisiológico e neuropsicológico. O musicoterapeuta terá a função de programar uma seleção de músicas dentre as preferidas do cliente que atenda as diferentes situações desde momentos que antecedem a viagem, no aeroporto e durante o voo”, pontua a professora da universidade mineira. O uso de um bom headphone torna-se indispensável. Se interessou? Busque saber se há um profissional de musicoterapia em sua cidade. E depois conta aqui pra nós do rivotravel.