Cinco dicas que podem transformar sua viagem — #02
Dicas de viagens são infinitas, né? “Menina, você não pode deixar de ir naquela lojinha que fica atrás daquele restaurante naquela ruela em Tóquio”. “O quê? Você nunca foi na Sainte-Chapelle em Paris?”. “Olha, quando for ao mercado de Marrakesh, procure uma loja de temperos de um senhorzinho que trabalha lá há 80 anos. Você entra no mercado, vira à esquerda, depois conta três vielas, vira à esquerda novamente e anda 900 metros. Não tem erro ”.
UFA! “E eu só queria viajar e descansar”, diria você, cara panicada, caro panicado.
Mas a vida é assim mesmo, não é? Quando menos percebemos, estamos enchendo a viajante ou o viajante de dicas.
Então, se é pra dançar conforme a música, lá vou eu aqui no meu “Cinco dicas que podem transformar sua viagem — #02 “ (a parte #01 você pode ler aqui). Mas, ao contrário de dicas específicas de destinos, procuro aqui dar uns toques que podem facilitar a vida de quem sai de casa para conhecer esse mundão.
01) Não conte muito com os dias de chegada e partida
Eu já abordei esse assunto no meu guia sobre Roma. Os dias de chegada e partida de uma cidade podem ser dias meio perdidos. Ou seja, aqueles cinco dias programados para Paris, que pareciam suficientes para ver o básico do básico, podem se transformar em apenas três, Como? Explico.
Vou ser bonzinho e cogitar que você chegue cedo em Paris, pousando umas 7h. Se estiver voando de Ryanair (que é a campeã no transporte de passageiros na Europa; só em 2019 foram 152 milhões deles), sua aeronave muito provavelmente chegará em Beauvais, aeroporto que, brinco eu, fica a meio caminho entre Paris e Bélgica. Aí você leva aquele tempão para desembarcar, pegar malas, se localizar no aeroporto, procurar saber de onde sai o ônibus que leva a Paris etc. Digamos que você parta de Beauvais umas 8h30. Dificilmente chegará em Paris antes das 10h. E não é no centro, não. Ainda tem de arrastar as malas para a estação de metrô mais próxima, encarar uma fila enorme e caótica para comprar os tíquetes (uma vez eu tive até de expulsar uma adolescente que queria furar fila bem na minha frente). Aí chega hora de se entender com a maravilhosa e complexa rede metroviária da capital francesa. Qual trem embarcar, em qual direção, quais baldeações pegar etc. Tudo isso brigando por espaço com mil turistas igualmente perdidos e contando com a má vontade dos parisienses para explicações, sobretudo se você não domina a língua de Édith Piaf.
Chegou na estação certa (e isso deve ser lá pra 11h, 11h30)? Hora de gastar novamente suas habilidades em francês (ou o google maps) para achar o hotel. Encontrou? Eita, o check-in é só 14h. Tudo bem, nada que um almocinho frugal nas redondezas não resolva. Entrada, prato principal, sobremesa, queijos mil, fechar a conta (L’addiction s’il vous plaît). Se tudo der certo, 14h estarão na porta do hotel novamente pro check-in, e, depois dos procedimentos burocráticos, é só abrir a porta do quarto umas 14h15. Não sei você, mas nessa hora tudo o que eu mais quero, exausto de viagem e de barriga cheia, é um bom banho e relaxar um pouco na cama. Que pode virar um cochilo, que pode virar uma soneca (afinal, depois de tanta luta, você merece). Acordou? É hora de se arrumar todo e ir pra rua e curtir a cidade. Às 17h. Se for no inverno, o sol já terá dito au revoir (e com ele a entrada na maioria das atrações turísticas). Melhor buscar um bistrô para mais queijos e vinhos e voltar ao hotel para acordar cedo na manhã seguinte e, aí sim, aproveitar o dia.
Ou seja, caras e caros colegas, muita cautela na hora de definir quantos dias vocês passarão em cada cidade.
02) Leia, leia, leia
Quando vou viajar, gosto muito de ler sobre o destino, por vários motivos. Decidir quantos dias destinarei a cada lugar depende justamente de meu grau de interesse nas coisas que ele tem a me oferecer. Muitas vezes há algo muito famoso, mas que não desperta minha atenção. Ou então o contrário: algo pouco apreciado por turistas e que enchem meus olhos. “O que vocês vieram fazer aqui nesse fim de mundo?”, disse uma jovem para nós em uma cidade no interior da Nova Inglaterra (e você pode ler o relato dessa incrível viagem nesse link). “Ver as lindas cores do outono”, respondemos, eu e meu marido.
Uma dica muito bacana é procurar online por reviews de turistas. Um que eu gosto muito e que nunca me decepcionou é o tripadvisor. Não fala inglês? Não tem problema, lá tá cheio de comentários em português, e há um serviço de tradução para quem escreve em outra língua. Quando acessar o site, escolha a cidade, clique em “O que fazer” e desça a página até a parte “melhores atrações”. Tem desde excursões nas proximidades até pontos turísticos locais, elencados por notas e opiniões de quem já esteve por lá. Foi assim que descobrir que, para visitar o Palácio das Nações Unidas, em Genebra (Suíça), era preciso levar o passaporte. E também pude descartar pontos que não me interessavam. Dessa forma, fica mais fácil montar um roteiro e não deixar coisas bacanas de fora (minto: é quase impossível ver tudo que é legal quando visitamos uma cidade).
03) Dando o truque
Está indo para Nova York e já está com as listas de 25 familiares e amigos para trazer “coisinhas” (nessas horas tudo vira “coisinha”)? Um batom que só vende na Guerlain, um livro raro que só dá para encontrar em um pequeno sebo do Soho, um iPod microchip nano que foi lançado ontem e ainda não chegou ao Brasil… Essas listas são infindáveis e super diversificadas. Ou seja, a coitada da pessoa que viaja já embarca estressada. Isso quando quem faz o pedido promete “pagar na volta” e não dá a quantia equivalente ao valor do produto já na moeda local do destino. Eu aprendi nessa vida a recusar pedidos. Só aceito quando é de alguém muito íntimo. Quando alguém me pede algo, costumo dizer: “OK, vou tentar procurar, mas não prometo, pois serão dias bem corridos”, mesmo que o destino sejam sete dias de pernas para o ar em uma ilha remota do Caribe — mas nesse caso ninguém pediria nada, né? Ou não. Vai saber…
E a real é que muitas vezes eu pego essas listas e esqueço. Nem levo. Ou deixo no fundo da mala, de onde sairão apenas quando voltar ao Brasil. Se foi passada por WhatsApp, visualizo e na mesma hora trato de esquecer. Na volta, digo, sem um mínimo de remorso: “Oh, não achei”, o que não é mentira, pois nem cheguei a procurar. Posso até comprar, mas só se as lojas da Guerlain ou da Apple ou o pequenino sebo do Soho pularem na minha frente e eu, na hora, me lembre da encomenda. E se não for pesada, claro, pois não tenho um séquito de funcionários carregando minhas compras por aí – e nem quero ter.
Não me considero um cara escroto por fazer isso (pode usar essa palavra nesse site, editor?). Apenas acho que, se estou viajando, o foco deve ser nas coisas que quer ver, comer, beber, visitar, nos amigos que quero encontrar etc. Mas se você conhece alguém que vai viajar e se considera muito íntimo dela, não custa nada pedir (mas não fique na expectativa de que ela trará o produto). Busque pedir algo fácil de ser achado, leve e barato. Eu mesmo adoro um biscoito que só vende em Portugal e Espanha (Filipinos sabor chocolate branco, para quem quiser me presentear, risos). Vende em qualquer mercado dos dois países, custa pouco mais que um euro e cabe em qualquer canto da mala. E é levinho. Em tempos de malas despachadas pagas, é bom evitar abusos.
Mas só peço o biscoito para quem realmente é íntimo. Para conhecidos, é apenas “boa viagem e se divirta”.
04) Dando o toque
Por falar em presentes, presentinhos e presentões, se você vai viajar e ficar na casa de algum amigo (íntimo, claro), o mínimo a se esperar é que leve um presente, de preferência algo que a anfitriã ou anfitrião goste. E como vocês são íntimos certamente saberá o que dar de presente. O bom presente não necessariamente é caro. Se você estiver com a grana curta — e esse geralmente é um bom motivo para conseguir uma estadia gratuita na casa de quem se conhece — use da criatividade. Pode ser uma seleção de cartas manuscrita dos amigos e familiares que ela ou ele não vê há anos. Quer coisa mais chique — e barata — atualmente do que cartas manuscritas? Uma vez recebi esse presente e guardo até hoje, e lá se vão 14 anos. Algumas pessoas nem estão mais vivas, o que torna o carinho ainda mais especial. Ou então pode ser um presente do free-shop, um bom vinho, um uísque. Mas chegar na casa dos outros de mão abanando é muito feio.
Além disso, combine previamente o período que vai passar — e não o estenda, por favor. Mais de sete dias acho que só se a pessoa for realmente íntima. Pergunte se você deve levar algo (lençóis, toalhas etc). Geralmente não é necessário, mas é sempre um toque atencioso. Busque minimizar sua presença na casa (ainda mais que, quem mora no exterior, geralmente tem casas ou apartamentos pequenos). Se você for dormir no sofá-cama da sala, e é bem provável que vá, não seja o resmungão matutino quando “a casa acordar”. Não deixe suas roupas espalhadas. Sempre que puder, ajude nos afazeres domésticos, como varrer o chão, lavar os pratos etc. Ofereça para uma noite preparar um jantar. E isso inclui fazer sozinho ou sozinha tudo, do mercado à sobremesa– não ofereça algo que vá demandar trabalho do anfitrião. Caso não tenha habilidades culinárias, convide para uma refeição em algum lugar. Não precisa ser em um restaurante super sofisticado, afinal a crise tá aí no mundo todo. Na hora da saída, flores e um cartão de agradecimentos são bem-vindos e super simpáticos. Quem sabe rola até um novo convite para voltar.
5) Mão na roda virtual
Para muitos, o Facebook já não é mais a rede social da moda. Pode até ser verdade, mas tem uma coisa muito legal por lá: as páginas de brasileiros espalhados pelo mundo. E você pode usar isso a seu favor em sua viagem. Por exemplo, você está programando uma viagem para Índia. É verdade que há muitos e muitos sites com dicas. Mas surgiu aquela dúvida que nenhum guia virtual resolveu? Procura no Face por “Brasileiros na Índia" ou “Brasileiros em Mumbai” (ou seja lá qual for o destino). Lá, poderá encontrar milhares de compatriotas dispostos a ajudar. E como moram no país, têm uma visão bem aprofundada dos temas. Mas evite perguntas genéricas como “qual o melhor mês do ano para viajar para a Índia?” ou “é um país perigoso?”. Digo isso pois participo da página “Brasileiros em Roma” (por já ter morado lá) e diariamente chegam as mesmas perguntas. Portanto, antes de postar sua dúvida no fórum de discussões, vale a pena buscar na lupa por palavras-chave. Certamente alguém já levantou a mesma questão e que já foi respondida. Mas, em todo caso, recomendo muito essas páginas, pois em geral é frequentada por pessoas muito bacanas dispostas a ajudar e, quem sabe, dá para arrumar uma companhia para dar uma volta pela cidade. Uma dica: faça perguntas específicas. Exemplo: evite coisas como “alguém poderia dar dica de um Airbnb bacana?". Prefira perguntar “estou pesquisando opções de Airbnb e me encantei por dois, um na rua/bairro X e outro na Y. Qual a melhor opção para um casal com dois filhos pequenos em termos de serviços, acesso ao transporte público e pontos turísticos? Também queremos fazer as refeições em casa. Qual a rede de supermercado com melhor relação custo–benefício? Obrigado".
Bem, é isso, amigues. Até o próximo “Cinco dicas que podem transformar sua viagem”. E, se tiverem sugestões, mandem pra gente pelo nosso insta ou no contatorivotravel@gmail.com