50 anos da viagem à Lua: como isso impactou a indústria aeronáutica (e os panicados)
Hoje é comemorado o 50º aniversário da chegada do primeiro ser humano à Lua. “Um pequeno passo para o homem, um grande passo para a humanidade” (a frase do astronauta Neil Armstrong, o pioneiro em solo lunar, é clichê, mas acho tão icônica e mágica que não poderia deixar de citar aqui). A missão Apollo 11 era ainda composta por Buzz Aldrin, que também teve o emocionante privilégio de caminhar no satélite natural da Terra, e por Michael Collins, que chegou bem perto, mas não teve o gostinho dos companheiros de jornada (ele ficou em órbita, pilotando o módulo de comando e serviço).
Mas o que isso tem a ver com você, cara leitora e leitor que acompanha textos sobre pânico de voar aqui no site? Qual a relação da indústria astronáutica com a aeronáutica? Por que eu, que tenho medo de voar, tenho de saber dos avanços no campo astronáuticos? Bem, uma das razões da aerofobia de muitas e muitos panicados é a desconfiança, algumas vezes inconsciente, em relação à tecnologia. Como pode um tubo de metal levar centenas de pessoas de um lado ao outro? Pois acredite: se, há 50 anos, foi possível levar astronautas à Lua, com um conhecimento tecnológico bem inferior ao que temos hoje em dia, é porque a indústria é, cada vez mais, de ponta. Quem explica isso tudo é o professor André Luis da Silva, coordenador do curso de engenharia aeroespacial da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul.
E qual a relação entre as duas indústrias? Pois saiba que ela é, digamos, bem íntima. Países que tiveram maior êxito na exploração do espaço, como os EUA, sempre trabalharam as duas áreas de setor integrado. O professor da UFSM exemplifica com o caso da tão famosa Nasa, cuja tradução para o português seria Agência Nacional de Aeronáutica e Astronáutica –somos nós que chamamos, erroneamente, de Agência Espacial Norte-Americana. “Aliás, a própria Nasa veio da Naca, que era a Agência Aeronáutica Americana, que foi melhorada e virou a Nasa”, afirma. À junção das duas áreas dá-se o nome de indústria aeroespacial.
“As tecnologias dos foguetes vieram do setor aeronáutico”, observa André Luis. E esse intercâmbio acontece até hoje. Muitas empresas que fabricam equipamentos e partes usadas em equipamentos de uso espacial continuam sendo as mesmas que constróem aviões. O caso mais clássico é o da centenária Boeing. Sim, essa mesma companhia que faz aviões usados pela Gol, Latam e centenas de outras companhias aéreas que voam ao redor do mundo.
Lógico que, na década de 1960, as coisas eram, digamos, mais rudimentares. “Hoje, uma calculadora financeira tem tanto poder de processamento quando os computadores do modulo lunar”, compara o especialista da UFSM. Quem também tece paralelos é Renato Las Casas, coordenador do Grupo de Astronomia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Apesar de serem de fundamental importância para o sucesso das missões, (os computadores da missão Apollo 11) eram extremamente simples, mesmo se comparados a um celular atual”, afirma Las Casas. Imagine ter no bolso ou nas mãos um smartphone com a mesma capacidade de processamento que levou dois homens ao solo lunar!
Na época, os computadores eram bem diferentes, ainda na categoria analógica. Máquinas gigantescas, com válvulas. Portanto, conseguir enfiar tais equipamentos dentro de um pequeno módulo lunar que seria jogado ao espaço foi, também, um grande passo para a humanidade, fruto de muitos cálculos e testes. “E mesmo assim eles tinham uma capacidade bem baixa de processamento”, afirma André Luis., salientando ainda a importância da introdução, nos computadores, de transistores, pequenos dispositivos que controlam o fluxo de eletricidade em um equipamento eletrônico.
Com os avanços astronômicos vieram também os avanços na aviação comercial. O primeiro veículo que operou um sistema de piloto automático foi justamente o módulo lunar, para auxiliar nos processos de pouso e decolagem do solo do nosso satélite natural. “Hoje, isso é algo corriqueiro. Não existe avião comercial que não tenha um controle automático de voo”, pontua o professor da UFSM.
E se as indústrias trabalham juntas, é possível pensar em turismo espacial. Aliás, isso já existe, para pouquíssimas pessoas que podem pagar muito por um voo assim. O primeiro turista espacial foi o milionário (claro, nem precisava dessa informação) Dennis Tito, que em 2001 pagou US$ 20 milhões – hoje em torno de R$ 75 milhões, em valores não corrigidos – para passar oito dias em órbita. Mas como tudo na vida, as inovações começam para um seleto grupo de endinheirados, mas a tendencia da tecnologia é o barateamento e popularização dos serviços. Um exemplo é a Virgin Galactic, que em fevereiro deste ano fez testes tripulados. A empresa – que tem concorrentes, mas com menos expressão – já começou a vender passagens por US$ 250 mil, ou R$ 937 mil (uma bagatela perto do que pagou Dennis Tito há 18 anos), e informou que mais de 600 pessoas fizeram reservas para voar no espaço a bordo do SpaceShipTwo, nome dado à aeronave. Mas é bom lembrar que a Virgin Galactic prometia o início das operações comerciais para 2009, sinal de que nem tudo está saindo como planejado.
Olha, não sei vocês, mas acho que eu adoraria entrar nessa aventura, fazer um voo espacial. Tomara que eu viva bastante e alcance uma época na qual isso seja economicamente viável para meros mortais.
E se rolar pânico, vou poder gritar bastante. Afinal, o som não se propaga no espaço.