Mas é só uma malinha... ansiedades e desafios ao lidar com bagagens de mão
Viajar é uma delícia, é o que muitos costumam dizer. E é mesmo! Mas quem disse que coisas maravilhosas não são acompanhadas de estresse? Muitas panicadas e panicados já começam a sofrer na hora de comprar a passagem. Com as mudanças na cobrança de bagagens pelas companhias aéreas, liberadas pelo Governo Federal em 2017, a aflição só aumenta. Compro a passagem mais barata e viajo só com a mala de mão? Será que vai caber nela tudo que eu preciso? Ou pago mais caro e pego o bilhete que dá direito a despachar uma mala? Será que é necessário? Vou saber arrumar tudo dentro dela? E como lidar com as encomendas (sempre tem alguém pedindo pra trazer algo do destino) ou com eventuais comprinhas? Lembra do Tetris, aquele clássico joguinho eletrônico no qual você vai encaixando as pecinhas que vão caindo do alto? Pois é, viajar tem algo de muito parecido com esse jogo.
Quem morre de ansiedade e aflição na hora de selecionar o que vai levar no voo é a panicada Mariana Cardoso. “Quando faço a mala já começo a entrar naquele transe de ‘não tem jeito, vou ter de ir’, relata a gerente administrativa, que morre de medo de voar. “Eu faço e refaço (a bagagem) tantas vezes e mesmo assim sempre esqueço algo”, conta. Uma vez, deixou em casa todas as roupas íntimas da filha. Em outra, foram os remédios para curar sinusite que ficaram de fora. Ela estava no exterior e teve de se virar com chás e paracetamol. Mariana diz que, nos últimos anos, pondera mais sobre pedidos de “levar e trazer coisas” que as pessoas costumam fazer a quem viaja. “Aceito a encomenda quando ela é importante, útil, como algo para a saúde, por exemplo, que não é vendido no Brasil. Fora isso, nem me ofereço mais. Com 23 quilos (de franquia de bagagem) essa cordialidade fica mais limitada”, opina. E ela tem muita razão para se preocupar: os aeroportos brasileiros já estão com regras mais rígidas sobre o peso e tamanho das bagagens. Antes as funcionárias e funcionários das empresas até que faziam vista grossa para quem extrapolava a cota. Agora, todo cuidado é pouco.
Uma dica preciosa é comprar um medidor de peso de malas. Você prende o aparelhinho na alça da bagagem e levanta o pertence. O monitor mostra o peso exato do volume. Jogue “balança portátil para malas” no Google e confira. Achei sites de lojas confiáveis vendendo por R$ 14,90 mais o frete. Super vale a pena o investimento (sai mais barato que pagar excesso por quilinhos a mais). No fim desse texto vou deixar linkado alguns vídeos ensinando como arrumar bem uma mala. Também vou colocar lá embaixo a lista de preços de bagagens despachadas das três maiores companhias aéreas brasileiras (LATAM, Gol e Azul). Vale lembrar que, se depois da compra você achar que vai precisar despachar a mala, é mais econômico fazer logo a compra da franquia, no site ou call-center. No aeroporto, na hora do check-in, a empresa cobra mais caro.
Em uma viagem à Europa, passando por países com grande variação de temperatura, a estudante universitária Suzana Magalhães não soube administrar bem a quantidade de roupa que levou e sentiu um frio na espinha quando chegou ao aeroporto e viu a temida caixinha na qual as atendentes pedem para colocar a bagagem de mão (para ver se está dentro das dimensões máximas permitidas pela companhia). “Eu pensei: ‘velho, essa mochila não vai entrar nunca (na caixa)’’. Aí comecei a tirar as coisas da mochila e vestir tudo, no meio do aeroporto. Vesti umas cinco blusas, sendo que a última era uma com a estampa de Muhammad Ali (boxeador norte-americano) que eu estava levando de presente para meu namorado na época. A blusa batia na minha coxa”, relembra Suzana. Por fim, botou um casaco e por cima dele um sobretudo. Mais parecia uma cebola, com tantas camadas. Como tempero especial, ela ainda pegou outras blusas e começou a enfiar nos vários bolsos internos do casaco — nos do sobretudo também colocou um monte de coisas, inclusive uma caixa de relógio. “Só que o bolso estava rasgado e a caixa escorregou para as costas (por dentro do forro)”. É rir para não chorar, não é mesmo?
E acham que Suzana parou por aí? Depois que descobriu a nova função dos mil bolsos, repetiu em algumas viagens a cena de sair socando peças de roupas neles. “Eu não deixo de comprar nada que quero, porque penso que posso vestir ou enfiar nos casacos”, conta a estudante, que já transformou toalha em cachecol para poupar espaço na bagagem. Mas ela já passou por momentos de tensão. Certa vez, ao embarcar em Salvador, a atendente do check-in olhou para a mochila que ela levava e liberou como bagagem de mão. Ao chegar no raio-x, contudo, o agente disse que ela deveria voltar e despachar. Ela foi ao balcão da companhia e a funcionária disse que o fiscal do aeroporto estava errado. Ou seja, um jogo de empurra-empurra. No fim, a companhia, depois de muito custo, resolveu despachar a mala sem cobrar nada. Dica do rivotravel: leve sempre impressas as normas da companhia sobre dimensões máximas da mala de mão, caso alguém resolva implicar. Sobre direito do consumidor, conversamos com Pedro Amaral, sócio-fundador do escritório Amaral e Cunha Advogados, especializado em atendimento de passageiros aéreos. “O que vemos acontecer são cobranças (de bagagem) em valores superiores aos divulgados nas regras da própria companhia aérea. Nesses casos, é possível recuperar o dobro do valor pago em excesso”, diz Pedro. Ou seja: olho vivo, sempre. E quem tiver problemas com malas nos aeroportos deve correr atrás de seus direitos. “É imprescindível fazer, ainda no aeroporto, o Relatório de Irregularidade de Bagagem (RIB), constando todo o ocorrido. Além do mais, fotografias e filmagens também servem como meio de prova”, afirma Vera Lúcia Oliveira, gerente de atendimento do site Direito Aéreo, especializados no direito aeronáutico e do consumidor.
Segredinhos
Viajar com pouca coisa é realmente uma arte, e algumas pessoas a dominam com maestria: o ideal é pensar mil vezes na hora de separar em casa aquilo que vai ser levado no avião. Quem é PhD no assunto é a professora universitária Alejandra Hernández Muñoz. Ela já fez uma viagem de volta ao mundo com uma mochila com 13 kg nas costas e outra mochilinha menor na frente, com documentos, celular etc. “O grande segredo, creio, é evitar ao máximo compras de bugigangas. Também não trago presentes pesados ou volumosos”. Enquanto escreve ao rivotravel, a viajante está na Europa, em uma viagem de 45 dias. Com quantos quilos de bagagem? Apenas dez. “Até agora comprei duas blusinhas de liquidação e um vestido simples. Já usei tudo, claro. Tenho pegado desde calor de 32°C em Veneza (Itália) até 13°C no verão holandês, e senti saudades de uns casacos mais grossos que o discreto casaquinho que trouxe. Mas um pouco de sofrimento apenas um dia não mata ninguém”. Sábia Alejandra.
Quem também odeia carregar malas pesadas e ficar esperando na esteira é a arquiteta Marina Barreto. Mesmo antes das mudanças nas regras ela já tentava diminuir e viajar só com bagagem de mão. “O que mudou mesmo foi ficar atenta na hora que chamam (para o embarque) pra ficar na frente da fila, pra conseguir viajar com a mala perto de mim e não precisar despachar”, afirma. E ela chama a atenção para um fato importante: “É um absurdo não terem baixado os preços (dos bilhetes aéreos)”. As companhias aéreas, em 2017, anunciaram que as novas regras iriam baratear as tarifas. Vai esperando sentado (e, se duvidar, pagando por isso).
Mesmo com todo planejamento possível, Marina já passou por alguns sufocos. Ela, que morou um tempo na Alemanha, costumava pegar voos de companhias low-cost europeias, que há muitos anos são famosas pela rigidez quanto ao tamanho e peso das bagagens. Pois bem, estava Marina em Barcelona, na Espanha, bem na época das promoções das lojas na cidade. Resultado? Comprou umas roupinhas por lá. Só que o voo de volta para a Alemanha (Colônia) seria pela temida Ryanair, terror de quem viaja com uns quilos-extras. “Cheguei no aeroporto (de Barcelona) e fiquei com medo de pedirem pra pesar a mala, então joguei umas roupas que estavam velhas no lixo. Quando fui entrar no avião nem olhei para a cara da aeromoça, fui com toda a confiança do mundo e ela nem me parou, minha mochila estava claramente maior que o tamanho permitido”, afirma. Mas o drama não parou por aí. Quando Marina foi colocar o volume no bagageiro acima dos assentos, ele não coube direito. Ela enfiou como pôde e se sentou. “A aeromoça começou a perguntar: ‘de quem é essa mochila?’. Eu fingi que não escutei. Na terceira vez que ela perguntou não tive como negar”. A comissária fez com que a arquiteta tirasse as coisas que estavam estufando a mala, para esvaziar um pouco e conseguir fechar o compartimento. Resultado? Marina passou o voo todo sentada com roupas, necessaire e mais um monte de coisas no colo.
O jornalista Daniel Silveira tem uma estratégia bem interessante na hora de fazer a mala. “Meu processo criativo é tirar do armário tudo que eu levaria e colocar na cama. Depois faço a mala e vou excluindo coisas que eu acho que não são necessárias e vou trocando coisas mais volumosas por outras menos volumosas”, opina. Repetir roupas é de praxe, e contar com máquina de lavar nos lugares onde vai também ajuda o processo. O jornalista parou de viajar com xampu, condicionador e sabonete. Se não tiver no lugar onde vai se hospedar, acaba comprando na cidade de destino. Assim, diminui o volume da necessaire. E no lugar de dois ou três pares de sapato, ele escolhe apenas um – que vai calçando no voo – e um chinelo. E se antes Daniel levava várias calças, agora vai vestindo uma na viagem e a outra vai dobradinha na mala.
A professora universitária Alejandra Hernández termina o depoimento com uma lição: “Tem gente que, quando viaja, inventa de testar modelinhos e situações de eventos inesperados e por conta disso carrega uma tralha que depois não usa. Eu faço meu vestuário tal como ando diariamente. Se por ventura fosse convidada para um jantar com a rainha, não teria guarda-roupa à altura mesmo, então viajo como vivo. Não fico criando personagem”. Mantra para guardar para a vida, não é mesmo?
Blogueiras ensinam como fazer uma mala de mão
Tarifas
Veja abaixo os valores cobrados pelas companhias aéreas no Brasil (valores passados pelas assessorias de comunicação no dia 18 de julho de 2019):
GOL
Os preços podem ser conferidos no site da empresa.
AZUL
Sobre os valores para despacho de bagagem, as passagens da Azul estão classificadas em duas categorias: a “MaisAzul” e a “Azul”. A categoria MaisAzul inclui uma peça de até 23 kg de bagagem. Ao optar pela categoria Azul, o Cliente pagará mais barato pela passagem na comparação com a tarifa Mais Azul e poderá escolher pela compra ou não do serviço de bagagem despachada. Em ambas as categorias, o cliente poderá incluir uma peça de até 23 kg de bagagem ou mais peças, a qualquer momento, por R$ 60 pelos canais digitais ou call center e R$ 120 no aeroporto.
LATAM
A franquia de bagagens da LATAM Airlines Brasil para voos dentro do Brasil e internacionais está disponível de acordo com o perfil de tarifa da passagem aérea adquirida. Para trechos domésticos, o preço atual para o despacho da primeira mala é de R$ 59 (por trecho) para compras realizadas até três horas antes do embarque. Se a compra da bagagem for efetuada no momento do check-in, o valor é de R$ 120 (por trecho).
Para trechos voados entre países da América do Sul e para voos de longa distância, os valores podem variar de acordo com a rota selecionada, e custam a partir de US$ 20* para bagagem despachada. Para voos com origem e destino na Ásia e Europa, os valores variam entre US$ 55* para volumes adquiridos até 6h antes do voo e US$ 75* se adquiridos com menos de 6h de antecedência. Já os passageiros com origem e destino para os Estados Unidos devem pagar entre US$ 45* para volumes adquiridos até 6h antes do voo e US$ 90* se comprados com menos de 6h de antecedência.*
* Valores serão convertidos para real e baseados na cotação do dólar do dia da compra