Voar somente imunizado: empresas aéreas anunciam demissões de funcionários que não querem se vacinar contra Covid-19
Começou a disputa entre as pessoas que decidiram não tomar a vacina da Covid-19 e o resto do mundo, pelo menos no que diz respeito às empresas e seus funcionários. No caso das companhias aéreas, já tem muitas anunciando que vão demitir os funcionários (não só comandantes e comissários) que optem por não se imunizar contra a doença. A mais recente a entrar no grupo é a maior companhia russa, a Aeroflot. Na segunda-feira, ela colocou em licença ou férias não remuneradas diversos pilotos que se recusaram a se vacinar, segundo o jornal The Moscow Times. Na semana passada, foi a vez da Cathay Pacific, de Hong Kong, divulgar medida similar. A companhia mandou uma carta para um grupo de cerca de 80 pessoas questionando os motivos pelos quais não comprovaram a vacinação: o prazo para receber as agulhadas que tantas pessoas ainda almejam era até dia 31 de agosto.
Por parte dos passageiros, algumas empresas aéreas também estão exigindo de quem embarca a apresentação do Travel Pass da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA), obtido mediante comprovação de que a pessoa tomou a vacina. Já estão testando a iniciativa a Singapore, a Qatar, a Emirates e a Swiss, entre outras. Para saber mais detalhes sobre o “passaporte” é só clicar aqui.
Mas voltando às companhias e às demissões dos funcionários, outras grandes empresas fizeram anúncios similares, como a americana United e a Etihad, dos Emirados Árabes Unidos. No Brasil, a Gol foi a primeira e até o momento a única a se pronunciar sobre o assunto, afirmando que espera que todos os funcionários estejam vacinados para continuar empregados. Em comunicado, a empresa informou que 80% dos funcionários já tomaram pelo menos uma dose da vacina. ”A criação desse novo requisito de segurança na Gol se apresenta como reforço e aprimoramento dos demais protocolos estabelecidos pela companhia desde o início da pandemia, os quais são rigorosos, confiáveis, certificados e comprovadamente eficazes”, disse em nota Paulo Kakinoff, presidente da Gol, acrescentando que a consciência e o entendimento sobre a importância da vacinação são fundamentais para o restabelecimento do bem-estar coletivo.
Procuramos a Gol para saber mais detalhes do processo. Por meio da assessoria de imprensa, a empresa disse que todos os colaboradores foram comunicados que, a partir do início de novembro, a comprovação da vacina será um requisito indispensável para todos os colaboradores e que exceções justificáveis deverão ser devidamente comprovadas pelo funcionário e avaliadas pela companhia. Perguntada sobre como seria feita a checagem, a empresa afirmou: “Os colaboradores devem compartilhar, com a área de saúde da Gol, a carteira de vacinação disponível no Conecte SUS até o final de outubro”. Sobre possíveis ações trabalhistas movidas por funcionários demitidos, a assessoria disse que todas as decisões tomadas estão alinhadas com o departamento jurídico da companhia.
E há respaldo legal para isso? Em fevereiro, o Ministério Público do Trabalho (MPT) anunciou que os trabalhadores podem ser demitidos se recusarem a vacina. Para o órgão, a imunização contra a Covid-19 é “direito-dever de empregadores e empregados em atenção ao Plano Nacional de Vacinação, considerando-se os aspectos epidemiológicos que exigem a aplicação da vacina em massa para contenção e controle da pandemia”. Segundo um jurista ouvido pelo rivotravel, um direito-dever é como a obrigatoriedade do voto: temos direito ao sufrágio universal e o dever de exercer nossa cidadania.
E as outras duas maiores empresas do setor nacional (Latam e Azul)? Mandei para elas, por meio da assessoria de imprensa de cada uma, algumas perguntas, dentre elas uma a respeito da demissão de funcionários que não queiram se vacinar.
A Latam e a Azul mandaram notas para o rivotravel. “A Latam está informando e incentivando seus colaboradores da importância da imunização contra a Covid-19. O processo de vacinação da segunda dose segue ainda em andamento e já se percebe um aumento expressivo de colaboradores se vacinando. O foco da empresa é continuar a conscientizar seus colaboradores da importância da imunização como um valor fundamental para garantir a segurança de todos”.
Já a Azul declarou: “A Azul ressalta que tem trabalhado na conscientização e imunização de seus Tripulantes e espera que todo o seu quadro esteja vacinado com a segunda dose ao longo das próximas semanas. Pró-vacina, a empresa reforça a esperança de ver todos os brasileiros protegidos ainda este ano e acredita que a vacinação é a única maneira para a retomada plena dos níveis pré-pandemia”.
Não sei vocês, mas achei as notas bem genéricas e dão a impressão de que as empresas não planejam fazer demissões, mas também não querem muito tocar no assunto.
Procurado, o Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (SNEA) disse que não comenta medidas específicas internas tomadas por suas associadas.
No Brasil, o Sindicato Nacional dos Aeroviários (SNA) reúne a categoria dos funcionários das empresas aéreas. Questionada pelo rivotravel, a porta-voz da SNA, Selma Balbino, afirma não acreditar em demissões, mas relativiza: “Tem muita mão de obra desempregada a disposição das empresas, tem mais oferta do que demanda”, disse.
No instagram do rivotravel coletamos algumas opiniões sobre o assunto. Todas foram categóricas: as empresas aéreas devem, sim, demitir que não se vacinar. Uma delas foi da arquiteta Marina Moreira. “Partindo do princípio de que as únicas formas de evitar a proliferação do vírus são a vacina e evitar aglomerações e que estar dentro de um avião por muitas horas pode ser considerado arriscado, já que o espaço é fechado, acho a medida de demitir funcionários que se recusam a se vacinar impositiva, porém justa e higiênica por não colocar a saúde e a vida de outras pessoas em risco”, conta a arquiteta, acrescentando ainda que se sentiria mais segura em viajar por uma companhia aérea que garantisse que todos os tripulantes estão vacinados, além dos passageiros com exames de Covid-19 com resultado negativo.
A coordenadora da eventos e escritora (e panicada) Marta Ibañez faz coro. “Ainda não voei na pandemia, mas se tivesse que viajar, certamente me sentiria mais tranquila sabendo que a tripulação estaria vacinada. Isso significaria que a companhia aérea se preocupa não só com seus funcionários, com a tripulação, mas com os clientes, o público em geral. Ou seja: uma empresa que pensa em prol do coletivo. Em qualquer circunstância, isso certamente pesaria muito para uma decisão minha enquanto consumidora. Qual restaurante visitar, em qual hotel me hospedar etc”.
A estudante de psicologia Maria Giovanna Lins concorda com Marta. “Eu acho que me sentiria mais segura andando em empresas aéreas que exigem o cartão de vacinação dos seus funcionários. Não só por uma proteção mais efetiva contra a disseminação do vírus, mas como consciência do momento em que estamos vivendo. Além de que, se elas exigissem vacinação de toda a tripulação, eu ficaria ainda mais segura sabendo que a taxa de transmissão seria muito mais baixa. E que eu estaria rodeada de pessoas com a mínima empatia e cuidado com o próximo ao se vacinarem”.
Nenhum internauta contrário à medida respondeu a enquete do rivotravel no instagram. E você? O que acha? Escreve para a gente na caixa de comentários. E tomem a vacina.