Viajo amanhã: SOCORRO — São Paulo 2023: Episódio II (Ida)
Véspera de voo e a gente tá como? Surtando, claro. Nos últimos dias, além da ansiedade brutal, tive também, digamos, “intestino solto” e um inédito torcicolo pré-viagem. Diagnóstico: voo se aproximando do radar de meu pânico de avião.
Olha, não sei, não. Vou fazer o check-in online agora e então chega a fatídica hora do preencher os dados e contato telefônico de alguém para caso de emergência. Juro que essa parte eu digito com as mãos suadas. Entendo a necessidade da companhia ter essa informação, mas… Olha, minhas mão já começaram a suar só de escrever isso. E quem é panicado sabe: aquela afobação que chega do nada, que toma o corpo da gente. Falta de ar? Sim, trabalhamos com isso também. Peito apertado? Idem.
Quando a gente tá assim panicado, faltando dias ou mesmo na véspera de um voo, já repararam que tudo vira sinal? Essa semana mesmo foi cheia deles. Ontem estava no Ceasa (um grande mercadão) e passei por um box de flores. Todas lindas. Tinham astromélias, as minhas favoritas. Pensei: “Olha, flores. Coisa pra morto”. Juro que pensei. Credo.
Ontem também estava eu dirigido, suando nesse calor de outono baiano (eu reclamo no céu e também na terra, já viram, né?). Bem, aí o rádio pifa. Na mesma hora pensei “coisa pifando… Mal sinal. Vai que pifa alguma coisa quando estou lá a 40 mil pés de altitude?”. Me arrepiei todo. E pra piorar, quilômetros depois, o carro super aquece. Encostei numa vaga pra esperar o belo automóvel de 14 anos de idade (um adolescente) esfriar a cabeça. E no avião? Para onde? Medo.
Qual o código de reserva de meu voo de ida pra São Paulo? C*A *IU. Como pode? Olha, deveria ser proibido panicado receber um código desse, já não basta o alto preço que a gente paga pela passagem? Eu, hein.
Isso para não falar lá naquele acidente com um avião de pequeno porte em Goiânia (GO), na semana passada, com duas mortes (Oh, God, por que me fazes escrever essa palavra de mau agouro?). Tem gente que fica aliviada quando tem uma queda próxima do voo, sinal que até que caia outro há uma janela de segurança garantida. Eu fico é gelado por dentro.
E um amigo que me ligou ontem pra saber como eu estava, se estava muito tenso (“tenso, eu? Imagina….)? Aí ele me solta o famoso “se cair, do chão não passa”. Por qual motivo diabólico as pessoas dizem isso? Realmente acham que acalma?
Pra piorar, não vou poder tomar uma dose OK (não vou detalhar qual minha dose OK pra não incentivar ninguém, cada um com sua dose prescrita pela psiquiatra) do meu famoso remedinho para conseguir voar. Como vou viajar com minha mãe e ela tem 83 anos e dificuldade de locomoção, basicamente será eu, um zumbi me arrastando pelo aeroporto, tentando empurrar minha amada progenitora na cadeira de rodas fornecida pela empresa aérea, mais duas malas de bordo (e gravando conteúdo pra o vídeo-relato no Instagram). Já falei que estarei meio zumbi, né? Pois para atender minimamente as normas de um bom filho terei de reduzir a ingestão dos comprimidos, e isso já me faz ficar mais ansioso ainda. Pelo menos vou poder segurar na mão de minha mãe na hora do voo. Se alguém quiser olhar um marmanjo de 1,86 metro se contorcendo de medo, que olhe.
A cereja do bolo: parece que esses últimos dias todos meus amigos resolveram me mandar vídeos com coisas “agradáveis” como turbulência durante o voo (dessas que jogam tudo pelos ares e o avião fica um caos) ou então pousos difíceis, com muito vento. Não sei, acho que meus amigos (da onça?) farejam meu medo, só pode.
Lembrei assim, do nada, do irmão de uma amiga. Conheço há mais de 20 anos. Comissário de bordo há décadas. Tá vivinho da Silva, mesmo voando tanto.
Tenho horário agora com a terapeuta. A linha dela é psicanálise, essas coisas que levam um tempo pra digerir as coisas. Mas não quero nem saber, vou querer palavras de conforto e descobertas sobre minha aerofobia pra já, sessão expressa 50 anos em 50 minutos.
Na volta termino esse texto.
Já volto.
Ok, voltei. Foi rápido, né?
Falei, falei, falei. Não sei se cheguei a conclusões (difícil cobrar isso em 50 minutos). Muitos dizem que a linha mais efetiva para combater fobias é a cognitiva comportamental. Vai ficar pra volta (sim, eu vou voltar, são e salvo).
A analista disse que mesmo eu não tendo, aparentemente, fixado muita coisa em minha cabeça aérea e panicada, que tudo o que botei pra fora hoje vai se assentar e fazer sentido, mesmo que eu não perceba.
Pois assim seja.
Boa viagem para mim.
Este foi o Episódio II de uma série de postagens sobre minha viagem para São Paulo neste ano de 2023. Recomendo me acompanhar no Instagram, pois devo dar mais novidades por lá — em tempo real!
Para conferir o Episódio I, no qual eu conto dos vários pensamentos e sensações que me ocorreram no momento em que comprei as passagens desta viagem, é só clicar neste link aqui.
E fiquem de olho nos próximos episódios. Pois tudo que vai, volta! Terei que voltar para Salvador em algum momento, não é mesmo?