R.I.P. Boeing 747 — A rainha dos céus se despede de seus súditos após 50 anos de reinado
A cinquentenária “rainha dos céus” vai dando gradativamente adeus aos seus súditos. O avião Boeing 747, que por sua grandiosidade e beleza recebeu o apelido real, está sendo substituído pelas principais companhias aéreas por outros modelos, mais eficientes, sobretudo no quesito gasto de combustível. Com mais de 50 anos de história, o Jumbo (como também, ficou conhecido o 747) já foi o maior avião de passageiros do mundo. O primeiro voo foi em 1970, com a hoje extinta Pan Am, no trecho Nova York – Londres. Quando foi desenvolvido, na década de 1960, havia uma alta demanda por um avião que transportasse o maior número de pessoas.
A despedida já vinha acontecendo nos últimos anos, mas a crise no mercado aéreo instalada pela pandemia do COVID 19 acelerou o processo. Nos Estados Unidos, pro exemplo, o derradeiro voo de um Jumbo de passageiros com a bandeira norte-americana ocorreu no final de 2017, em uma rota da Delta. O avião continuará sendo usado por empresas de fretamento, de transporte de carga e pelo presidente Biden. O Air Force One, o avião presidencial dos Estados Unidos, é um Boeing 747.
Mas o fato é que o atual quadro em que o planeta passa acelerou a despedida de aviões quadrimotores, como o 747, o Airbus A380 e o Airbus A340. Segundo a consultoria Cirium, antes do início da crise havia 184 unidades do 747 voando pelo globo. Em abril de 2020, quando o cancelamento dos voos já era uma tendência forte ao redor do mundo, restavam apenas 23 aeronaves.
Grandes empresas usuárias do famoso avião encerraram suas histórias com o 747 em 2020. Uma delas foi a australiana Qantas, em julho do ano passado. Após a decolagem de Sydney, os pilotos traçaram uma rota que desenhasse um canguru para quem acompanhava o voo histórico por aplicativos como o FlightRadar24. “É difícil falar do impacto que o 747 teve na aviação e em um país tão distante quanto a Austrália. Ele substituiu o 707, que foi um enorme salto em si mesmo, mas que não tinha o tamanho para reduzir as tarifas aéreas da mesma forma que o 747. Isso colocou as viagens internacionais ao alcance do australiano médio e as pessoas aproveitaram a oportunidade”, disse Alan Joyce, CEO da Qantas, no dia do último voo. Ele continuou resumindo o papel do avião no setor. “Esta aeronave estava bem à frente de seu tempo. Engenheiros e tripulantes adoravam trabalhar neles e pilotos adoravam pilotar. Os passageiros também. Eles conquistaram um lugar muito especial na história da aviação e sei que sentiremos muita falta”, acrescentou Joyce.
A British Airways, outro grande operador do modelo, fez seu derradeiro voo com o 747 em dezembro do ano passado. Antes de pousar em Dunsfold,, ao sul de Londres, onde será preservado em um projeto cultural que visa apresentar sua distinta história as futuras gerações, o Jumbo realizou um último sobrevoo e após o pouso foi recebido por uma pequena multidão de espectadores entusiasmados.
A todo momento surge uma despedida. No dia 15 deste mês foi a vez do último 747-400 Combi dar tchau (a derradeira operadora do modelo foi a holandesa KLM). O Combi era um 747 adaptado, no qual parte do avião era usada para transporte de passageiros e a outra, no final da fuselagem, era destinada para levar carga. E no final de semana passado foi a vez da companhia de Taiwan China Airlines fazer um 747 da frota levantar voo pela última vez. Seguindo a tradição dos voos “de cá pra cá mesmo”, uma marca das empresas aéreas orientais nessa pandemia — como já escrevemos aqui no rivotravel —, a China Airlines organizou um voo especial, saindo de Taipei e rumando em direção ao Japão, onde fez um sobrevoo baixo (cerca de 7.300 metros de altitude) do famoso Monte Fuji (que tem 3.776 metros de altura), e retornando para o aeroporto de partida. Segundo o Taipei Times, os 375 bilhetes foram vendidos em 5 minutos.
A alemã Lufthansa deverá ser a única companhia do continente europeu a manter o Jumbo em serviço, com a série 747-8, tendo também decidido por antecipar a aposentadoria dos 747-400, com consumo de combustível elevado e altos investimentos em manutenção. O 747-8 tem pouco mais de dez anos e é a última versão do 747 lançada pela Boeing. No Brasil, antes da pandemia, a Lufthansa usava seu quadrimotor na rota Frankfurt – São Paulo, com capacidade para 264 passageiros. Mas com a queda no número de reservas, colocou para ligar a maior cidade brasileira ao hub da empresa alemão o Airbus A350-900, que leva 293 passageiro. A “rainha dos céus”, contudo, deve voltar à rota em 30 de abril.
O 747-8 é o maior dos Jumbos, podendo levar até 605 passageiros em classe única. Com seus 76,3 metros, é o avião mais comprido do mundo para uso da avião comercial. Mesmo com todas as inovações tecnológicas, o “avião não decolou”, no sentido do interesse das companhias aéreas. O motivo são os quatro motores, fato que o torna um “beberrão” de combustível. Estima-se que o 747 gaste 20% a mais de combustível por passageiro que o 777, por exemplo.
Além disso, para ser economicamente rentável, ele deve decolar com capacidade máxima de passageiros, sem poltronas desocupadas. As empresas têm preferido usar aviões menores (com dois motores) em suas rotas de longo alcance, como o Boeing 787 Dreamliner e o Airbus A350XWB. Esses dois modelos conseguiram reduzir custos com seus novos motores e fuselagens feitas de materiais compostos de carbono, que são mais leves (e avião mais leve significa menor consumo de combustível). E a capacidade nem sofre queda tão brusca. Em uma configuração em três classes (primeira classe, executiva e econômica), o 747 transporta 410 passageiros. Já o 777-300ER (que tem dois motores) com duas classes (executiva e econômica) leva 396 passageiros.
Eu amo o 747. Acho lindo demais. Que triste o fim da era da rainha dos céus.