Puglia: o salto alto maravilhoso da Itália
Sim, sou um filho da Puglia. De lá vieram meus antepassados por parte de pai e é onde, até o fechamento desta edição, tenho tias — sim, todas meio mammas — e primos.
A Itália atrai dezenas de milhões de turistas. Em 2015 recebeu mais de 50 milhões de passageiros internacionais, um crescimento de 4,4% em relação ao ano anterior. A grande maioria se concentra em cidades como Roma, Florença e Veneza, além de outras maravilhas arquitetônicas e artísticas. De uns anos para cá, o turismo europeu vem redescobrindo a Puglia, facilmente identificável no mapa em formato de bota (é o salto alto dela). O número de voos tem aumentado, sobretudo no Verão. A boa notícia é que suas belas praias não estão entupidas como na vizinha Grécia. Menos em Agosto. Aliás, tente fugir de qualquer destino italiano neste mês — o país literalmente ferve no alto verão. Uma vez, em Roma, pisei numa calçada com manto emborrachado asfáltico-sei-lá-o-que-era-aquilo e ficou a marca de minhas sandálias (e de meu dedão saindo por ele). E olha que era Junho ainda!
Bem, vamos focar que o jornalista aqui adora viajar, de todas as formas. Sem querer puxar a Sardenha pro me lado (adoro piadas sem graça), a Puglia reune história, cultura, uma gastronomia deliciosa e praias de tirar o fôlego. Quer exemplos?
A Puglia é a terra do orecchiette, também conhecido como orecchiette pugliesi. Uma massa deliciosa que nasceu lá no saltinho. Dá até para encontrar em lojas especializadas em massas no Brasil. Além disso, como a região é bastante rural, uma boa dica é alugar um carro e sair explorando a área, parando em suas pequenas cidades e descobrindo os sabores da terra. Evitem apenas uma verdura chamada rapa (ou rape, no plural). O cheiro é intragável. Nunca me atrevi a experimentar, mas é um must da região. Aposte nas massas feitas em casa e em qualquer lugar que sirva pizza. A Puglia também é grande produtora de vinhos. Então, não titubeie em pedir o vinho da casa no restaurante que você for. Cuidado com o delicioso, mas forte, vinho Primitivo di Manduria. O teor alcoólico é bem acima da maioria dos vinhos. Na cidade de Manduria eles vendem o líquido em galões — baratíssimo — como se fosse em um posto de gasolina (com duas máquinas daquelas). No lugar do combustível, vinho. Perfeito.
No video abaixo, da tv alemã DW, uma chef ensina a fazer o orecchiette (sugiro ignorar o recheio de rape e apostar em um de sua preferência). Está em inglês, mas é bonito de ver mesmo pra quem não entende.
O sistema de transporte público na Puglia não é muito bom. Até mesmo os trens que ligam Roma à região demoram horrores, por conta da estrutura precária das linhas. Então, é bom mesmo alugar um carro. Nos principais aeroportos (Bari e Brindisi) há inúmeras companhias de aluguel de automóveis. De lá, é só sintonizar alguma rádio local. Invariavelmente você encontrará o mais recente pop trash italiano, todos bregas no último.
Como já disse, vai ser difícil encontrar uma praia realmente deserta no mês de agosto. Mas se for em junho ou julho, encontrará tempo quente e locais mais reservados para um bom banho de mar. E que mar! As fotos estão aí e não me deixam mentir. Por ser uma península, a Puglia tem mar a beça. Nesse quesito, quem marca gol são as praias do Salento, o sul da Puglia. Alguns nomes que você pode apostar são Torre dell’Orso, Santa Cesarea Terme, Torre Chianca, Spiaggiabella, Pescoluse, entre dezenas de outras — a maioria na província de Lecce, a mais sul da península.
Para hospedagem, há dezenas de opções, desde Airbnb e hotéis baratos até masserias que, na última década, têm sido transformadas em hotéis de luxo (Madonna andou frequentando a Puglia no Verão de 2016 — por aí vocês já tiram). As masserias são grandes construções presentes no Sul da Itália e que datam dos séculos XV e XVI. Seria o que chamamos de “sede de fazenda”, pois eram espaços em regiões agrícolas que abrigavam a família nobre, os trabalhadores e os animais, além de celeiros para armazenar a colheita.
Além de encher a pança e torrar no sol, uma boa sugestão é explorar alguns castelos medievais, como os localizados em Taranto e Bari. O mais famoso (que teria inspirado o castelo descrito por Umberto Eco no livro O Nome da Rosa) é o castelo Del Monte, que se encontra mais ao norte da região. Outra dica é o centro histórico e o ótimo museu arqueológico de Taranto, cidade mais antiga que Roma, fundada pelos Espartanos. Aliás, bom lembrar que o sul da Itália pertenceu ao que chamamos hoje de Magna Grécia, a expansão grega pelo mediterrâneo. Ainda é possível encontrar restos arquitetônicos da época.
De cidades lindinhas, dou duas dicas: Uma é Alberobello, famosa por seus trullis, que em 1996 foram considerados patrimônio da humanidade pela Unesco. A marca principal dos trulli são as paredes branquinhas e os telhados cônicos, em pedra. E tudo sem nenhum tipo de argamassa ou madeira para sustentar! É uma delicia andar por suas ruas (também de pedra) e ver museus e igrejas com tais características. A história do “trullo” remonta à idade média, quando os senhores feudais proibiam os trabalhadores de usar materiais nobres em suas casas. Hoje, esse lado de miséria ficou para trás, e é possível encontrar também fazendas, casas, lojas e restaurantes dentro dos trulli. Dá até para ficar hospedado em um.
Outra cidade que recomendo muito é Ostuni, perto de Brindisi. É a chamada Cidade Branca, por motivos óbvios (é a cor que predomina em suas paredes). Foi fundada no século VIII antes de Cristo pelos messápicos, povo que habitava a região. Após a queda do império romano, a cidade, assim como todos os núcleos urbanos da Itália, foi invadida por povos bárbaros. E vem justamente da Idade Média a característica principal da cidade. Como o calcário era abundante na região, começou a ser usado para pintar suas paredes, ajudando, assim, a dar mais luminosidade às escuras vielas. Andar pelas suas ruazinhas é uma viagem no tempo. Tem uma bela catedral do século XV, além de restaurantes e lojinhas que vendem artesanato local.
E eu não poderia deixar de falar de Lecce, bem pertinho das belas praias do Salento. É também conhecida como a Florença do Sul, por conta de seu rico centro histórico, onde se destacam inúmeros exemplos arquitetônicos do chamado Barroco Leccese. Os pontos altos são, entre outros, a igreja de Santa Croce e a praça do Duomo. Há ainda um belo anfiteatro romano do século II. Outros monumentos são arcos do triunfo e o castelo Carlo V. O ponto alto é mesmo o conjunto de igrejas: assim como Salvador, seria impossível listar todas (são muitas). Vale a pena “se perder” pelas ruas do centro e ir descobrindo uma a uma. Quando o sol vai embora, a iluminação torna os monumentos ainda mais belos e é um convite para tomar um drink nas mesas que os bares colocam nas calçadas nas noites quentes.
E quando você já estiver cansado de ver coisas lindas e comer feito um condenado, dá para pegar um ferry-boat e, em uma noite, chegar às igualmente belas Croácia (Dubrovnik) e Grécia (Atenas). Mas tenho certeza que a Puglia ♡ vai te deixar saudades.
Para mais informações, clique aqui e visite o site que promove o turismo na Puglia (disponível em italiano e inglês).