Panicão! Aliviando o medo de voar com a ajuda dos animais em aeroportos

Que viagens de avião podem ser estressantes não é surpresa para ninguém, muito menos para as panicadas e panicados que leem o rivotravel, não é mesmo? Nesse sentido, companhias estrangeiras já estão autorizando que passageiras e passageiros viagem acompanhados por seus animais de estimação, de modo a oferecer um suporte psicológico que permita um voo tranquilo — e isso merece uma matéria especial aqui no site. Além disso, muitos aeroportos estão indo além e promovendo esse contato caloroso já nos saguões e salas de embarque, para todas e todos, mesmo quem não possui um bichinho. No exterior, sobretudo nos Estados Unidos, é comum ver animais (treinados e acompanhado de voluntários, bom dizer) circulando pelos terminais. Atrasos por mau tempo ou problemas técnicos nos aviões, falta de cadeiras e tomadas para todas e todos nos saguões, filas demoradas para embarcar… Que mau humor resiste a um lindo cão bem calminho chegando perto de você com aquela carinha de “me afague”? E olha que eles são das mais variadas raças, tamanhos e cor de pelagem. Tem para todos os estilos. Você não é muito chegado a cães? Não tem problema. A gama de animais é grande e inclui ainda gatos, porcos e, quem diria, até pequenos cavalos.

 
Panicão: o amiguinho de todas as horas! Até nos momentos mais panicados. Cães, gatos e outros animais podem ajudar no medo de voar antes do embarque

Panicão: o amiguinho de todas as horas! Até nos momentos mais panicados. Cães, gatos e outros animais podem ajudar no medo de voar antes do embarque

 

Segundo a psicóloga e educadora canina Laís Milani, essa tendência ainda não chegou ao Brasil — de fato, as minhas pesquisas para a produção desta matéria apontavam exemplos nos EUA, além de algumas poucas cidades fora da terra do Tio Sam. E grande parte desse fato é em virtude do clima de medo relacionado a aviões criado naquele país após os atentados do 11 de setembro.

E como será que um animal ajuda a reduzir o medo de voar? “O contato positivo com um animal treinado para esta finalidade pode ajudar a reduzir hormônios e neurotransmissores relacionados à resposta fisiológica de stress e aumentar a produção de substâncias relacionadas ao prazer e bem estar, ajudando a pessoa a se acalmar antes de voar”, explica Laís, que também integra a equipe do Instituto Nacional de Ações e Terapia Assistida por Animais – INATAA. Laís ressalta que este é um trabalho especializado, que exige um cão treinado para essa finalidade, conduzido por uma pessoa que também seja treinada.

Os “terapeutas de quatro patas” passam por um processo de preparação para atuar com o público e em locais estressantes e com muito barulho e luzes, como os aeroportos costumam ser. Segundo Heath Montgomery, diretor de relações públicas do Los Angeles World Airports, o uso de cães em terapias é feito há décadas em hospitais, casas de repouso para idosos e escolas. O Aeroporto Internacional de Los Angeles (LAX) desenvolve o programa PUP (“Pets Unstressing Passengers”, algo como “Bichos de Estimação Desestressando Passageiros”). “Existem pesquisas médicas que apontam que (a interação com) animais pode baixar a pressão sanguínea das pessoas. O LAX criou o programa PUP há sete anos para ajudar passageiros que estão em situação de estresse ou ansiedade antes do embarque nos voos”, relata Heath ao rivotravel. A reação foi positiva e o programa cresceu, abarcando hoje 118 voluntários. Ele conta ainda que o PUP tem ajudado aeroportos americanos que se interessam pela proposta e querem reproduzir o projeto. “Atualmente, 90 aeroportos pelo país têm programas similares”, conta o diretor. Os animais são treinados e certificados pela Alliance of Therapy Dogs (Aliança de Cães Terapêuticos, em livre tradução).

 
Os cães que circulam no Aeroporto Internacional de Los Angeles são de várias raças, como poodle, husky siberiano, chihuahua e buldogue francês (Crédito: Tudosisdiaria)

Os cães que circulam no Aeroporto Internacional de Los Angeles são de várias raças, como poodle, husky siberiano, chihuahua e buldogue francês (Crédito: Tudosisdiaria)

 

Outro aeroporto que possui um programa bem estruturado de animais voluntários é o de Denver. São mais de 120 “terapeutas” de quatro patas circulando pelos corredores. Curiosamente o nome do programa é Canine Airport Therapy Squad (CATS) — a sigla forma a palavra “gatos” em inglês. E apesar da presença quase total de cães, ele, o gato, está lá! Se chama Xeli, e parece ser bem fofo, como é possível ver abaixo. Todos usam coletinhos azuis onde está escrita a expressão “pet me”, algo como “me acaricie”. Tem como resistir? “Nossos voluntários nos contam como os passageiros ficam agradecidos quando eles veem um membro do CATS, seja o passageiro alguém com medo de voar ou alguém que precisa de um tempo a mais para ajeitar suas coisas enquanto as crianças estão interagindo com o animal. Viajar pode ser estressante e amamos que nossos membros do CATS surpreendem e confortam quem está no aeroporto”, contou ao rivotravel Alex Renteria, da assessoria de comunicação do Aeroporto Internacional de Denver.

 
Os “terapeutas de quatro patas” do Aeroporto de Denver têm até crachá, no qual os passageiros podem aprender mais sobre o animal (Crédito: Aeroporto Internacional de Denver)

Os “terapeutas de quatro patas” do Aeroporto de Denver têm até crachá, no qual os passageiros podem aprender mais sobre o animal (Crédito: Aeroporto Internacional de Denver)

 
 
Xeli (a pronúncia é zeelee) passou a integrar a equipe de animais do Aeroporto de Denver em 2017 e “trabalha” duas horas por dia (Crédito: Aeroporto Internacional de Denver)

Xeli (a pronúncia é zeelee) passou a integrar a equipe de animais do Aeroporto de Denver em 2017 e “trabalha” duas horas por dia (Crédito: Aeroporto Internacional de Denver)

 

E o que dizer de LiLou, a simpática porquinha (o “inha” fica por conta da meiguice, pois ela é bem grande) que faz a alegria de crianças e adultos do Aeroporto Internacional de São Francisco? Ela tem até conta no Instagram, com mais de 26 mil seguidores no fechamento desta matéria. Uma verdadeira digital influencer (droga, estive duas vezes no aeroporto de São Francisco, mas não cruzei com essa verdadeira celebridade). Nas redes sociais é possível acompanhar o dia a dia de LiLou, desde suas refeições até fotos com acessórios fashion. Muito chique essa porquinha. Ah, as “unhas” das patas são pintadas de vermelho bem vivo. Minimalismo não entra na vida da mascote. Quando está no aeroporto, circula com um item de moda básico bem apropriado para a ocasião: um quepe de piloto. LiLou gosta também de se divertir apertando botões coloridos de um teclado, desses feitos para crianças pequenas. “Ela faz truques que nem um cachorro”, disse à agência de notícias Reuters a pequena passageira Katie Schroeder, de 8 anos. Quer saber mais da vida de celeb suína? Siga @lilou_sfpig

Segundo Tatyana Danilova, a cuidadora de Lilou, a simpática porquinha é a primeira de sua espécie a trabalhar como animal de terapia em um aeroporto (Crédito: Reprodução Instagram)

Segundo Tatyana Danilova, a cuidadora de Lilou, a simpática porquinha é a primeira de sua espécie a trabalhar como animal de terapia em um aeroporto (Crédito: Reprodução Instagram)

De todas as fotos que pedi às assessorias de comunicação dos aeroportos americanos, uma que eu amei muito foi essa abaixo, enviada pelo Aeroporto de Minneapolis–Saint Paul. Na imagem aparecem Bishop e Cola, o maior e o menor entre os 99 cães (e um gato!) do programa de animais terapêuticos deles. Bishop é um cão da raça dinamarquês e que pesa inacreditáveis 61 quilos (pudera, olha o tamanho do bicho) e Cola é uma singela teacup poodle (não achei tradução para o português, deve ter só na gringa mesmo) que pesa apenas um quilo. Que fofos!

 
Como não amar o gigante Bishop e a pequenina Cola, dois dos cães terapêuticos do Aeroporto Internacional de Minneapolis-Saint Paul (Crédito: divulgação)

Como não amar o gigante Bishop e a pequenina Cola, dois dos cães terapêuticos do Aeroporto Internacional de Minneapolis-Saint Paul (Crédito: divulgação)

 

Já no Aeroporto Internacional de Cincinnati/Northern Kentucky, as vedetes são cavalos em miniatura. Não confundir com pônei (eu mesmo, quando vi as fotos, achei que era a mesma coisa). Segundo a revista especializada Animal Business Brasil, um cavalo-miniatura é um equino de porte reduzido, com até 60 centímetros de altura, que pode ter várias cores de pelagem e não serve para montaria. Tá explicado.

Voltando ao Aeroporto de Cincinnati, os cavalos vêm de um rancho especializado em animais de terapia, que duas vezes ao mês envia ao aeroporto os pequeninos Ruby e Denver (mas também há um rodízio com outros). A cultura de criar cavalos é bem forte no estado do Kentucky, onde está localizado o aeroporto — que resolveu dar esse toque regional quando optou pelos animais que iriam percorrer suas instalações. Não são umas coisas lindinhas? Em 2017, eles ganharam até um prêmio, dado pelo Airport Council International — North America como melhor programa voltado ao cliente. Uma reportagem do site NPR acompanhou os cavalinhos por algumas horas e flagrou de tudo: muita gente fazendo selfies, garotinhos tímidos que no início tinham medo de se aproximar e até uma menina de 4 anos que não queria desgrudar dos cavalos de jeito nenhum! Ruby e Denver também fazem visitas a casas de repouso e escolas. E a dona dos animais já pensa em “incrementar o negócio”, treinando macacos com função terapêutica. Só não pode ser daqueles que roubam objetos de turistas. Já pensou?

 
Olha, acho que se eu encontro um cavalo em miniatura no embarque fico tão in love que até esqueço um pouco o medo de voar (Crédito: Divulgação Seven Oaks Farm)

Olha, acho que se eu encontro um cavalo em miniatura no embarque fico tão in love que até esqueço um pouco o medo de voar (Crédito: Divulgação Seven Oaks Farm)

 

A lista de aeroportos americanos com esse tipo de projeto é grande e inclui ainda os de San Jose, Dallas/Fort Worth, Phoenix, Miami, San Antonio e Charlotte, entre outros. Mas vamos sair um pouco dos EUA, para não dizer que eu fiquei americanizado. De fato eles dominam o número de programas de animais terapêuticos em aeroportos, mas não estão sozinhos. Um pouco mais ao norte, no Canadá, é possível encontrar exemplos da prática em Edmonton, Winnipeg, Fort McMurray, Regina, Saskatoon, Halifax, Vancouver e Calgary. O pioneiro foi o de Edmonton, que estreou o serviço em 2014. Por lá tem até um doberman, que para muitos é considerado um animal agressivo (nota: eu já tive um, na infância, e era um amor de cão ♡). “Acho que os dobermans têm uma má reputação, mas o coração deles é tão grande quanto o porte (da raça)”, diz a dona do animal, Barb Olmstead, em entrevista ao jornal The Globe and the Mail. Para o mesmo veículo, a gerente de experiência do cliente Sarah Cox afirmou que alguns passageiros chegam a oferecer dinheiro para ter um acesso mais exclusivo aos cães, de modo que estejam de prontidão no desembarque. “Mas não dá, eles (os animais) são para todos”, diz Cox. “Uma vez uma passageira cujo cão tinha acabado de falecer se jogou no chão e enfiou o rosto nos pelos de um Golden Retriever. Foi uma cena tocante”, relata.

 
Olha que carinha mais linda que esse cão tem. Ele ajuda a relaxar passageiros no aeroporto canadense de Fort McMurray (Crédito: divulgação)

Olha que carinha mais linda que esse cão tem. Ele ajuda a relaxar passageiros no aeroporto canadense de Fort McMurray (Crédito: divulgação)

 

Fora dos EUA e Canadá, as experiências são mais pontuais, com destaque para iniciativas similares em Mumbai (Índia) e nos aeroportos italianos de Gênova, Malpensa e Linate (este dois últimos em Milão). Tomara que a terapia com animais vire uma tendência mundial. Deve ser um barato estar lá, na neura, se pelando de medo do voo que se aproxima, e aparecer um cachorrão todo peludo com carinha de “quero dengo”. Ou um gato. Ou um cavalo. Ou uma porca, bem diva. Segue o rivotravel no insta, LiLou?

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