Oito belos aeroportos para até esquecer o medo de voar
Para muitas pessoas (inclusive eu, é claro), aeroporto pode ser sinônimo de pavor. Uma verdadeira prisão medieval que agrupa milhares de condenados (passageiras e passageiros) esperando sua hora de subir no cadafalso (sala de embarque) em direção ao fim trágico (avião). E aí, se identificou? Mas e se a gente puder ver os aeroportos com outros olhos? De repente admirá-los pela beleza de suas construções. Listo abaixo alguns belos exemplares. Se fosse dar conta de tudo, a relação seria enorme. Sendo assim, a lista não pretende ser definitiva aqui no rivotravel, é claro. Conversei com alguns arquitetos e arquitetas, trabalhei minha memória e por fim usei a internet para elencar alguns aqui.
E vamos começar pelos mais recentes, aqueles que ainda estão “com cheirinho de novo”?
ISTAMBUL
O novo aeroporto da maior cidade turca leva o simples nome de Istambul Airport, ou Aeroporto de Istambul (acima). Foi inaugurado no mês passado. Mas a simplicidade para no nome, pois tudo é grandioso por lá. Planejado para ser o maior aeroporto do mundo, suas obras serão finalizadas apenas em 2028. Lojas de marcas de luxo como Louis Vuitton, Valentino, Hermes e Dior marcam presença. Quem assina o Istambul Airport é um pool de escritórios ao redor do mundo (Grimshaw, Nordic Office e Haptic, Architects, em colaboração com os escritórios turcos GMW Mimarlik e Tekeli Sisa).
2. BEIJING
Inaugurado em setembro passado, o novo aeroporto de Beijing, capital da China, também é de encher os olhos. Com seu formato de estrela do mar (amo), Daxing (acima) também pretende se transformar no maior do mundo no futuro— ou seja, a briga com o de Istambul será grandiosa, literalmente. Ele leva a assinatura do escritório da prestigiada arquiteta anglo-iraquiana Zaha Hadid, falecida em 2016. Daxing fica meio distante do centro da capital (58 quilômetros), mas está integrado a uma estação de trem e metrô no subsolo, que leva o passageiro até a zona central em inacreditáveis 19 minutos. Os chineses estão tão imbuídos na divulgação do novo aeroporto (e do país a reboque, é claro) que fizeram vídeos em vários idiomas apresentando Daxing aos internautas. Inclusive falado em português. Amo o sotaque fofo da moça (ver abaixo).
Uma das arquitetas entrevistadas para essa matéria foi a professora universitária Alejandra Hernández Muñoz. Uruguaia de nascimento, Alejandra é uma verdadeira globetrotter (nome metido a besta e cool para designar pessoas que viajam muito). Seja a trabalho ou de férias, Alejandra tem o passaporte recheado de carimbos. Então, de aeroporto ela entende. Até para apontar os mais caóticos, estressantes e, de certa forma, “indesejáveis”, como Domodedovo, um dos três que servem Moscou (“traumático, tem um espírito ‘rodoviária’”, diz). Sempre que pode, ela corre léguas de aeroportos que ela apelidou de “Serra Pelada”, em alusão à enorme área de garimpo no Pará, cujas imagens lotadas de homens carregando sacos ganharam o mundo. Pergunto à arquiteta o motivo do apelido para esses aeroportos. “Sabe aquelas filas intermináveis com todo mundo sofrendo carregando sua bagagem?”, pergunta, para em seguida mandar, pelo WhatsApp, uma famosa obra do fotógrafo Sebastião Salgado. E quais seriam esses aeroportos? Ela cita o antigo de Istambul (Ataturk, que agora passa a ser aeroporto militar); o de Adis Abeba, na Etiópia; e o de Guarulhos, em São Paulo.
Eita que a matéria era para falar de aeroportos belos e descambei para os feios! Faz parte, uma coisa não vive sem a outra, não é mesmo? Alejandra também dá alguns exemplos positivos, como o de Carrasco, em Montevidéu, no Uruguai (por uma memória afetiva, diz). Eu nunca estive lá — um sonho, inclusive, conhecer nosso vizinho —, mas já vi fotos e acho bem lindo. Simples e lindo, ele é assinado pelo arquiteto Rafael Viñoly. “Um aeroporto que me chamou a atenção pela arquitetura arrasadora é o de Amã, na Jordânia”, afirma Alejandra. O Queen Alia (Rainha Alia), como é conhecido, foi concebido pelo escritório Foster and Partners. O Foster vem de Norman Foster, badaladíssimo arquiteto inglês.
3. MONTEVIDÉU
O novo aeroporto de Carrasco foi inaugurado em dezembro de 2009 — o voo de estreia, inclusive, veio do Brasil. O grande teto, que vai de uma ponta a outra, tem 400 metros de extensão. No ano seguinte à inauguração, a BBC elegeu os dez aeroportos mais bonitos do mundo e incluiu o de Carrasco na lista. Adoro pela simplicidade e por estar localizado em uma grande área plana e sem “distrações” ao olhar.
4. AMã
O incrível aeroporto Queen Alia, em Amã (Jordânia) foi inaugurado em 2013. Ele substituiu três terminais antigos (dois de passageiros e um de cargas) que também levavam o nome da rainha. A inspiração veio das tendas dos beduínos, povo árabe e nômade do deserto.
5. MADRI
Vários arquitetos consultados pelo rivotravel destacaram o aeroporto de Barajas, em Madri, na Espanha. O terminal 4 (foto acima) foi inaugurado em 2006, tendo sido projetado pelos arquitetos Antonio Lamela e Richard Rogers, ganhador do Prêmio Stirling por este projeto. Há ainda um anexo do T4. “A existência de um edifício-satélite, separado da construção do terminal, é devido a várias razões. A principal delas é a separação de funções. Foi apresentada a necessidade de criar um edifício capaz de separar os fluxos de passageiros, por motivos de segurança, nos voos não destinados à União Europeia (UE). Para isso, o satélite possui uma área elevada (nível 2) que separa o fluxo de chegadas “não UE” e as demais internacionais. Assim, evita-se a mistura de passageiros de chegada e saída nestes vôos”, explicou em artigo o site especializado em arquitetura ArchDaily Brasil.
6. SINGAPURA
E é claro que a matéria não poderia deixar de citar o aeroporto Changi (acima), em Singapura, eleito em março o melhor aeroporto do mundo pela sétima vez consecutiva pelo prestigiado ranking Skytrax. Changi até já foi matéria do rivotravel, que você pode ler aqui. Os quatro terminais oferecem uma imensa variedade de serviços, praças de alimentação, salas de descanso, spa e uma “trilha da natureza”, com jardins temáticos para os visitantes. E também em março, coincidentemente, o aeroporto inaugurou a The Jewel (A Joia, em português), um espaço (foto acima) com lojas, restaurantes e muito verde. O destaque vai para uma gigante queda-d’água que desce do meio do teto de vidro.
Mas nem Changi é unanimidade. A arquiteta brasileira Juliana Ribeiro mora na Austrália e em fevereiro fez uma viagem à Tailândia com o marido, com conexão em Changi. “Impressiona pelo tamanho, mas achei muito monumental, um pé-direito muito alto”, relembra. Ela também conta que desembarcaram com muita fome, e enquanto o voo seguinte não saia, resolveram caçar uma opção vegetariana para comer. Não acharam. Mesmo as opções de pratos com vegetais eram todas com caldos de origem animal. Viram, então, uma barraquinha anunciando a venda de smoothies (uma espécie de suco cremoso e encorpado). Compraram, animados. Os dois copos acabaram indo parar no lixo, pois as frutas naturais passaram longe: o produto era, na verdade, uma mistura de gelo triturado com xaropes artificiais. “E também me senti meio acuada˜, relata a arquiteta ao falar sobre o contato com a cultura muçulmana. Ela conta que o funcionário da companhia aérea que fiscalizava os passaportes adotou uma postura agressiva, olhando repetidas vezes para o passaporte e para ela, com ar intimidador.
(Fico passado como eu fujo do tema quando estou escrevendo…)
Continuemos, então! Vamos dar um tempo no giro internacional para também dar destaque para as pratas da casa (odeio essa expressão, nem sei por que usei aqui…). No Brasil, não temos muita tradição de beleza em aeroportos, mas por trás de décadas de descuido surgem alguns exemplos interessantes, como o de Brasília. Mas nenhum deles, acredito, bate o…
7. RIO DE JANEIRO
Que surpresa citar aqui o Santos Dumont, hein? Estou sendo irônico, claro. O aeroporto é lindo demais. OK, o fato de estar em uma localização privilegiada, na baía de Guanabara, sendo emoldurado pelos principais pontos turísticos do Rio, tudo isso já ajuda demais, né? Foi construído na década de 1930, com projeto do francês Alfred Agache, e está situado em um enorme aterro. Quando estou na cidade, adoro ver a aproximação, pouso e decolagem dos aviões de pontos como o ótimo bar Mureta, na Urca; do alto do Pão de Açúcar; e do Parque das Ruínas, em Santa Teresa. Eu também gosto muito do terminal, com bastante luz solar (que abunda na cidade). Em 2016, ano dos Jogos Olímpicos do Rio, foi inaugurado um moderno complexo interligado ao Santos Dumont, com shopping, centro de convenções e hotel. Naquele mesmo ano, o aeroporto foi conectado à linha do VLT (Veículo Leve Sobre Trilhos). Eu amo esse aspecto “fundo de piscina” criado pelos vidros azuis na área dos portões de embarque, como aparece na foto abaixo. E, por ser todo em vidro, o espaço oferece uma linda vista para o mar e montanhas. E para os aviões, claro. Essas belezinhas que tanto me assustam, mas também me fascinam.
8. NATAL
E o Aeroporto Governador Aluízio Alves, em Natal (RN)? Talvez seja desleal colocá-lo lado a lado com beldades internacionais com muito mais vigor e investimento, mas aqui está. Em 2016, foi eleito o melhor aeroporto brasileiro na categoria até 5 milhões de passageiros pela em pesquisa realizada pela Secretaria de Aviação Civil (SAC), mas andou caindo posições nos anos seguintes. Vamos melhorar isso aí, Natal! De volta ao ouro, hein? :-)