Músicas para voos e viagens: um casamento feito nos céus

Música pode acalmar os panicados?

Escutar música é o refúgio de muita gente que sofre de aerofobia, na tentativa de acalmar os nervos. Há fatos curiosos. Na matéria Famosos também choram (de medo), contamos o caso de Megan Fox. A atriz de Hollywood já disse em entrevistas que passa as viagens de avião ouvindo Britney Spears. Da decolagem ao pouso! O motivo? Nem ela sabe direito — e muitas das vezes não sabemos mesmo. O fato é que, para a panicada famosa, só a cantora de clássicos do pop como “…Baby, One More Time” a separa da morte em uma acidente aéreo. Olha, quem somos nós pra julgar as manias dos outros, não é? Se não está incomodando ninguém, que mal há escutar Britney por horas e horas? Eu, inclusive, sou um grande fã.

 
Escutar música pode ajudar a lidar com o medo de voar? Olha, eu acredito

Escutar música pode ajudar a lidar com o medo de voar? Olha, eu acredito

 

A bibliotecária Luba Melo é outra panicada que busca refúgio na música. Em novembro, ela visitou a Europa e, claro, sofreu bastante nos voos, mas contou com uma ajudinha sonora dos fones de ouvido. “É uma maneira de sair da realidade, esquecer que estou dentro de um avião. Normalmente a música tem esse poder em mim, me levar pra longe”, diz. O gosto de Luba é bem eclético. Na última viagem, por exemplo, selecionou artistas como Amy Winehouse, Luiz Gonzaga, Gloria Gaynor e a mexicana Natalia Lafourcade. Amo salada musical!

Outra leitora do rivotravel, Paula Montalvão conta que costuma separar músicas que transmitem paz e que fazem uma conexão com a fé. “Isso me traz uma segurança de que está tudo sob controle e, claro, me distrai do barulho do avião, especialmente na decolagem”, conta a assessora de eventos, elencando alguns nomes do estilo gospel de ritmos variados, como Gabriela Rocha e Isaías Saad até Salomão do Reggae. Ela coloca o som no volume máximo, fecha os olhos e tenta controlar a respiração. Uma das músicas que mais gosta tem um trecho que diz “coloque o medo debaixo do braço e siga" (a letra é de Risco, cantada por Marcela Taís). “E assim eu vou. Panicada, mas vou”, conta Paula.

E é sempre bom lembrar que a música pode ir além de relaxar ou abafar o ruído do avião. Ela pode realmente curar. Para isso existe a musicoterapia, conjunto de técnicas baseadas na música e empregadas no tratamento de problemas somáticos, psíquicos ou psicossomáticos. Antes de mais nada, é preciso dizer que, quem se interessar, deve procurar uma ou um profissional com qualificação e formação regulamentada pelo Ministério da Educação (MEC). Uma dica é acessar o site da União Brasileira das Associações de Musicoterapia. E de qual forma a música pode ajudar passageiras e passageiros com aerofobia, nos dias (ou semanas) que antecedem uma viagem, em aeroportos e durante os voos? Segundo a professora Mariana Lacerda Arruda, coordenadora do curso de bacharelado em Musicoterapia da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), não existe uma receita pronta. “Mas ouvir músicas do gosto pessoal, que tragam boas lembranças ou boas sensações, associado a um bom aparelho de som ou fone de ouvido, em um ambiente que proporcione o relaxamento, com silêncio, espaço aconchegante, pode ajudar no alívio da ansiedade”, afirma a professora ouvida (sem trocadilhos) pelo rivotravel. Pena que esses espaços, em tempos de aeroportos e aviões cada vez mais lotados de pessoas, sejam raros, não é? Mas acho que sempre dá para achar um cantinho mais vazio antes do embarque. E, uma vez em voo, uma boa opção é ir ao banheiro e ficar uns bons minutos ali, concentrado na respiração. Eu amo, me acalma bastante. Da próxima vez vou adicionar a esse método a audição de algo bem tranquilo. Pensei agora em Clair de Lune, do compositor erudito francês Claude Debussy (você certamente conhece, é linda…).

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU

Mas uma hora o avião pousa. E nada de guardar o iPod ou celular: a música também pode ser uma grande aliada nas viagens (ou seja, depois que o terror do voo passou). Lugares muito turísticos costumam ser extremamente barulhentos, característica que pode acabar dispersando a atenção dos visitantes. Para dar um pouco de paz e ajudar a entrar no clima, uma boa opção é usar serviços de streaming de músicas ou fazer, antes da viagem de ida, o download de canções que combinem com o passeio. Aliás, acho que, se eu fosse escritor de guias turísticos, colocaria sugestões musicais para cada atração descrita. Vou inclusive tentar incorporar isso nas próximas matérias aqui sobre destinos ao redor do mundo.

 

Você consegue pensar em uma trilha sonora para essa foto?

 

As opções de playlists para dar uma ambiência em uma viagem e maximizar as sensações são inúmeras. Bandas de rock hipster em Nova York, punk rock em Londres, música barroca na Itália. Tudo isso não só ajuda a te isolar da poluição sonora como ainda te transporta mais facilmente para uma outra época. Quer coisa mais linda do que visitar um castelo medieval ou uma catedral gótica ao som de cantos gregorianos? Já fiz isso e garanto: é uma experiência única. Muitas vezes nem preciso “ouvir” a música. Cantarolar ou mesmo pensar na melodia já está valendo. Foi assim que percorri Los Angeles com “California Dreamin”, do The Mamas & the Papas, em minha mente (aquela clássica letra do “All the leaves are brown. And the sky is grey. I've been for a walk. On a winter's day. I'd be safe and warm. If I was in L.A. California Dreamin'. On such a winter's day”).

Como disse o escritor Rubem Alves, “há músicas que contêm memórias de momentos vividos. Trazem-nos de volta um passado. Lembramo-nos de lugares, objetos, rostos, gestos, sentimentos. (…) Mas há músicas que nos fazem retornar a um passado que nunca aconteceu”. Essa última frase me parece cheia de significados. Pode ser uma volta a um passado que não vivemos, mas que foi presente um dia, mesmo que há muito tempo atrás, e se faz atual novamente na medida que a música puxa essa memória histórica, secular ou mesmo milenar. Visitar o Marrocos e se deixar levar pelos elementos percussivos árabes. Alugar um carro na Espanha e dirigir pelo interior do país com um belo violão flamenco saindo dos alto-falantes. Cruzar a ferrovia Transiberiana ao som de uma balalaica (o famoso instrumento de cordas russo, não a vodca barata, por favor)… Coisas que eu ainda quero fazer nessa vida.

Claro que isso tudo é apenas minha opinião. Certamente há quem queira ouvir rock hipster na Itália ou música barroca em Nova York, e não há nada de errado nisso :-)


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