Medicações para voar: desvendando um pouco o mundo dos ansiolíticos — muito calmante nessa hora!
Desde que comecei este site, lá em 2017, a ideia inicial era abrir um pouco de minha cachola panicada para que outras pessoas que sofrem com aerofobia pudessem encontrar um porto seguro (ou seria aeroporto?) para buscar informações das mais diversas possíveis. Inclusive o uso de medicações. Como o próprio nome “rivotravel” já entrega, eu faço uso de remédios para tirar a ansiedade na hora de voar. E esse universo é alvo de questões frequentes dos internautas. “Qual medicação você usa? Qual aconselha? Quando tomar?”. Para todas e todos, dou a mesma resposta: calma! Primeiramente, não sou médico, não posso sair receitando ou mesmo dando conselhos assim, muito menos para pessoas que conheço apenas com uma troca de mensagem na internet. Não é assim fácil, né, pessoal? Aliás, ainda bem que não é, pois o assunto é sério.
Para todo mundo que me procura com as dúvidas de sempre, sobretudo sobre o que tomar, eu respondo: busque um psiquiatra. Perca as inibições e preconceitos que cercam esse tipo de profissional e abra seu coração. Conte tudo: o que sente, possíveis causas da fobia, quais os momentos mais difíceis do voo, quais sentimentos te cercam nessas horas de medo... Ele está ali para te ouvir. E, se for o caso, te receitar algo que te ajude a enfrentar o tormento que é pegar um avião, pelo menos para nós, panicados assumidos. Para tirar algumas dúvidas e lançar luz sobre o tema, conversei com o psiquiatra Álvaro Cabral Araújo, pesquisador e colaborador do Programa Ansiedade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP).
Ele começa lembrando um ponto importante: a ajuda medicamentosa pode ser acompanhada de tratamento terapêutico, visando um melhor resultado. “A aerofobia ou medo de voar é classificada como uma ‘fobia específica’ do tipo situacional”, explica o psiquiatra, salientando que o tratamento para as fobias específicas é a Terapia Comportamental ou Cognitivo-Comportamental — linhas de psicoterapia que utilizam técnicas de exposição para permitir que o paciente entre em contato com o objeto ou situação temidos.
O profissional diz que atualmente existem diversos recursos disponíveis para o tratamento psicoterápico da fobia de voar, incluindo a exposição em ambientes virtuais como simuladores de voo. “O tratamento realizado através da exposição gradual e sistemática pode trazer resultados sustentados, ou seja, que se mantêm a médio e longo prazo.
Até o momento, não existem medicamentos eficazes para o tratamento das fobias específicas, ainda assim, alguns psicofármacos podem ser indicados para reduzir os sintomas experimentados durante a exposição”, orienta Álvaro.
Mas e a parte dos remédios, que é o ponto nevrálgico dessa matéria? Bem, sobre isso o profissional ressalta que alguns medicamentos benzodiazepínicos (como, por exemplo, alprazolam e clonazepam), da classe de psicofármacos hipnóticos e ansiolíticos, podem ser utilizados antes do voo, como forma de reduzir sintomas fóbicos e ansiosos em indivíduos que sofrem com o medo de voar. “Os ansiolíticos atuam no sistema nervoso central modulando a neurotransmissão, esta ação se dá principalmente através do neurotransmissor inibitório GABA (ácido gama-aminobutírico). Dessa forma, os ansiolíticos promovem a redução das respostas de medo e ansiedade, evitando sintomas como palpitações ou taquicardia, sensação de falta de ar ou sufocamento, tremores e outras manifestações comumente observadas em indivíduos fóbicos que são expostos ao objeto ou situação temidos”, afirma.
O pesquisador destaca ainda que os benzodiazepínicos podem causar efeitos colaterais como sonolência, amnésia e confusão mental. Além disso, o uso frequente pode promover dependência e outros prejuízos a longo prazo. Sendo assim, a indicação desses medicamentos requer avaliação médica cuidadosa, salienta o médico, que faz um importante adendo: é recomendável que aqueles que sofrem com o medo de voar ou outras fobias específicas procurem um profissional de saúde mental para discutir as melhores estratégias de tratamento. “Psicólogos especializados em técnicas de exposição podem conduzir o tratamento psicoterápico, enquanto psiquiatras podem prescrever ansiolíticos que auxiliam pontualmente no momento do voo”.
Portanto, pessoal, ouçam o psiquiatra da USP: procurem um profissional em sua cidade. Podem continuar me mandando mensagens com dúvidas sobre o uso de medicações. Mas para todas elas a resposta será a mesma: por que não marcou ainda com um médico? Está esperando o quê? Travar na hora de embarcar no avião? Vamos amenizar esse tormento!
Quer ler mais sobre o assunto? O rivotravel já abordou o tema medicações para voar anteriormente — em uma matéria chamada Panicado's anatomy: quando o medo de voar precisa de ajuda médica. Para ler, é só clicar no botão abaixo da foto a seguir: