Islândia: um país muito, mas muito louco. E insanamente belo
Caminhei em direção ao mar. O solo era rochoso e irregular, coberto por uma fina e úmida camada de algo que julguei parecer um híbrido entre grama cortada bem baixa e líquen. Não sabia que horas eram, meu relógio biológico ainda não estava acostumado a tantas horas de claridade. Era impossível ver o sol, em todo caso. Apenas uma luminosidade leitosa era esparramada no ar, que parecia eletrificado. O céu estava carregado, cores escuras desabando como uma maciça torre caída sobre o oceano em um horizonte de 180 graus sem barreiras. O mar estava longe ainda, mas o barulho me alcançava forte. Toda paisagem era cinza, mesmo a vegetação rasteira parecia desviar para um tom gris. O vento gélido batia em meu rosto em fortes rajadas, deixando-o paralisado. Os lábios estavam secos. Não havia animais ou seres humanos. Naquela solidão me senti completo e conectado com um Deus no qual não acreditava, mas que parecia me mandar um recado.
Era o auge do verão da Islândia. A cena é verídica.
Minha aventura nessa terra distante começou há exatos dez anos, em 10 de agosto de 2010, quando desembarquei em Reykjavik — capital islandesa. Mas, antes, um pouco de história, que de história é feita a humanidade.
Sabe aqueles filmes românticos, quando um casal de velhinhos relata o início da paixão que um sente pelo outro e vemos um flashback para a exata cena do encontro dos dois futuros enamorados? Pois eu consigo identificar o momento em que me apaixonei pela Islândia. Não tem relação com Björk, artista incrível que descobri na adolescência. O amor surgiu antes disso, ainda criança. Estava sentado no chão da sala da casa onde passei a infância, as tábuas do assoalho de madeira encerado refletindo as luzes do lustre — era fim de tarde, quase de noite, aquele horário no qual não sabemos se ainda é dia ou se já é de noite. Folheava um livro sobre a Escandinávia (tenho a edição até hoje) e me deparo com essa foto abaixo:
Foi amor à primeira vista. Essas casinhas coloridas, esse clima de cidade de bonecas. E esse nome, Reykjavik, tão diferente, tão sonoro. E, décadas depois, em 2010, pude me encontrar com meu amor e ver a surreal (e surreal uma palavra super adequada ao país) quantidade de belezas islandesas, que vão muito além da pequena — porém surpreendentemente vibrante — capital, cuja “área metropolitana” concentra metade dos poucos 360 mil habitantes da ilha.
E o que me fez atribuir a loucura ao país, como no título desta matéria? Não falo de sua filha mais famosa, a insanamente talentosa Björk (que por sinal é um nome comum por lá, fui em uma agência bancária em Reykjavik e fui atendido por uma homônima da artista). Vejam só comigo:
Não é raro ver pais dentro de um café ou restaurante com crianças pequenas no carrinho… do lado de fora! Não importa a temperatura. Eles acham esse um hábito saudável para os pequenos islandeses.
Eles têm um museu do pênis. Não, não o visitei (pois não sabia de sua existência, até passei pela pequena cidade onde ele está localizado).
A cerveja era ilegal até 1989, pois eles achavam que sua introdução no mercado iria acabar com a bebida local (Brennivín) e também por associar a cerveja ao estilo de vida dinamarquês, de quem foram colônia por séculos.
O parlamento islandês foi fundado em 930 (sim, 930) e é um dos mais antigos do mundo.
Até hoje eles não tem sobrenomes como nós entendemos o termo. É assim. Meu nome é Salvatore. Minhas irmãs são Lucia, Stella, Tiziana e Giovanna. Meu pai era Vito. Então meu nome completo seria Salvatore Vitosson. Os de minha irmãs seriam o nome delas seguidos de Vitodottir. Literalmente fulano ou fulana filho ou filha de Sicrano. Não sei como isso se dá hoje em dia, com mães solo e casais homoafetivos.
Ah, mais uma no campo dos nomes. Lá existe uma lista oficial com os nomes (todos tradicionalmente islandeses) com os quais você pode registrar um bebê.
Reykjavik é a capital mais ao norte do mundo. Acima dela está Nuuk, mas a Groenlândia é uma região autônoma da Dinamarca.
Volta e meia tem umas erupções por lá.
Mas vamos voltar aos 10 anos de minha ida à ilha. Não se preocupe, pois a lista de belezas não está desatualizada, uma vez que, para mim, o grande barato da Islândia são justamente as paisagens.
Em 2010 eu estava pulando de um frila para outro, sem conseguir um emprego fixo. Pois depois de um desses “tchaus” que dei na redação do jornal onde trabalhava, em Salvador, me veio a ideia de fazer uma viagem. A ideia surgiu conversando com uma amiga, a jornalista e fotógrafa Daniella Sasaki, que não apenas cedeu gentilmente a maioria das fotos aqui da matéria como ajudou a refrescar minha memória da viagem. Por duas horas, conversamos pela internet (ela hoje mora na Inglaterra) e relembramos passo a passo da jornada. Esse é um exercício que adoro fazer, essa volta por meio da memória a locais tão marcantes. Fica a dica em tempos de quarentena.
Em 2010, Dani morava em Copenhague, na Dinamarca. Como ex-colônia do país escandinavo, a Islândia mantém muitas relações com a antiga metrópole. Inclusive voos. Foi assim que a viagem à “ilha do gelo”, tão desejada por ambos, começou a se concretizar. Depois de ótimos dias na capital dinamarquesa, pegamos um avião da finada Iceland Express (fiz um review desse voo nessa matéria aqui bem no comecinho do rivotravel) e partimos para o aeroporto de Keflavik, que concentra a maioria dos voos internacionais. A aproximação para aterrisagem, aliás, é surreal. A impressão é a de que o pouso será feito em solo lunar, pois o aeroporto está localizado em um enorme campo rochoso de origem vulcânica.
Reykjavik achei o máximo, mas talvez nem todo mundo ache. Pois eu tive uma experiência ótima. Achei “pequena e doidinha”. Conheci diversos islandeses (eu e Daniella nos hospedamos na casa de uma, via couchsurfing, comunidade bem bacana e que já foi tema de matéria aqui no site. Fui em alguns mercados e vi que são iguais aos nossos, mas com tudo super hiper mega caro (eles pouco produzem por lá, a maioria das coisas vem de fora. Ou seja, de longe). Admirei o sol da meia-noite. Vi ótimas apresentações de bandas locais em uma espécie de Virada Cultural. Dei uns giros na noite, que é bem agitada. Conheci uma rua cuja construção desviou de uma pedra de uns dois metros de altura pois era habitat de gnomos. Comi carne de baleia (sim, é errado, hoje me arrependo) e também um tradicional presunto defumado no esterco de ovelha. Visitei galerias de arte bem interessantes. Até em um churrasco (de jardim, no gélido verão quase-ártico) na casa de um islandês que nem conhecia acabei indo.
Há alguns pontos turísticos na cidade. O Perlan é museu interativo onde se pode conhecer melhor os fenômenos geológicos e a fauna e flora do país. O Harpa Reykjavik Concert Hall and Conference Centre tem uma arquitetura incrível. Funciona como uma grande escultura que reflete tanto o céu e o espaço do porto. O projeto foi assinado por um grupo de arquitetos em parceria com o artista visual o dinamarquês-islandês Eliasson Olafur, que eu amo. A Hallgrimskirkja é uma interessante igreja cuja arquitetura remete ao basalto da ilha – lá de cima há uma vista espetacular da cidade. Foi dela que a “foto das casinhas coloridas” que me encantou foi tirada. Aliás, as casas são assim pintadas justamente para dar uma vida à cidade – o país carece de matérias-primas como madeira, então muitas das construções são feitas com concreto ou folhas de aço. As cores também está presente nas ruas na forma de murais de street art espalhados por Reykjavik.
Um lugar que eu amei conhecer foi o Museu Nacional da Islândia, contando toda a história do país. A ilha foi descoberta (realmente descoberta, pois não havia ninguém por lá) por um marinheiro chamado Naddoddr, que se perdeu, numa viagem da Noruega para as Ilhas Faroé, indo até a costa leste da Islândia, terra que batizou de Snæland (Terra da Neve) em algum ano no fim do século IX. A Islândia ficou tão isolada que hoje as crianças pequenas que acabaram de ser alfabetizadas no (para nós complicado) idioma local conseguem ler as tradicionais sagas no original, pois não houve mudanças substanciais na língua ao longo dos séculos. Inclusive a palavra “saga”, usada para grandes jornadas em português, deriva do antigo idioma falado na Idade Média na Escandinávia. Ainda sobre os primórdios da colonização, um interessante ponto de visita é o Landnámssýningin – The Settlement Exhibition, situado nas escavações do primeiro assentamento local. É uma forte mostra de como podemos e devemos manter vivas a memória e tradição de um povo.
Bem, depois de uns dias na capital, era hora de cair na estrada. Pegamos o carro alugado e fomos em direção ao noroeste, dando início à nossa road trip pelo país. Não tínhamos um plano certo, além de dar a volta na ilha (no total rodamos dois mil quilômetros pela A1, a única rodovia do país) e ir parando onde desse na telha – pena que um 4x4 estava fora do orçamento, para percorrer o interior islandês. Mas não vou reclamar, pois foi uma viagem incrível. Em mais de uma ocasião dirigimos por horas sem ver outra alma viva.
Já na saída, um túnel interminável e que descia, descia, descia. A sensação era a de que estávamos indo direto para o centro da terra — aliás, Julio Verne ambientou na Islândia a entrada para o meio do planeta em sua obra Viagem ao Centro da Terra. Quando finalmente acabou a descida, parecia que tínhamos de fato cruzado um portal e caído no meio do nada. Uma paisagem absurdamente linda e diferente daquela que havíamos deixado pra trás.
Primeira parada foi em uma península ao norte da capital, onde está localizado o Parque Nacional Snæfellsjökull. Nessa de “deixa a vida me levar, vida leva eu” fomos subindo, subindo, subindo, até chegarmos em umas pequenas geleiras que ainda resistiam ao verão. O frio era intenso, perto de 0º. E eis que Salvatore vê o gelo in natura pela primeira vez. O céu estava super hiper nublado e a luz do dia (que para nós brasileiro já era noite, pois passava das 18h) não conseguia romper a barreira de nuvens e neblina. A volta ao hotel ali perto, que arranjamos via celular (sem smartphones na época), foi bem tensa. Descer a montanha em chão de terra sem enxergar quase nada ao redor, inclusive do lado. Parecia ser um grande precipício.
O hotel era vazio, sem hóspedes e funcionários. Aliás, saindo de Reykjavik, tudo é absurdamente vazio se compararmos a outros países europeus, mesmo na alta estação. No teto dos quartos, o famoso telhado de grama da Escandinávia. E na varanda, uma jacuzzi com água quente natural. A Islândia produz energia a partir do calor que vem do subterrâneo. Nessa terra falta muita coisa, como árvores, bosques ou plantações (exceto tomate e pepino, que crescem em estufas e povoam o típico café da manhã islandês), mas no quesito água, água quente, calor e atividade vulcânica é imbatível.
Por falar nos vulcões, os islandeses possuem um senso de humor muito peculiar. Quando estive lá, em 2010, o (agora famoso) vulcão Eyjafjallajökull tinha entrado em erupção poucos meses antes, causando a paralisação dos voos por dias no resto da Europa (as cinzas podem causar a parada dos motores dos aviões). O que os islandeses estamparam nas camisas para turistas? “Não brinquem com a Islândia”. E naquele ano as coisas não andavam bem para as finanças do país. Logo a frase “Don’t fuck with Iceland: we don’t have cash, but we have ash” (“Não se meta com a Islândia: não temos dinheiro, mas temos cinzas”), em uma brincalhona ameaça ao resto do mundo. E sabem o “I ♡ NY”, que é símbolo da cidade americana e estampa toda sorte de souvenir? Pois na gelada ilha do Atlântico eles têm também uma frase: Eg tala ekki islensku (“Eu não falo islandês” em islandês) , brincando com a dificuldade do idioma local para os estrangeiros.
Ainda sobre o senso de humor de lá, existe um ditado local que diz: “se o clima está ruim, espere um pouco. Ele vai piorar”. Depois de conhecer o país, digo que é verdade, com uma ressalva. Ele muda, sim, ao tempo todo, mas nem sempre para pior. Nessa road trip era comum deixar um lugar com muita chuva e neblina e poucos quilômetros depois encontrar o maior sol (o tira e bota dos vários casacos, apesar do verão, era uma constante). E não há como esquecer do vento. Muito vento. Acho que a terra do fogo está mais para terra do vento. Lembro de sair de um bar em Reykjavik e ser carregado por ele até o hotel. Outro ponto forte é a beleza das paisagens abertas, as vistas infinitas, os vastos campos desertos.
Bem, seguimos viagem – parando o tempo todo para simplesmente apreciar o momento e tirar fotos –, fomos em direção a Akureyri, no norte, a segunda maior cidade do país, com meros 17 mil habitantes. No meio do caminho, uma estátua em homenagem a Leifur Ericsson, considerado o primeiro navegador europeu a chegar à America do Norte, 500 anos antes de Cristovão Colombo. Lá perto também há uma réplica de uma tradicional casa daquele período (por volta do século XI). As paredes eram grossas e em um material parecido com tufos de terra e grama (esta última também estava presente no teto, é claro). No centro, uma fogueira (gente, que perigo de pegar fogo). Um islandês, vestido com roupas de época, estava lá para contar sobre os hábitos e tradições antigas locais.
Como não fizemos um diário de viagem, fica difícil rememorar os trechos dia a dia. Mas posso garantir que foi uma semana épica. Vamos continuar.
Papai Noel é finlandês, mas parece ter uma casa de campo na Islândia. Pelo menos foi o que achamos na saída de Akureyri. Claro que o apelo comercial era forte. Tudo, como tudo na Islândia, era caríssimo. Saí de lá com uns quatro enfeites feitos de feno, os mais baratinhos que encontrei. Até hoje estão com minha mãe, que fez um interessante móbile com ele. Nessa viagem, encontramos duas pequenas crianças no meio do nada, vendendo coisinhas que tinham feito. Também me lembro de ter visto um parquinho em uma praça de Reykjavik cheio de pequenas islandesas e islandeses brincando sem nenhum adulto por perto.
Em Vik, fomos ver baleias. Quer dizer, tentamos. Entramos em um barco e seguimos pro norte, em direção ao círculo polar ártico, que passa ali perto. Tirando uma cauda aqui, outra ali, não vimos nada. Não era o dia delas. De lá, fomos para a região do lago Mývatn, que possui inúmeros vulcões e formações geológicas interessantes. Há também uma usina que aproveita o calor para gerar energia elétrica. A paisagem é absurdamente linda, parecia que estávamos na Lua ou em Marte. Muito curioso era ficar observando poças de lama borbulhando no chão. O cheiro de enxofre era intenso.
Na costa leste, visitamos alguns dos fiordes islandeses – que, é bem verdade, não possuem a exuberância dos parentes noruegueses. Por lá achamos algumas casas abandonadas (amo!). Aliado ao cinza do céu, dava todo o cenário de livros de suspense. Na última década a literatura policial escandinava virou a queridinha do mundo editorial e dos leitores do gênero. Gosto particularmente da obra de Arnaldur Indriðason, de títulos como Vozes e O Silêncio do Túmulo (no Brasil, sua obra é publicada pela Companhia das Letras). E pesquisando a grafia correta do escritor encontrei vários outros nomes. A Islândia é um dos países que mais lê no mundo, e é hábito dar livros como presente. Em Reykjavik, fui em uma livraria grande e estava um fervo, lotada.
Voltando às paisagens islandesas. Com tanto gelo, não é de se estranhar que a água abunde (minha colega de viagem lembrou que os bares e restaurantes de Reykjavik davam garrafas de água gratuitas aos clientes). É quase uma commodity ou um patrimônio nacional – no avião cada passageiro recebeu uma garrafa de água com Pure Icelandic no rótulo (tenho a embalagem até hoje). O país tem belas e altas cachoeiras, como Skógafoss e Seljalandsfoss, na qual você pode passar pelas laterais e ver a queda por trás. Ambas tem cerca de 60 metros de altura, o equivalente a um prédio de 20 andares.
Por falar em geleiras, tivemos a oportunidade de pegar um barco e navegar em meio a icebergs (vimos até um se partindo) na lagoa de Jökulsárlón. O guia pegou um pedaço de gelo e nos ofereceu, dizendo para aproveitar, pois provavelmente aquilo seria a coisa mais velha que comeríamos em nossas vidas (Dez mil anos. Obrigado pela memória, Dani). Passeando por lá, fiquei maravilhado com uma foquinha passeando despreocupada. Aposto que se algum islandês me flagrasse me acharia bobo por estar maravilhado com algo tão comum por lá. Mas os gringos também ficam bestas quando encontram os miquinhos que andam pelas ruas de várias cidades do Brasil.
Lá também (e em toda costa sul da ilha) é comum ver praias com areia preta, preta. Um lindo passeio em Jökulsárlón é andar pela praia e ver tantos blocos de gelo encalhados, de todos os tamanhos (a lagoa se conecta com o mar). O contraste do transparente/azul claro do gelo com o solo preto é muito bonito. Pouco mais adiante, passamos por um campo de lava (o Eyjafjallajökull é logo ali, mas não pudemos ir, pois obviamente o acesso estava fechado). O mais curioso foram as formas desse campo, coberto com uma estranha forma vegetal, algo parecendo com líquen, bem fofinho, que criava formas arredondadas. E já que falei mais uma vez do famoso vulcão, me marcou muito ir em um banheiro em uma parada na estrada e ter uma vassourinha e uma pá, junto a um aviso pedindo que os usuários ajudassem a manter o chão limpo das cinzas. Aliás, voltei pro Brasil com esse souvenir: vários pacotes com cinzas vulcânicas. Espero que o ato não seja enquadrado como turismo predatório. Em um supermercado de Reykjavik eu vi vendendo. Caríssimo.
Em vários momentos do tour nos víamos literalmente no meio do nada, confiando cegamente no GPS (que apelidamos de Mary, the Scottish Sheep – ou Maria, a ovelha escocesa. Longa história). Uma cena particularmente engraçada foi quando nos deparamos com a uma placa apontando pro Hell (inferno) na estrada. Na verdade era pra Hæell, com um pequeno “a” grudado ao “e”. Mas na memória ficou como sendo a passagem direta pra ver o capeta, que, para os islandeses, fala em dinamarquês. Eles realmente caçoam com os antigos dominadores. Lá perto também estão os famosos géiser (esguichos de água quente). Géiser, aliás, é uma palavra islandesa. O geysir é o nome de uma nascente eruptiva em Haukadalur.
Fomos visitar Þingvellir, onde foi fundado o Alþingi (parlamento) original, em 930, poucas décadas após a chegada do primeiro homem na ilha. Os representantes de cada povoado se encontravam anualmente para discutir assuntos de relevância “nacional”. As reuniões ocorreram no local até 1798. Lá é possível admirar o famoso “encontro” das placas tectônicas, a norte-americana e a euro-asiática, e caminhar pelo meio delas. A sensação de que os dois paredões iam fechar como uma armadilha me perseguiu, confesso.
Um ponto alto da viagem certamente foi mergulhar em um dos pontos turísticos mais famosos de lá: a Lagoa Azul (Blue Lagoon). O complexo de piscinas de águas termais está situado bem perto de Reykjavik. É possível contratar tratamentos terapêuticos, usar o SPA, fazer refeições e até se hospedar em dois chiques hotéis. Claro que a gente, turista brasileiro, ficou só no básico mesmo, o banho nas águas absurdamente azuis. E foi ótimo.
Em cada hotel ou hostel que parávamos, o cenário era o mesmo: estacionamentos, corredores e áreas comuns desertas e instruções para acesso e pagamento por telefone. Um hotel era particularmente assustador, todo um clima de O Iluminado. Em quase todos encontramos piscinas ou banheiras ao ar livre com água quente natural. Um delícia chegar depois de um dia intenso na estrada e relaxar vendo o céu estrelado. Dureza era entrar e sair, com o frio. Lembro de ter tido vários insights curtindo aqueles momentos. Hoje não me lembro de um sequer. Será que foram concretizados? Pouco importa. Mas uma coisa é certa: um dia quero voltar lá, com meu marido. E depois fazer o que amo fazer com ele: ficar relembrando a viagem passo a passo, que nem eu fiz semana passada com Dani, para preparar esta matéria. Relembrar é viver, já dizem — ainda mais durante uma pandemia! E pra vocês? Qual foi a viagem marcante que vocês gostariam de ir? Ou de voltar, mesmo que só na memória?