“Eu sou um mestre-cuca”
Fritação. As mãos suam. As luzes da avenida passam depressa pelo meu rosto como num clichê de filme. Já estou no saguão. Como tirei as malas do carro? Como o cartão de embarque veio parar em minhas mãos? Oi, seu guarda, é pra você que mostro o passaporte? Pro senhor, desculpa. Pro senhor. Já estão chamando meu nome no alto falante (ou isso ou então são os ecos dentro de minha cabeçca). Mas antes de entrar no maldito tubo metálico de toneladas de peso cujo funcionamento desafia qualquer lógica compro umas garrafinhas de uísque, dessas bem safadas, de motel barato perdido no meio dos Estados Unidos que a gente vê em filme. Viro uma, viro duas, viro três. Nunca mais farei isso. Nunca faça isso, leitor. Pode ser fatal – e não to falando aqui da música de Paulo Ricardo (Afffe Maryah, eu falei de Paulo Ricardo aqui). Entro no avião mais pra lá do que pra cá. A aeromoça pergunta se está tudo bem e a vontade que eu tenho é a de me jogar nos pés dela e gritar ME TIRA DAQUI POR FAVOOOOOR. Mas controle, controle, respira fundo, faz aquele exercício de respiração que você aprendeu e que no fundo você não acredita. Sentado. Ok. Cintos afivelados. Hey, quando foi que o avião começou a taxiar? E por que o comandante já está anunciando “decolagem autorizada” assim, tão rápido? Começo a suar frio, gélido, hiper gélido, zero kelvin. Preciso de algo para me distrair. Olho para o travesseiro de qualidade duvidosa entregue a cada passageiro. Tiro a “fronha”, coloco na cabeça, parando na altura da testa e falo pra meu amigo ao lado “olha, eu sou um mestre cuca”. Só que o falar de um sujeito bêbado e medicado não é beeeeeem um falar. Um grito. E alto. Bem alto. A aeromoça tenta intervir (já disse que estava no meio da decolagem?). Mas minha dúvida é: poderia um mestre-cuca derrubar um avião? Eu, hein, essas comissárias de bordo.