Conheça Changi, o rei dos aeroportos
Para muitos, eles não passam de um lugar sem graça, onde o ideal é ficar o menor tempo possível. Aeroportos: uns amam, outros odeiam. O antropólogo francês Marc Augé — em seu livro Não-lugares, de 1995 — cunhou o termo "não-lugar" para se referir a lugares transitórios que não possuem significado suficiente para serem definidos como "um lugar”. Por exemplo, um quarto de hotel, aeroporto ou supermercado (informação tirada do Wikipedia, mas daquilo que me lembro do livro é basicamente isso mesmo). Bem, apesar de entender o ponto levantado pelo francês, discordo com veemência. No meu caso, é amor desde criança.
Os aeroportos, antigamente, eram como grandes rodoviárias: sem graça, sem personalidade. Nas últimas décadas, porém, isso tem mudado. Primeiro ponto de contato de milhões de turistas com uma cidade, tais equipamentos têm sido alvo da atenção de governantes e empresários. No Brasil, ainda temos casos tímidos de avanços no setor, como o caso do Galeão, no Rio; Guarulhos, em São Paulo; e JK, em Brasília. Tais cidades já contam com aeroportos que, em parte, fogem à regra dos demais irmãos espalhados pelo Brasil: uma maior atenção na experiência do passageiro, mais conforto e, sobretudo, um cuidado maior com a arquitetura e design do mobiliário e sinalização, entre outras áreas. Em todo caso, há muito chão a ser percorrido.
Saindo do Brasil para o mundo, ninguém ganha do aeroporto Changi, em Cingapura — Sudeste Asiático. Em 2017, a base de operações da (também super premiada) Singapore Airlines foi eleita, pela quinta vez consecutiva, como melhor aeroporto do mundo (Dubai chora). Em 2016, quase 59 milhões de passageiros transitaram pelos terminais (um aumento de 6% em relação ao ano anterior). O número impressiona por conta da concorrência de cidades como Doha (Catar) e a já citada Dubai (Emirados Árabes Unidos), que têm crescido como polo de concentração de voos para a Asia. Quem sustenta os números positivos do aeroporto de Cingapura são, principalmente, os enormes mercados representados pela Índia e China. O Brasil tinha um voo da Singapore até outubro de 2016 (com escala em Barcelona, na Espanha), mas a companhia cortou a rota alegando baixa demanda.
Mas o que torna Changi tão especial? Bem, além de ter todas as comodidades de um aeroporto intercontinental de luxo, os visitantes apontam detalhes, como a abundância de luz natural nos terminais, a limpeza e até mesmo o cheiro de flores que inunda o local. Os administradores parecem empenhados em manter a clientela feliz mesmo com pequenas coisas, como máquinas de massagens gratuitas, balinhas na tensa hora de apresentar o passaporte na imigração e wi-fi (que funciona mesmo) de graça. E caso o viajante esteja sem notebook ou celular, há simplesmente 550 computadores espalhados pelos terminais para uso sem custo algum.
Se Deus mora nos detalhes, ele parece reinar em Changi. Lá, há uma enorme estufa repleta de borboletas (são mais de mil espécies no local), onde o passageiro pode se sentir em uma verdadeira floresta dos trópicos (essa experiência eu dispenso pois, além de pânico de avião, eu morro de medo de, RÁ, adivinhem: borboletas). E sabe onde está o mais alto tobogã de Cingapura? Lá mesmo. Fica no átrio central do terminal 3 e tem altura de quatro andares. E vale para adultos também.
Tem uma escala demorada em Cingapura? Não é problema: o aeroporto oferece dois tipos de city-tour pelos principais pontos turísticos da cidade. Sim, de graça. O aeroporto também oferece dois cinemas com programação 24h por dia, inclusive blockbusters e filmes recentes. Nem precisa botar a mão na carteira. Quer dar umas braçadas ou apenas relaxar? Por aproximadamente R$ 50 é possível passar o tempo em uma piscina instalada no terraço de um dos terminais.
Mas a pérola de Changi ainda está sendo lapidada. É prevista para o primeiro semestre de 2019 a conclusão da “Jewel” (Joia). O espaço será uma imensa estrutura toda em vidro com uma enorme cachoeira (40 metros de altura) bem no meio. Os usuários terão a sensação de que a água vem do céu. Com direito a show de luzes de noite. Como não poderia deixar de ser, o espaço terá muito verde, além de área de compras e restaurantes de luxo (aliás, luxo é o que não falta em Changi). O ar futurista será garantido pelo monotrilho que transportará passageiros entre os terminais e passará bem no meio da estrutura. (Atualização: a Jewel foi inaugurada em abril de 2019. E Changi, para variar, foi eleito novamente o melhor aeroporto do mundo).
Ainda não conheço Cingapura, mas a experiência de passar por esse magnífico aeroporto certamente conta muitos pontos para incluir a cidade asiática no rol de futuros destinos. Se possível, já com a Jewel em funcionamento.