Doses curtas #03
Na minha volta da mais recente viagem à Itália, o voo calhou de ser bem no dia de meu aniversário. Tentei fazer o truque da galinha morta — ou seja, lançar a informação como quem não quer nada — no check-in da TAP Portugal, e tentar um upgrade. Rolou nada, gastei meu belo sorriso à toa. Mas pelo menos as comissárias foram fofas e “roubaram” umas mini-garrafas de álcool da classe executiva e me deram de presente (parece que adivinharam meu presente favorito). Eu estava megagrogue dos remédios e lembro que quase babei um pouco na hora de agradecer. Gross.
Como já tenho muitos anos carregando nas costas o medo de voar, sei mais ou menos as quantidades e horários que devo tomar a medicação para controlar a ansiedade. Mas uma vez estava tão panicado, mas tão panicado, que comecei a tomar o remédio como se fosse jujuba, um atrás do outro. Resultado: fiquei altamente com medo de morrer de overdose, ali, a 12 mil pés de altitude. Não preguei os olhos um segundo sequer. Eu certamente estava a visão do inferno, com feições amolecidas/abobalhadas, mas completamente alerta.
Obs.1: Não quero, com esse blog de cunho irônico, fazer apologia ao uso indiscriminado da medicação. Se você sofre com o pavor de voar, em maior ou menor grau, aconselho que procure um psiquiatra com quem você possa conversar sobre a possibilidade de uma medicação paliativa. Ou, quem sabe, um terapeuta, para ajudar a descobrir a causa do pânico e trabalhar isso. Tem gente que consegue. Já fiz aqui no rivotravel uma matéria sobre a importância de se procurar ajuda médica — leia clicando aqui.
Obs.2: E nunca, nunca, nunca deem remédio de uso controlado para outra pessoa.
A menos que essa figura esteja com você a doze mil metros de altitude, falando pelos cotovelos, em um voo a trabalho num bate-volta saindo bem cedinho de Salvador para Congonhas.
Com f*cking conexão em Vitória.
Não tive dúvidas: “Amiga, você está um pouco estressada. Toma aqui um remedinho”.
Tiro e queda.
Mas a queda foi brutal. Duro foi ter de arrastar a moçoila pelo aeroporto de Vitória. E esbofeteá-la no taxi em direção ao restaurante chique onde seria a coletiva.
Colega de trabalho tá aí pra isso. Beijos, Mari (não disse qual).