Viajo amanhã: SOCORRO — São Paulo 2023: Episódio IV (Volta)
E eis que chega a fatídica véspera de minha viagem de volta de São Paulo a Salvador.
Mas, na verdade, essa jornada começou na sexta passada.
Uma crise de sinusite acabou fazendo com que eu tivesse que adiar a volta. Uma vez, também voando no mesmo trecho, na hora do pouso na capital baiana, eu comecei a sentir uma dor tão grande na cabeça, mas tão grande, que eu achei que estava tendo um AVC. Juro! Foi horrível. Do aeroporto fui direto pro hospital (de táxi, que também não era pra tanto, pra ir de ambulância) e o diagnóstico logo veio: sinusite. O médico disse que provavelmente a crise veio por conta da mudança de altitude e pressão na hora do pouso. A cereja do bolo veio com um amigo, um renomado médico, que me mandou o seguinte relato por mensagem, quando soube que eu tinha adiado a volta: “Não pode viajar com vias aéreas congestionadas. Tem gente que perde a audição. A pressão do ouvido normalmente sai por um canalzinho que liga o ouvido médio à boca. Se o canal estiver entupido, a pressão sobre o tímpano não vai se dissipar por esse canalzinho e você pode ter lesão do tímpano. Um amigo perdeu a audição parcialmente por isso. Numa dessas rompe o tímpano”. Temeroso e fiel à medicina que sou, acatei.
Liguei para a Gol, expliquei a situação, mandei por e-mail o atestado do médico e a atendente, muito fofa, prontamente cancelou meu voo e transformou o valor integral em um crédito a ser usado em até um ano.
A parte ruim (ou ruim plus master). Meu marido não tinha como cancelar a volta, por conta do mestrado, e voou sem mim. Quase implorei pra ele ficar uns dias a mais até eu melhorar da sinusite. Como vou me autoguiar trôpego pelo aeroporto, completamente dopado, e chegar até o portão de embarque? Quem vai me dar apoio psicológico no avião. Ok, ok, já voei muito com medo e sozinho, e sempre consegui.
Aí começa a piração. E se o avião dele cair (não caiu)? Vou ficar viúvo e desesperado? E se meu voo cair? Ele vai ficar viúvo e desesperado? Melhor seria sempre voar juntos? Assim, se algo der errado, vão-se logo os dois? É até meio romântica a cena (credo).
Pelo menos mandei por ele uns cristais que comprei pra ele e para minhas sogras. Como estávamos sem bagagem para despachar, já estava nervoso achando que a segurança do aeroporto iria barrar, achando que possivelmente poderíamos sequestrar o avião munidos de ameaçadoras rochas (elas eram bem pontudas e pesadas, fariam um estrago danado). Eu realmente estava estressado, quase mandando uma foto dos cristais para o chat da Gol. E quem é panicado sabe: qualquer estresse na véspera do voo já aumenta o medo de voar, uma coisa puxa a outra. Bem, agora pelo menos ele levou na bagagem (e não foi barrado). Uma agonia a menos.
(Detalhe: abro o Youtube no celular e qual é o primeiro vídeo sugerido? Um sobre o acidente dos Mamonas Assassinas? Por que tudo, nessas horas, vira um sinal divino para desistir da viagem?).
Ok, passagem desmarcada, hora de comprar outra (caríssima, pois assim em cima da hora os preços sobem para a estratosfera). Acabei pegando uma mais cara e saindo de Campinas, mas pelo menos não tinha conexão como na opção um pouco mais barata. Como meu maior medo é aqueles momentos antes de entrar no avião, a espera até o fim do embarque e a decolagem, pra mim voo com conexão é sempre pior, pois os momentos de pavor são em dobro (ou triplo, a depender do número de conexões).
Claro que já marquei o assento na primeira fileira. Como na vinda paguei a mais pela fila um, para dar mais conforto à minha mãe, notei que meu voo foi mais tranquilo. Tenho 1,86 metro de altura e não ter aquela sensação de ficar espremido (nas demais fileiras) foi muito positivo.
Só que detalhe: o voo sai de Viracopos, em Campinas. Ou seja, lá vou eu pegar estrada em um ônibus (a Azul fornece gratuitamente). E com aquele pensamento na cabeça segundo o qual é muito mais perigoso morrer numa rodovia do que voando. Ótimo conselho nessas horas, não?
Apesar de tudo, estou estranhamente tranquilo. Minha irmã e sobrinha que moram em Campinas ficaram de dar um pulo lá no aeroporto para me dar um beijo (ai, Jesus, o último beijo de despedida?). Sei que muito provavelmente vou segurar na mão da pessoa ao lado no meu assento. Mas não tô nem aí, há anos abandonei essa coisa chamada vergonha. Talvez avise minha vizinha ou vizinho de fileira de meu medo. Ou é possível que pegue “no susto” mesmo.
A mala? Desde ontem já está sendo feita. Por “sendo feita” entenda “as coisas estão sendo jogadas displicentemente nela”. Não tenho paciência nem conhecimento de como preparar uma mala com perfeição, ao contrário de meu marido, que é capaz de fazer caber uma cabra adulta dentro de uma malinha de bordo. Arrumar bagagem é sempre estressante, né? Não é por nada que chamam pessoa chata de “mala”.
Fico agora mentalizando: “as empresas aéreas brasileiras são confiáveis”. E são mesmo. Nervoso deveria estar se eu estivesse indo viajar com algum companhia com altos índices de acidentes. Deus que me free.
Vai dar tudo certo. Amanhã estarei em minha casa, na minha cama, no calor de Salvador (eita, disso não tenho saudades, não).
Mas é como dizem: não há nada como nossa casinha. E não é meu medo que vai me separar dela. Até porque os preços de aluguéis estão caríssimos em São Paulo. Melhor tomar o remedinho, fazer minhas orações (e nem religioso sou, mas nessas horas…) e encarar o danado do avião de frente.
Este foi o Episódio IV de uma série de postagens sobre minha viagem para São Paulo neste ano de 2023. Recomendo me acompanhar no Instagram, pois devo dar mais novidades por lá — em tempo real!
Para conferir o Episódio I, no qual eu conto dos vários pensamentos e sensações que me ocorreram no momento em que comprei as passagens desta viagem, é só clicar neste link aqui.
Para acessar o Episódio II, em que conto sobre a véspera da viagem, clica neste link aqui.
No Episódio III eu conto como foi o voo de ida! Para ler, clica neste link aqui.
E fiquem de olho nos próximos episódios. Terei já voltado para Salvador, certamente com uma boa história para contar!