Viajei: SOCORRO — Campinas-SP nº① 2023: Voo de volta
Ok.
Hora de comprar o voo de volta. Vou pesquisar preços e tem um voo na quinta e um mesmo voo no domingo. Mesmíssimo valor. Tenho disponibilidade para voltar nos dois dias. Qual critério usar? Par ou ímpar (eu comigo mesmo)? Pois é aquela coisa: parece a Escolha de Sofia (pra quem viu o filme, sem spoiler). Os horários, companhias e os preços são exatamente iguais. E agora? Vai que eu opto pelo dia “errado”? Pode ser que um dos dois voos esteja fadado a cair. Nunca se sabe.
Tive de comprar meu trecho Campinas — Salvador, de volta pra casa, com esses pensamentos nada positivos. Tanta indecisão me levou a adiar a compra, pois tudo que a gente deixa pra amanhã fica mais fácil, ao contrário do que diz a sabedoria popular. No dia seguinte, quando vou ver, surpresa! Um deles estava mais barato! Sinal divino? Pois foi assim que interpretei. Passagem comprada. Quinta-feira era o dia D. Sinto que foram os deuses me guiando.
Mas nem tudo é céu de brigadeiro. A data da viagem vai se aproximando e os sintomas começam. Vamos ao diário (tudo devidamente anotado, claro, pois sou jornalista de formação e exercício e tenho compromisso com a realidade dos fatos).
Domingo: intestino revira.
Segunda: dor de cabeça e tontura.
Terça: insônia.
Quarta: dor nas costas. Intestino no modo montanha-russa das mais radicais.
Na véspera, check-in online no aplicativo da empresa. Sem querer, pulo a parte do “preencha os dados do contato em caso de emergência”. O quê? Nããão! Pois fecho o aplicativo e reabro, começando tudo outra vez. Afinal, tenho de colocar lá o nome e telefone de meu marido, conferindo número a número para ver se estava tudo OK. Vai que acontece algo, não é? Se bem que o celular de Rafa vive no silencioso e ele nunca atende quando a chamada é de um número desconhecido, então em caso de acidente é bom o psicólogo da companhia aérea tocar a campainha e dar a notícia olho no olho ao viúvo.
Check-in feito, hora de olhar a previsão do tempo para Campinas (decolagem) e Salvador (pouso). Campinas, chuva. Salvador, sol. Sensação agridoce. Acho que prefiro decolagem no sol e pouso na chuva. Na verdade o ideal mesmo, pra mim, seria sol em tudo. Aliás, o melhor seria teletransporte. O desenho animado dos Jetsons me prometeu isso na infância.
Na véspera, Rafa manda mensagem empolgada: “amanhã vou te ver!”. Penso comigo mesmo: será que vai mesmo? O destino (e eu nem acredito nisso) prega peças.
Na hora de me servir para o jantar na casa de minha irmã (última ceia?), sujo o punho do meu casaco. Campinas estava gelada e eu, bom baiano, não tirava meu casaco pra nada. Olho para a mancha e imediatamente penso: será que é um sinal? Um péssimo sinal, na verdade. Fonte? Vozes da minha cabeça. Decido deixar pra lá. Maluquice tem limite. Mas fico matutando sobre a mancha e um possível desastre enquanto como frango assado com batatas. De sobremesa, unhas. Vai chegando o dia do voo e elas ficam minúsculas, todas roídas.
Ansiedade batendo no teto, resolvo postar no stories do Instagram do rivotravel. Dividir minhas angústias. Dizem que isso é terapêutico. A seguidora Mariana Coelho dá uma dica (que no dia seguinte seria comprovada como excelente). Na hora do nervosismo — no meu caso, na decolagem — é bom escolher escolher um tema, como animais, marcas de carro, flores ou outro qualquer e tentar, mentalmente, achar palavras daquele universo, começando com a letra A, depois B, depois C, e por aí vai. Por exemplo: elencar animais com as letras do alfabeto (ariranha, andorinha, aranha etc). Anoto mentalmente a sugestão.
Novos comentários surgem no instagram do rivotravel. “Você tem viajado muito”, dizem (dizem = duas pessoas rs). Pois é, cara leitora, caro leitor. Depois de uma pandemia enlouquecedora (para todos) e cinco anos sem voar, agora liguei o modo turbo e ninguém me segura. Onde encontro pouso, (estadia de graça, de preferência), lá estarei indo. Tava com saudades. Não de voar, mas de ver o mundo fora das paredes de meu apartamento. Até pra missa de sétimo dia estou indo. Se for em outra cidade, melhor ainda. Posso odiar avião, porém amo viagem.
Na noite anterior, antes de dormir (já com um remedinho na cabeça pra acalmar os nervos), vou ver os stories de minha influencer favorita (@nocasomila). Ela começa a relatar que o voo no qual estava horas antes quase não pousou em Recife. Estava caindo o maior pé-d’água por lá e a aeronave teve de ficar dando voltas em cima da cidade esperando um bom momento para descer (e o combustível indo embora…). Aflição! Como a própria Mila diz: tá joia.
Alarme para 7h. Acordo 5h24, claro. Tem como dormir bem antes de pegar um voo?
Chega à minha mente o sonho que tive nas poucas horas de sono. Imagens randômicas brotam do cérebro. Especulação imobiliária em Salvador. Amigos. Espera em um restaurante em Salvador que na verdade não existe. Eu fatiando kani em pedaços pequenos. Corto o dedo, mas não sangra.
Aí, já acordado, começo a pensar: será que a ausência de sangue significa que ficarei seguro? Ou meu sangue já foi todo embora e eu "fui dessa para a melhor?
Vejo maus presságios em todo lugar. Tento “negociar” com minha mente maluca. “Sá, esses pensamentos negativos acontecem antes de todos os voos. E sempre dá tudo certo. Por que esse seria diferente?”. Mas sei lá. Vai que é diferente. Mas nunca é. Mas…
Aproveito que acordei mais cedo para escrever uma cartinha para minha irmã que me hospedou em Campinas. Gosto de fazer isso. Ao terminar a carta fica um gostinho estranho: será que é uma despedida eterna? Credo.
Sol nascendo e a vontade de fumar chega forte. Foco no mais importante: evitar dar umas tragadas para que a sinusite não ataque durante o voo (a diferença de pressão é terrível pra isso). Já tive uma crise braba a 12 mil metros de altitude e achei que estava tendo um AVC. Melhor substituir o cigarro por mais um remedinho.
A pessoa que vai me levar ao aeroporto chega. Uma mulher! Adoro. Homens, vocês geralmente conseguem ser muito tóxicos (gays inclusive). A viagem até o aeroporto de Viracopos é agradabilíssima. Papo vai, papo vem, descobrimos ter mil gostos e pensamentos em comum. Até abraço teve no final. Viramos melhores amigas.
Ah, me segurei tanto, mas no final acabei cedendo ao cigarrinho. A ansiedade tava batendo em Plutão. Após as santas baforadas, sigo em direção ao terminal. Chuva bem fina caindo. Bom sinal, nada de tempestade.
Passo por uma Starbucks. Digo sem problema, para desespero dos refinados por um espresso: amo os cafés gelados da Starbucks (e também o espressos italianos autênticos). Aproximo-me da atendente e peço um frappucino enorme, com leite sem lactose. Enquanto ando cambaleante até o portão de embarque me equilibrando com uma mochila do tamanho de um canguru nas costas, arrastando uma mala mais pesada que vinte cabras e segurando o copo do café, me pergunto: será que ela usou mesmo leite sem lactose? Era só o que me faltava o avião se preparando para decolar e meu pavor de avião ser somado ao intestino se revirando pelo leite derramado esôfago adentro.
Bem, sobre o voo? Sobre o voo mesmo, sugiro dar uma olhada no vídeo do Instagram do rivotravel. E também não percam na próxima semana o fim dessa viagem, que foi coroada com uma visita à cabine de pilotos do avião.
Beijos, abraços, apertos de mão e até a próxima viagem. Que definitivamente não será a última.
Esta foi minha viagem de retorno para Salvador, mas tem relato aqui no site de minha viagem de ida, Salvador–Campinas — clica aqui para ler! Fiz alguns videos desta viagem e coloquei lá no Instagram do rivotravel — vão lá ver!