Primeira fileira: lugar favorito de quem odeia voar?

Em minha longa carreira como panicado (já são 14 anos), em algum momento percebi que viajar na primeira fileira do avião me trazia uma certa tranquilidade. Geralmente as empresas cobram um valor a mais por ela. Mas, para mim, são vários os benefícios, a começar pelo embarque, que muitas vezes é preferencial. Sei que tem panicado que gosta de adiar ao máximo a entrada no avião. Na teoria, sou assim também. Mas aquela marcha lenta no corredor de acesso à aeronave me deixa super nervoso, e como só viajo sob efeito de remédio, tudo piora. E sabemos que entrar por último significa disputar espaço para a bagagem de mão.

 
 

Outro ponto positivo é ter mais espaço para pernas. Detalhe: tenho 1,86 metro de altura. Viajar espremido me deixa ainda mais tenso. Nada como poder se esticar um pouquinho mais. E em alguns voos o assento do meio é bloqueado (ano passado viajei com a Latam para Brasília e era assim), o que significa mais conforto, sem precisar brigar pelo apoio de braço que separa as poltronas — cada vez mais estreitas, vale ressaltar.

Além disso, estar pertinho dos comissários me traz uma sensação de paz, de saber que eles e elas estão ali do lado para qualquer situação tensa. Eu logo que embarco aviso que sofro de aerofobia, então acabo recebendo uma atenção especial da tripulação — e quando ela é em parte ou toda brasileira eu noto que são ainda mais amorosos. No meu último voo internacional, da companhia espanhola Air Europa, um comissário baiano toda hora vinha perguntar como eu estava, se precisava de algo, e em um momento conversamos bastante. Como eu estava viajando sozinho, bater papo com alguém sempre distrai a mente. E eu fico pensando: como a tripulação passa boa parte do tempo nas galleys (aqueles espaços onde guardam as bebidas, onde ficam os banheiros e as saídas do avião), acaba que dão mais atenção a quem está sentado perto delas. Então, sentar na primeira fileira é ótimo também nesse sentido.

E já que falei em saída da aeronave, nem preciso dizer que escolher um assento logo na fila da frente é fundamental em caso de uma emergência, né?

Ao longo desse quase sete anos de rivotravel, fui percebendo que alguns leitores também amam a primeira fileira. Conversei com quatro panicadas sobre o assunto.

quatro entre quatro panicadas preferem a primeira fileira

Uma delas é a paulista (e mineira de coração) Juliana Carvalho, que voa muito a trabalho. “Em uma dessas viagens, conseguimos um upgrade para as primeiras poltronas do avião, e era uma viagem longa, de Recife para São Paulo, e mesmo sendo uma viagem longa eu me senti extremamente mais tranquila e relaxada”, conta. Ela ressalta que, além do tratamento completamente diferenciado desde a hora do embarque até o pouso, ter mais espaço em um ambiente naturalmente claustrofóbico é muito bom, principalmente para quem já fica ansioso pelo medo de voar. “Inclusive cogito pagar do meu bolso se for necessário, para quando for viagem de trabalho, viajar nesses espaços”, diz.

Essa questão da claustrofobia é real. No dia a dia não sofro tanto desse mal, mas em um avião, aquele aperto das poltronas, tanto na largura quanto no pouco espaço para as pernas, deixa tudo pior. Quem concorda comigo é a carioca Anna Costa. “O meu medo no avião tem mais a ver com claustrofobia do que com o medo da queda em si. Eu tenho medo de ter alguma emergência médica ou algum ataque de ansiedade e não conseguir amparo. Acho que estar na primeira fileira do avião me ajuda porque eu fico mais confortável e, por consequência, mais calma. Também tenho mais liberdade para ir e vir ao banheiro ou pegar água, por exemplo”, afirma a panicada. Ela observa ainda que se a fileira não for a primeira, mas da mesma forma tiver mais espaço para as pernas (os espaços premium, como muitas empresas chamam), nesses casos ela também fica menos tensa. “Já recebi upgrade da companhia e também me ajudou muito. (Sinto) a mesma sensação de maior tranquilidade que a primeira fileira passa, pelo maior espaço e mais conforto”, conta a carioca.

 

Anna Costa no Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Ela adora ter mais espaço para as pernas no avião e também ama Carnaval (a foto foi feita durante a festa de 2020, quando Anna deixou um bloco para buscar um banheiro no aeroporto)

 

A paulista Giovanna Velloza é tão fã das primeiras filas e das cadeiras com mais espaço que já chegou a optar por outro voo ao perceber, na hora da compra do bilhete, que tais lugares estavam todos ocupados por outros passageiros. E de que modo isso a ajuda a lidar com o medo de voar? “Muda a experiência de voo. Ter crise de pânico e ainda em um lugar apertado com certeza é bem pior do que ter medo em um lugar mais confortável. Fico tensa com medo de ter uma crise e com uma tensão extra por não estar confortável em decorrência da falta de espaço”, relata Giovanna. Ela ainda acrescenta que tem a sensação de que, bem lá na frente, o avião balança menos. “Não sei se isso é real mesmo ou só uma percepção individual. Além disso, saber que a tripulação está mais próxima de mim, me deixa mais calma”.

Uma rápida observação: alguns tripulantes, de vários voos que peguei, já me disseram que a área central da aeronave é a que menos “sofre” com a turbulência. Mesmo sabendo disso, eu também prefiro viajar na primeira fileira. Curioso que anos atrás, antes de migrar pra “turma da frente", meu “lugar da sorte” era na penúltima fileira, do lado direito, no corredor. Ou seja, lá no fundão, onde, em teoria, a sensação de turbulência é mais acentuada. Mas não to nem aí, vou continuar optando por sentar na cadeira 1C (a nova favorita), sempre que puder.

Já que fiz essa breve pausa nas respostas das entrevistas, aproveito para dizer que nem tudo são flores. Com a proximidade com a galley, a primeira fileira está mais propensa ao vai e vem de passageiros rumo aos banheiros e também às conversas da tripulação. Como nesse momento abaixo, uma cena de uma avaliação que fiz de um voo doméstico que peguei ano passado com meu marido — desta viajem aqui.

 

“Moça, não diz isso durante um voo…”

 

Para quem não viu a série Lost, um spoiler: a trama gira em torno de passageiros em uma ilha misteriosa que sobreviveram a um terrível acidente de avião. Nada legal ser lembrado dessa história quando se está dentro de uma aeronave, né?

Após a breve explicação, voltamos para os relatos das panicadas.

Juliana Carvalho conta que ver de perto os comissários também a acalma (“se eles estiverem calmos, óbvio”, diz, entre risadas, a paulista-mineira). Quem também gosta de ficar atenta à tripulação é a pernambucana Mari Lisboa. “No caso de não existir outra alternativa a não ser os assentos normais, tento sempre ir no corredor, assim fico o tempo inteiro olhando pra frente e pra trás tentando identificar algum movimento suspeito”, diz. Detalhe: ela respondeu em pleno voo às perguntas que enviei, sobrevoando algum país europeu (ela está de férias no “velho continente”). Da rotina que no passado exigia viagens aéreas semanais, ela passou a usar alguns “artifícios imaginários” (como ela mesma define) para se sentir mais segura, como escolher as primeiras fileiras. “Tal artificio me dá até hoje uma sensação maior de segurança por estar perto dos comissários e poder perceber caso eles pareçam nervosos ou apreensivos”, conta.

Mari prossegue: “voar num assento normal, para mim, por si só já é um gatilho para a minha ansiedade, que começa desde a hora de emitir a passagem. Sou daquelas que checa as condições climáticas no intuito de tentar driblar qualquer adversidade”, afirma a pernambucana, que certamente vai gostar de ler a matéria Saga pré-embarque: quando o pavor de avião começa antes da decolagem.

Assim como as quatro panicadas entrevistadas, também acho primeira fileira puro amor. Quem acompanhou a série de viagens que fiz em 2023, quase sempre nas primeiras fileiras com mais espaço, sabe do que eu estou falando — se não sabe, olha lá no Instagram do rivo, ou busca aqui no site! Minha dica para quem sofre de aerofobia é, no próximo voo, optar, se possível, por pagar um pouco a mais por esses assentos.

E depois me conta o que achou.

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