O medo aumenta quando alguém famoso morre em desastre aéreo?
Olá, panicadas e panicados, como vão? Refleti muito antes de começar essa matéria (aliás, sempre penso bastante na hora de fazer qualquer texto aqui para o site. Responsabilidade jornalística, né?). Como vocês provavelmente já sabem, nessa segunda-feira, 27 de maio, morreu o cantor Gabriel Diniz em um acidente aéreo em Sergipe. O artista ia de Salvador (BA) para Maceió (AL). No domingo, véspera do acidente, ele chegou a gravar um stories em sua conta no Instagram de dentro do avião, quando estava a caminho de Feira de Santana (BA), onde fez show.
Particularmente não sou muito afetado com notícias de famosos que morrem em acidentes. Um dos motivos é que, muitas vezes, esses desastres ocorrem com aviões pequenos, tipo monomotor, bimotor ou jatinho particular. E taí uma certeza que eu tenho na vida: jamais vou entrar em um desses. Me tremo de medo. Mas resolvi fazer essa matéria pois sei que muitas leitoras e leitores deste site relatam ter o pacto com o pânico de voar renovado quando uma famosa ou famoso morre dentro de um avião.
O monomotor que levava Gabriel Diniz, da fabricante Piper Aircraft, era de propriedade do Aeroclube de Alagoas. O modelo tem capacidade máxima para três passageiros mais o piloto. O aparelho que sofreu o acidente estava apto apenas para fazer voos de treinamento; ou seja, a aeronave não tinha autorização para operar como táxi aéreo. Mas nós, meros mortais que não fretamos avião pequeno e nem temos condiçõe$$ para ter um jatinho particular, podemos ficar um pouco mais sossegados: aviões comerciais, que voam nas principais companhias aéreas, seguem um super mega ultra rígido código de segurança, que inclui inspeções e manutenções regulares. A indústria aeronáutica é de ponta, temos sempre de ter em mente isso. Lógico que acidentes acontecem, mas estamos bem mais seguros a onze mil metros acima do nível do mar e quase 900 quilômetros por hora do que na calçada de qualquer cidade brasileira, podem acreditar.
Mas se surgir aquela oportunidade única de ir para uma ilha remota e linda cujo acesso só é possível por meio de um avião bem pequeno, nem tudo está perdido. O site especializado AeroIN publicou nesta terça-feira (28) uma matéria bem bacana sobre o Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB). Com o sistema, que pode ser usado por qualquer pessoa, é possível, pesquisando pelo prefixo da aeronave, verificar informações importantes, como tipo de voo autorizado, categoria de registro, status da operação e situação de aeronavegabilidade. Trocando em miúdos, dá para ter ideia se aquele avião está com tudo “nos conformes”. Você pode ler a matéria do AeroIN aqui ou acessar diretamente o RAB aqui.
Voltando ao tema desse texto, uma coisa é mais que certa: famosos e não-famosos morrem todos os dias. Mas se a celebridade morre em um acidente de avião, aí é só acessar qualquer portal de comunicação e ler várias matérias sobre o assunto, algumas bem sensacionalistas. E isso mexe com o medo de muita gente. “As pessoas que têm medo de avião ou de voar geralmente são ansiosas e criam pensamentos catastróficos acerca das situações que, para elas, representam algum perigo”, explica a neuropsicóloga Paola Casalecchi, cofundadora da VOE - Psicologia para Voar, empresa especializada no estudo e tratamento da fobia de voo. Ela explica que, quando acontece algum acidente aéreo, principalmente envolvendo uma figura pública, é natural que algumas pessoas sejam impactadas pois, como em qualquer situação não esperada, o acidente envolve o objeto do medo. “A questão é que, como o avião já representa um perigo para essas pessoas, o acontecimento ganha uma proporção maior, pois elas percebem não somente a perda da pessoa como se imaginam na situação e dão um peso maior a este episódio do que se comparado à mesma perda, porém em um meio de transporte que, para elas, não seja ameaçador, como um carro”, observa Paola. Ela dá como exemplo a morte do cantor, ocorrida ontem. “Se hoje o Luciano Huck tivesse morrido em um acidente de carro, ainda assim a pessoa com medo de voar teria dado uma atenção maior para o caso de Gabriel Diniz, mesmo ele não sendo tão famoso quando Luciano Huck, em função do objeto do medo”, compara a neuropsicóloga.
Quem também nos dá informações sobre o assunto é João Ilo, psicólogo e doutor em Teoria e Pesquisa do Comportamento pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Segundo o profissional, que integra o projeto Sem Medo de Voar, desastres aéreos com pessoas famosas chamam a atenção porque são muito divulgados e supostamente reforçam a possibilidade de acidentes, aumentando a sensação de que é melhor evitar voar. “Como o avião é uma ‘novidade’, ou seja, não é algo tão frequente em nossa rotina, ganha cada vez mais a conotação de risco. O efeito seria menor se o acidente fosse de carro. Simplesmente porque estamos andando de carro o tempo todo, portanto estamos habituados e o medo de carros não é tão intenso", afirma.
E você, cara leitora ou leitor? Seu medo aumenta quando um famoso morre em acidente de avião?