Moda e aviação: uma parceria de longas datas
Nesta terça-feira, 29, morreu o estilista francês Pierre Cardin, aos 98 anos, em um hospital próximo a Paris, na França. A causa da morte não foi revelada. Ele era considerado um criador vanguardista, um dos responsáveis pela retomada da alta costura após a Segunda Guerra Mundial. Também teve seu nome ligado ao prêt—à–porter, com a produção em série das peças, e também responsável pelo lançamento de coleções para homens e mulheres, sem distinção. Além da moda, ele possuía negócios nos ramos da hotelaria, perfumaria e de restaurantes, e fazia questão de administrar tudo isso.
Também merecem destaques suas criações para empresas aéreas, com coleções específicas para comissárias de bordo (homens eram raros na função em meados do século 20).
Como bem lembrou uma matéria do início deste mês da Condé Nast Traveller, assinada por Shradha Shahani, os uniforme adotados nos anos 1940 eram bem particulares. Eram tempos difíceis, de guerra e pós-guerra, e às aeromoças cabiam roupas com clara inspiração militar, tudo sem muita graça. Mas o tempo voou e as viagens aéreas nos anos 1960 e 1970 viraram quase festas. Passageiros fumavam charutos chiques enquanto bebericavam champanhe e comiam rosbife servido em bandejas de prata. E as aeromoças se vestiam à altura, com cabelos que pareciam saídos de cabeleireiros. E os uniformes bem fashion, claro. “Não eram só os anos dourados da aviação. Eram os anos dourados da alta costura”, diz Shahani.
Vamos ver algumas das criações de Pierre Cardin e outros grandes estilistas para companhias aéreas?
PAKISTAN INTERNATIONAL AIRLINES (PIA)
Em 1966, Pierre Cardin foi convidado pela Pakistan International Airlines (PIA) para remodelar o uniforme das comissárias. Ele apostou em uma túnica, calças slim (mais rentes ao corpo) e uma dupatta (uma espécie de lenço) para cobrir os cabelos – vale lembrar que o islamismo é a religião mais presente no Paquistão.
UNION DES TRANSPORTS AÉRIENS (UTA)
Dois anos depois, em 1968, Pierre Cardin vestiu as aeromoças da UTA, uma empresa francesa incorporada décadas depois à Air France. O objetivo era rejuvenescer a marca. Adorei os bolsos com entradas redondas. Mas durou pouco. Em 1973, a UTA convidou o estilista André Courrèges para apresentar uma nova linha, e calças compridas foram introduzidas nos voos.
OLYMPIC AIRWAYS
Pierre Cardin estava com tudo mesmo no fim dos anos 1960. Um ano após assinar para a UTA, foi a vez da grega Olympic Airways estrear em suas estreitas passarelas (os corredores entre os assentos dos aviões) as criações do francês. O visual era bem chique e inspirado na corrida espacial que EUA e União Soviética travavam naqueles anos (foi em 1969 que o primeiro homem pisou na Lua). Os uniformes da Olympic levavam as cores da bandeira grega.
Em sites de vendas na internet também é possível encontrar canetas que a marca Pierre Cardin fez para algumas empresas aéreas, como a Singapore e a Tunisair.
AIR FRANCE
De Pierre Cardin para um conterrâneo (não tem como fugir, a França é mesmo o berço da moda no século 20). Em 1962, o estilista Marc Bohan, então à frente da maison Dior, desenhou esse super requintado uniforme para a Air France (para quem mais, não?). Mais Dior impossível!
BRANIFF INTERNATIONAL AIRLINES
Cansadas e cansados de uma elegância um pouco monótona? Babem então com essa explosão de cores proposta pelo italiano Emilio Pucci em 1965 para a empresa aérea norte-americana Braniff International Airlines. E aí? Um luxo ou dor de cabeça na certa? O pessoal de terra (aqueles que ficam no check-in, por exemplo) também ganhou guarda-roupas novo. A parceria foi longeva. Foram seis coleções, sendo a última lançada em 1974, quase uma década depois. Uma delas foi bem controversa e foi apelidada de “air strip” (algo como strip aéreo), pois a proposta era que as aeromoças fossem tirando peças ao longo do voo a medida que as necessidades mudavam (receber os passageiros, acomodar todo mundo, dar instruções em caso de emergência, servir as refeições, descansar etc). Olha só o vídeo promocional que foi feito na época. Hoje isso, graças a Deus, não passaria pelo crivo da empresa.
SOUTHWEST AIRLINES
Já que choquei com o vídeo de Pucci, vamos enfiar o pé no acelerador das loucuras. O que é esse look do início da década de 1970 (autoria do modelo desconhecida) da empresa dos EUA Southwest Airlines? Essa minissaia (ou shorts) não é para apelar para o fetiche masculino hétero por aeromoças? Meninas, por favor, comentem…
Vamos dar um salto temporal, caso contrário termino essa matéria só no próximo ano, ok?
EMIRATES
Desde 2009 as comissárias da Emirates vestem um modelo assinado pelo estilista Simon Jersey. Eu confesso que amo. As cores, as texturas, a leveza e a sofisticação do lenço, tudo muito simples e chique. Segundo o estilista, o conforto, sobretudo nos voos de longa distância, foi um dos temas que serviram de guia na criação. Os assistentes do designer viajaram com a empresa e observaram todos os detalhes de um voo e como um uniforme poderia ajudar no dia a dia de quem o veste. Todo o processo levou dois anos para ficar pronto, mas valeu cada dia, não acham?
ALITALIA
Em 2016, a Alitalia, que há décadas vive em crise econômica, lançou a nova linha para as comissárias. Assinada pelo designer Ettore Bilotta, era baseada em um famoso modelo usado pela empresa nos anos 1960. Era? Pois é, só durou dois anos. Gastando mais alguns milhões e contratando um nome de mais renome (Alberta Ferretti), a empresa italiana refez tudo menos de 24 meses depois. De fato o look de 2016 foi polêmico e as comissárias reclamavam de desconforto na hora de usar. E acreditem! As peças usavam materiais inflamáveis. Realmente, passou da conta. O “novo novo”, de 2018, é esse abaixo. Mais sóbrio com certeza. Só não gostei muito do detalhe que aparece nos punhos e na cintura. Me faz lembrar um cinto de segurança envolto na aeromoça.
HAINAN AIRLINES
WOW! Eu achei incrível o visual criado em 2017 pela designer chinesa Laurence Xu para a empresa compatriota Hainan Airlines. Não é à toa que o lançamento foi na Semana de Moda Outono/Inverno de Paris (cidade que também serviu como cenário para a campanha publicitária). A ideia de Xu foi unir elementos tradicionais da cultura chinesa com padrões ocidentais. Achei super lindo. Bom ressaltar que os casacos mais longos não são de uso dentro dos aviões.
DELTA
Em 2018, a Delta contratou o estilista americano Zac Posen para reformular o vestuário das comissárias e comissários de bordo. O resultado? Olha, odiei. Essa cor…ESSA COR! A última mudança no look da Delta tinha sido em 2006 e os executivos acharam por bem dar uma mexida. Na verdade a alteração no visual foi para todos os 64 mil funcionários da empresa (coitados…). “Eu quis levar o glamour de volta para as pistas e para os céus”, declarou Posen em 2018. Oh, céus…
Olha, eu poderia ficar horas escrevendo aqui sobre moda e aviação, duas paixões minhas. Quem sabe vira uma série do rivotravel?