Entrevista com a panicada #01

Hoje iniciamos uma nova série do Rivotravel: a de entrevistas com um panicado. Assim que lançamos o site, começamos a receber um monte de relatos de pessoas que também amam viajar, mas sofrem com o medo de avião. Isso tem sido, para mim, quase um tratamento terapêutico, perceber que não estou sozinho nesse mundo de pânico sem fim. Para abrir os trabalhos, conversamos com a servidora pública brasiliense Sandra Sobral, que é tão panicada que já pediu para tirar as malas do avião e desistiu de viagens minutos antes de decolar. 

 
Conversei com nossa leitora Sandra Sobral, que já passou por maus bocados por causa do pânico de voar

Conversei com nossa leitora Sandra Sobral, que já passou por maus bocados por causa do pânico de voar

 

Sandra é praticamente uma panicada de nascença. Quando ela tinha dois anos de idade, fez sua primeira viagem de avião. “Fiquei com tanto medo que evacuei nas fraldas a viagem inteira”, conta, relembrando, claro, os relatos que a mãe contou. Depois desse período, só foi viajar aos 25 anos, com o atual marido, na época namorado, mas de lá para cá continua morrendo de medo. 

Em dezembro de 2013, no pico de uma crise de nervos provocada pelo pânico, conseguiu resgatar, em cima da hora, as malas, e não entrar no avião. Ela estava com a família (marido e filhos) e já tinham pago um resort para passar o final de ano em Natal (RN), mas, na hora “H”, não foram. “Chegamos a despachar as malas e aguardar o avião. Quando chegamos perto dele, vi que era da Azul — muito pequeno se comparado aos da Gol. Eu tinha lido em algum lugar que os aviões menores eram mais instáveis e meu medo veio na hora mais forte ainda. Como eu já estava em processo de luto, com alguns problemas pessoais também, e, como sempre, o medo imenso, resolvi inventar para o pessoal do check-in que meu pai estava sofrendo um infarto e que eu precisava ir embora com urgência”, afirma a brasiliense. Foi um tal de corre daqui, corre de lá, walk-talk pra lá, walk-talk pra cá. Até que, finalmente, conseguiram resgatar as malas, que já estavam dentro da aeronave. “Meu marido ficou uma fera e não viajamos naquele ano. A sorte foi que consegui resgatar meu crédito junto à CVC e aproveitei no pagamento da viagem para Maceió”, revela.
 
Nessa viagem seguinte, para Alagoas, também com a família, Sandra estava, para variar, muito tensa e nervosa: mãos suando frio, palidez e por aí vai (sei muito bem o que é isso). Ela estava tão tensa, mas tão tensa, que quando o avião começou a taxiar na pista, chamou a aeromoça e pediu para o avião parar que ela queria descer. A comissária perguntou se era isso mesmo que ela queria. “Mas, como meu marido disse que eu iria descer sozinha e que ele iria viajar e aproveitar o resort com as crianças, eu acabei ficando no avião. A tripulação riu horrores da minha cara”, relembra. Além disso, ela também já desistiu, no ano passado, de uma segunda viagem que iam fazer para a casa da sogra, no Sul. O pânico foi tão grande que os familiares foram sozinhos e ela ficou em Brasília. 

 
Olha o sorriso no rosto de nossa panicada em Praia do Forte (BA), em 2009. Tão bom viajar, o chato é esse medo, né, Sandra? Te entendo muito

Olha o sorriso no rosto de nossa panicada em Praia do Forte (BA), em 2009. Tão bom viajar, o chato é esse medo, né, Sandra? Te entendo muito

 

Sandra conta que já fez várias terapias para tentar resolver esse problema, mas, infelizmente, nenhuma delas resolveu. “Dizem que isso acontece por uma série de fatores, mas, principalmente, porque sou muito ansiosa e gosto de ter sempre o controle das coisas”, analisa. Sempre que tem de voar, o pacote completo de um panicado surge:  crise de falta de ar, taquicardia, mãos super frias e sensação de terror e pânico. “E tenho que chamar as aeromoças para que elas falem algo para mim e me acalmem de alguma forma”, diz a servidora pública. No caso de Sandra, a ansiedade começa um mês antes e vai aumentando com a proximidade da data do voo. Nos dois dias anteriores à viagem, ela não consegue dormir absolutamente nada.  

E qual parte do processo é pior para Sandra? “Difícil dizer. Acho que tudo! Estar no aeroporto esperando é uma parte horrível, porque dá vontade de ir ao banheiro toda hora, vem o pânico e o desespero. Estar dentro do avião, antes dele decolar, também é pavoroso. E nos momentos de turbulência, então! Pra mim são os piores momentos. Ah! Na aterrissagem só tenho medo se o piloto fizer a gente sentir (o pouso). Tem uns bons, que vão descendo o avião devagar e a gente nem sente. Mas, quando sente, meu Deus! É terror total!”.

Eu te entendo, Sandra. E muito! 

E você, também tem uma boa história para dividir conosco? Conta para a gente!