Conheça o Couchsurfing: a rede que reúne pessoas que amam viajar
Uma das formas mais bacanas para conhecer uma cidade é estar perto de seus moradores. Para isso, o Couchsurfing, digo eu, continua imbatível. Trata-se, em linhas gerais, de uma rede social para viajantes. Funciona assim: o usuário abre uma conta no site, faz um perfil completo — com fotos, descrição da pessoa, lugares que já viajou, que filmes gostou, que livros já leu etc. A partir daí, já está apto para receber turistas ou pleitear um lugarzinho na casa de alguém. Ou então apenas se oferecer para tomar um café ou um drink com o viajante ou mesmo mostrar um pouco de sua cidade a ele. Há ainda encontros semanais de couchsurfers, nos quais se conhece gente do mundo todo, ou então fóruns nos quais os viajantes se apresentam e perguntam se alguém topa fazer algo, de conhecer a cidade a cair na balada. Eu acho um barato, e não estou falando apenas da gratuidade do serviço, não. Lógico que muitas das vezes queremos apenas flanar de forma anônima por um lugar novo — o que é ótimo também —, mas há certas viagens que queremos mais é ter essa “visão interna” de como é a vida naquela cidade e interagir com o povo local ou, por que não, outros turistas. Depois que você conhece alguém pelo couchsurfing, você pode deixar uma referência (positiva, neutra ou negativa) e explicar o motivo de tal avaliação. Isso ajuda a não cair em esparros: na hora de verificar se vai solicitar hospedagem na casa de alguém ou de receber gente em sua casa, é só dar uma olhada nas referências que constam nos perfis.
Minha primeira experiência com couchsurfing foi das mais engraçadas. Estava indo para Lisboa e, como não queria ficar em hostel — adoro conhecer gente local — acabei mandando pedidos de hospedagem para vários portugueses. Um deles me respondeu dando OK. Na hora combinada, foi me buscar na estação do metrô mais próxima da casa dele. Foi enorme minha surpresa quando ele cheguei no grande apartamento onde ele morava: éramos eu, ele e mais dois franceses, quatro belgas, dois italianos e uma garota da Sérvia. Acabei dormindo — razoavelmente bem, dadas as condições — de forma improvisada no corredor de acesso à cozinha. Ah, os vinte e poucos anos… Tudo é uma aventura. Uma coisa ótima de ter ficado lá foi ter me juntado com a turma da Bélgica. Eles estavam fazendo um road trip pela Europa e, como havia um lugar vago no carro, acabei conhecendo pequenas cidades perto de Lisboa. E como Portugal é bem pequeno, há muito o que se conhecer nos arredores da capital — que por si só já vale a viagem, claro. Hoje em dia eu teria perguntado se seria o único hóspede. Outros tempos, afinal! E tem como saber antes se o anfitrião disponibiliza um sofá na sala ou um quarto inteiro para você: é só conversar um pouco. São todos tão amigáveis e disponíveis em sua maioria.
Já passei por todos os tipos de casas: de mansões a casebres caindo aos pedaços — pense em um cenário de filme de terror (mas sempre recebido com carinho ♡). Já dormi em um celeiro adaptado para hóspedes lindíssimo, na Nova Inglaterra; e em uma antiga casa de pescadores de bacalhau (também reformada, maravilhosa, graças a Deus) na Noruega. Já dormi em almofadas no chão, em sofás ou em verdadeiros leitos matrimoniais em diversos países. Em comum em todas as minhas experiências — todas positivas —, a vontade de acolher viajantes e conhecer novas pessoas. Economizar grana é sempre bom, mas estar estar aberto a ser recebido de forma calorosa e ficar em contato com pessoas que abrem seus lares para receber desconhecidos não tem preço. Também já fiquei hospedado, nos EUA, na casa da mãe de um dos fundadores do couchsurfing — inclusive dormi no quarto que era dele! E olha que foi sem querer, só fui descobrir isso lá. A ideia do site nasceu quando um dos criadores do serviço (são quatro, entre eles o mineiro Leonardo Bassani) resolveu viajar para a Islândia. Como não queria ficar em hostel, acabou acessando o fórum de e-mails da Universidade da Islândia e mandando um alô para os estudantes, perguntando se alguém poderia hospedá-lo. De lá para cá, o couchsurfing juntou um monte de adeptos, muito apaixonados pelo espírito da coisa, assim como eu. A cada ano são cerca de 4 milhões de “surfistas” se hospedando em mais de 400 mil anfitriões cadastrados no site.
Algumas dicas: na hora de pesquisar um local para ficar, é bom dar uma lida detalhada nos perfis (quanto mais detalhado, mas engajado o usuário é no espírito do couchsurfing). Ver se a pessoa mora no centro, perto de estações de metrô e serviços como mercados e farmácia é sempre bom. Veja se o couchsurfer “combina” com você, se vocês têm interesses similares. Note também se ela oferece uma cama ou apenas um espaço para o viajante colocar seu saco de dormir. É bom também ver se a pessoa dá toalhas, lençóis e cobertas, ou até mesmo a chave de casa. Mandar um pedido personalizado é sempre de bom tom. Eu sempre faço um texto-base igual para todos (“Oi, meu nome é Salvatore, sou um jornalista brasileiro blá blá blá) e vou copiando e colando, mas sempre adicionando um toque individual (“vejo em seu perfil que você está aprendo português, podemos treinar um pouco” ou “nossa, você ama este filme? Eu também!”). Nada pior do que cair na casa de alguém com quem você não tem nenhuma afinidade. Afinal, muitas vezes o anfitrião vai querer conversar com você, se oferecer para cozinhar um jantar ou simplesmente tomar uma cerveja de noite, para saber mais de você e como foi seu dia.
Além do site, o Couchsurfing possui apps para dispositivos Android e iOS —importante dizer que um pouquinho de inglês será preciso para utilizar bem o serviço. Já tive excelentes experiências viajando e recebendo viajantes do mundo todo. Tá mais que recomendado!