Coleção de cartões de emergência
Desde que eu me entendo por gente sou apaixonado por aviões. Quando era pequeno, lembro de ter ficado fascinado com um coleguinha que tinha um colete salva-vidas (acho que da Varig) em casa. Aquela ideia nunca saiu da minha cabeça. Ter um pedaço de um avião em casa! Hoje, acho a ideia maluca, tirar um colete de dentro da aeronave.
Não sei como, já se vão muitos anos nisso, decidi fazer uma coleção daqueles cartões com instruções em caso de emergência. Sim, aqueles que ficam no bolsão da poltrona da frente, nos encarando por horas e horas. Comecei eu mesmo pegando dos voos que fazia, depois passei a pedir para familiares a tal recordação. Quando vi, já tava pedindo para amigos (ou amigos de amigos, vai saber). Não se trata bem de um ato ilícito, bom dizer. As companhias pedem gentilmente que eles não sejam retirados, mas não dizem que é ilegal — e não deve ser mesmo. Quem é que lê aquilo? Ainda mais se o avião já tiver caindo. Sei que as instruções em caso de emergência são importantes, mas é para isso que empresas as anunciam, com demonstrações dos comissários de bordo ou em vídeo, no início de cada viagem. E caso alguma coisa dê errado no voo, as aeromoças e comissários estão lá para orientar os passageiros. Por fim, sei que as empresas costumam repor sempre o material. Então tá liberado pegar cartões para o amiguinho aqui.
Nunca foi uma coleção organizadinha. No começo, até colocava post-it dizendo quem me deu, qual trecho voou etc. Mas a preguiça — e a cola fraquinha dos post-its, que sempre descolam — falou mais alto e parei de fazer isso. Também já perdi muitos, que foram ficando por aí nas minhas inúmeras mudanças de cidades (Brasília, São Paulo, Roma, Salvador mil vezes). Lembro que tinha vários exóticos, como da Groenlândia ou ilhas Fiji. Hoje, as centenas de cartões guerreiros que sobreviveram repousam candidamente em uma bela caixa ilustrada com um mapa-mundi (quer um destino mais legal que esse?). Ainda tenho vários exóticos. Adoro ver que as imagens sempre trazem passageiros com uma cara tão calma, colocando as máscaras de oxigênio ou escapando pelos tobogãs de forma serena. Realmente, deve ser um passeio no parque (só que não).
De quando em quando, gosto de abrir a caixa e ver o que já ganhei, ficar babando em cima da cria. Uns são mais desgastados pelo tempo. Outros são como novos. Eu tinha um amigo que morava na Austrália (um colombiano que conheci em Buenos Aires) e, como ele viajava sempre por motivos de trabalho, me abastecia com os preciosos presentes, enviados pelos Correios. A amizade acabou, por coisas da vida mesmo, e assim minha mina acabou indo embora. Mas outras chegaram e estão sempre me trazendo novidades — que às vezes levam anos até chegar em minhas mãos. Certa vez, uma amiga viajou pela Ryanair. A companhia é famosa pela economia, então inventou de transformar o cartão em um grande adesivo, que fica colado na cadeira da frente. Pois não é que ela tentou arrancar? Não conseguiu, é claro. Ficou a bela intenção. E uma foto do dito cujo.
Volta e meia alguém diz “viajei, mas não peguei o cartão para você, porque você certamente já o tem”. Não! Não façam isso! Cada modelo de avião possui o seu, personalizado. Além do mais, as empresas estão sempre remodelam o cartão — ou então alteram tudo, como no caso da Tam, que agora é Latam e mudou toda a identidade visual da companhia. Por isso, cartão nunca é demais. E, no futuro, essa “gordurinha” a mais pode ser útil para trocas na internet (sim, existe todo um comércio de vendas desse tipo de recordação na internet).
Por isso, caro leitor do Rivotravel, vocês já estão avisados: se quiserem me trazer um belo souvenir de sua viagem, nada de ímãs de geladeira ou camisas das cidades por onde vocês passarem. Aposte num belo cartão de emergência. Vai me fazer muito feliz. Ou então um belo postal. Mas isso já é assunto para outra matéria — oh, ela já foi escrita e pode ser lida aqui.